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Venda do Liverpool apavora torcedores e agita futebol mundial

Quando um clube tem milhões de torcedores espalhados pelo mundo, cinco títulos da Liga dos Campeões, um museu que atrai tantos torcedores quanto o dos Beatles e atenção da mídia de todo o planeta, não dá para simplesmente colocar uma placa de “vende-se” e tocar a vida. Pois é isso que fizeram os donos do Liverpool, um dos principais ativos do futebol globalizado e foco do amor de torcedores da Inglaterra até o Oriente Médio.

Por hora, o preço da operação toda é estimada em mais de 400 milhões de dólares. Mas não há uma única proposta pelo clube, o que colocou os donos estadunidenses do Liverpool, Tom Hicks e George Gillett, em rota de colisão com os dirigentes ingleses do clube que só fica atrás do Manchester United na preferência dos torcedores do país. Os proprietários se preocupam com não desvalorizar o clube. Os cartolas, em sanar dívidas.

O assunto é tão sensível que protestos irromperam até em outros países onde há bares temáticos do Liverpool, como Emirados Árabes Unidos e Bulgária. Os donos do clube não podem simplesmente vendê-lo sem a aprovação da diretoria. E a diretoria não pode simplesmente vender os ativos ao proprietário que escolher sem que haja anuência dos atuais donos do prestigioso clube.

“Achamos que o importante é livrar o clube dos quase 300 milhões de dólares de antigas dívidas e reformar nosso templo futebolístico de Anfield Road – em vez de construir um novo estádio”, diz Martin Broughton, presidente do Liverpool. “Os donos do clube estão abusando de suas premissas quando querem mudar a diretoria para que estudemos as propostas do jeito que eles acham melhor. Vamos à Justiça se for necessário.”

Os donos do Liverpool querem que o clube avalie uma proposta por vez e não façam um leilão. Temem que isso desvalorize seus ativos. Por conta disso, querem trocar antigos dirigentes dos Reds por aliados seus. Até agora, o favorito para arrematar o alvo da paixão de milhões de torcedores é o New England Sports Venture (NESV), que pertence ao empresário John W. Henry, um dos rivais de Hicks e Gillett em negócios esportivos nos EUA.

Além da repulsa dos torcedores do Liverpool a uma venda a grupos árabes e russos, como já aconteceu a clubes menos gabaritados, como Manchester City e Chelsea, respectivamente, a atração pela proposta do NESV também tem a ver com a gabardia relativa ao clube. Embora seu propósito também seja o lucro, Henry trata os torcedores com mais reverência do que Hicks e Gillett.

Proprietário do famoso time de beisebol Boston Red Sox, reuniu-se com fãs na semana passada após a eliminação do time na liga nacional. Divulgou em jornais locais um pedido de desculpas. Ganhou da proeminente revista Sports Illustrated o título de melhores donos de equipe de beisebol em 2009. Hicks e Gillett nunca chegaram perto desse tipo de relação com uma das torcidas mais exaltadas do mundo.

Os adversários da proposta, mais interessados em construir equipes fortes para voltar a conquistar um título inglês depois de mais de 20 anos de jejum, não aprovam a aproximação do NESV. Falam no risco de o clube do coração ganhar um novo nome: Liverpool Red Sox. E acreditam que os cerca de 400 milhões de dólares oferecidos significariam prejuízo para os atuais donos e subvalorização dos ativos todos.

O acordo pode levar semanas até ser finalizado. Uma batalha legal está à vista. O vídeo de celebridades contra Hicks e Gillett, incluindo atores, bandas de rock e jornalistas, vai seguir se espalhando pela Internet, pedindo o afastamento dos donos que endividaram o clube, investiram menos do que deveriam e desconhecem a história do Liverpool. “Caro Tom Hicks: nós lhe demos os Beatles. E é assim que você nos paga de volta”, diz a peça.

Entre os últimos do campeonato inglês e no seu pior início de ano em décadas, não será apenas em campo que estarão em suspense os 20 milhões de torcedores do Liverpool espalhados pelo mundo.

Fonte: Opera Mundi