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Dólar continua em queda livre, indiferente ao novo IOF e ao BC

A elevação do Imposto sobre Operações Financeiros (IOF) para investimentos estrangeiros de curto e médio prazo, de 2% para 4%, não impediu que o dólar comercial fechasse em queda nesta terça-feira (5), a R$ 1,675 na venda. É a menor cotação da moeda estadunidense desde 2 de setembro de 2008, quando valia R$ 1,663.

Por Umberto Martins

O Banco Central (BC) tentou evitar a queda, intervindo duas vezes no mercado para comprar a moeda, que desprezou as intenções da autoridade monetária e fechou o dia em declínio. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que ainda é cedo para avaliar os efeitos do novo IOF, anunciado segunda (4), sobre a oferta de dólar. "Às vezes você tem que tomar antibiótico por uma semana para que tenha efeito."

Paliativo

Muitos analistas consideram a medida paliativa e insuficiente para desestimular a especulação com a taxa básica de juros no Brasil (Selic), a mais alta do mundo em termos reais (descontada a inflação), à qual está indexada a remuneração dos títulos públicos emitidos pela União. Segundo cálculos da Safra Corretora, o aumento do IOF altera muito pouco a rentabilidade anual de um título com vencimento em 2017, reduzindo-o de 11,34% a 10,97%, percentual ainda muito superior aos juros pagos por papéis do gênero em economias desenvolvidas.

A redução da Selic a um patamar compatível com os juros praticados nos países mais ricos, cobrada pelos movimentos sociais e pela indústria nacional, seria o meio mais eficaz de desestimular o ingresso de capitais estrangeiros especulativos no país. Mas esta saída é obstruída pela política monetária do Banco Central. Além disto, é preciso mudar a política cambial, adotando alguma forma de câmbio administrado (como faz a China) e abrindo mão do dogma neoliberal do câmbio livre ou flutuante.

A inflação do dólar

De todo modo, conforme observou o ministro, a fragilidade do dólar não é causada apenas nem principalmente por fatores internos. O declínio da moeda de Tio Sam reflete os desequilíbrios externos da maior economia capitalista do mundo, com destaque para o déficit em conta corrente, a dívida e o rombo das contas públicas.

O déficit governamental avançou assustadoramente com os trilhões injetados pelos governos Bush e Obama na economia com o propósito de resgatar o sistema financeiro e combater o desemprego em massa – objetivo este que, embora anunciado, até o momento não foi alcançado.

Sem poupança interna, a Casa Branca tem sido constrangida a recorrer a empréstimos externos para financiar o hiato entre consumo e receita. Quando o dinheiro alheio é escasso, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) emite papel-moeda, como tem feito. O resultado é a inflação do dólar, não nos EUA, onde a contração do consumo obstrui a alta dos preços, mas nos mercados cambiais do mundo. É o que se vê.

Nova ordem monetária

A performance do dólar nesta terça foi atribuída pelos observadores a notícias provenientes do exterior como a redução dos juros no Japão (a taxa básica foi fixada entre zero a 0,1%) e a expectativa de que novos estímulos à economia (ou seja, mais gastos públicos) devem ser anunciados pelo governo Obama para reverter a estagnação da produção e do emprego no país.

A ampliação do déficit público norte-americano, requerida pelas medidas anticíclicas, significa pressões adicionais contra o dólar, que perde terreno em todo o mundo. Caiu acentuadamente inclusive em relação ao euro, apesar das preocupações com a crise da dívida externa e a radicalização da luta de classes no velho continente.

A instabilidade da moeda que lidera os negócios internacionais perturba os mercados de câmbio e o comércio exterior, ensejando conflitos cambiais que podem desembocar numa guerra comercial generalizada, a exemplo da que ocorreu no curso da Grande Depressão durante a década de 1930.

O dinheiro fiduciário do Tio Sam já não está em condições de exercer com eficácia as funções de moeda mundial e garantir estabilidade aos preços relativos das diferentes moedas e mercadorias. Sua substituição neste papel é uma necessidade objetiva que, apesar dos desígnios hegemônicos dos EUA, não poderá ser ignorada por muito mais tempo.