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O. Diliberto: A direita se reorganiza. A alternativa é a esquerda

Os tempos são tristes para os que acreditaram firmemente que não fosse possível nenhuma mediação entre Berlusconi e Fini. Parece que essa mediação está em curso e, em consequência disso, o clima político começa a mudar.

Por Olivério Diliberto*

Não por acaso o Conselho de Estado rejeitou o recurso de recontagem de votos feito por Mercedes Bresso (candidata da centro-esquerda, derrotada nas eleições regionais do Piemonte em março de 2010).

Digo com desagrado: é grande a inadequação do Partido Democrático. Ao invés de pegar o touro pelo chifre e compreender que não há mais vento para atirar folhas; ao invés de inventar governos técnicos ou “de escopo”, como dizem os mais chiques; ao invés de dividir-se entre aqueles que pendem para o centro (numerosos e muito barulhentos), os que querem criar a nova coligação Oliveira e os que sonham com Montezemolo (ex-presidente da Confederação das Indústrias, órgão do grande capital), seria melhor agarrar a oportunidade criada pela profunda crise do berlusconismo e participar plenamente da manifestação dos metalúrgicos assumindo a tendência para a mudança.

Mas ocorre o contrário, enquanto o Partido Democrático joga aos quatro ventos, a centro-direita reorganiza suas tropas. Com dificuldades, com lacerações que persistem, com dissensos que podem voltar a explodir. Mas se conseguem rearrumar internamente a casa do poder, dando a Fini o que é de Fini, poderiam conseguir tal reorganização. Entretanto, nem tudo está perdido. A crise do berlusconismo – no sentido político e cultural – não é pequena e, creio, sem saída. O ponto dramaticamente descoberto é a alternativa: uma coalizão verdadeira, com conteúdo verdadeiro, com pontos programáticos prioritários.

Essa alternativa não existe e quando se cria uma oportunidade, como no caso da manifestação dos metalúrgicos, esta possível alternativa desmorona. Em política não existem espaços vazios. Na extraordinária manifestação sindical do dia 16 a vontade política e de organização política era uma explosão que transbordava o estado de coisas existente.

Dois objetivos tremendamente sérios se apresentam: manter de pé os comitês que trabalharam para tornar possível a manifestação e chegar à greve geral. Não havia espaço para Grillo (comediante, blogueiro e agitador político) naquela praça séria. Menos ainda para Di Pietro (um dos protagonistas da “Operação Mãos Limpas”). Havia muito mais espaço para a Federação da Esquerda e para a SEL (Sinistra, Ecologia e Liberdade, uma das correntes da esquerda italiana), que misturavam suas bandeiras e seus militantes com os da Federação dos Metalúrgicos. Então, se a direita se reorganiza e a centro-esquerda fica confusa , cabe a nós, com a nossa pouca força e aos metalúrgicos, com a sua força extraordinária, preencher o espaço político, dramaticamente vazio, da alternativa.

*Secretário Nacional do Partido dos Comunistas Italianos (PdCI)