Usando Deus para difundir o ódio

No primeiro turno, diante da diferenciação dos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e de Lula (PT), a tendência era de uma vitória elástica da candidata do PT, Dilma Roussef, sobre os demais adversários. Por Ramon Alves*

José Serra, que largou na frente na disputa, viu sua vantagem cair vertiginosamente diante de uma candidata preparada, afinada com o Brasil e com a maioria dos brasileiros. A oposição, para não sumir nos estados, teve que esconder seu candidato a presidente porque não tinha discurso que permitisse apresentá-lo aos eleitores.

O que a maioria não esperava é que a campanha do candidato do PSDB fosse aos mais baixos níveis no debate eleitoral na história do Brasil. Nunca se usou tanto o nome de Deus e de demais símbolos religiosos para promover o ódio, a divisão e o rancor. Concretamente, o que existe é uma elite que está se utilizando de todas as armas, ocultas ou não, para promover a campanha da mentira e da enganação.

Essa gente, herdeira da escravidão, da ditadura e do obstáculo às mudanças progressistas no país, não consegue mais esconder suas diversas faces. A campanha sórdida contra Dilma, ofendendo-a em sua condição humana e de gênero, é a expressão máxima de uma elite que não aceitou ver um trabalhador e sindicalista ocupando a presidência do Brasil, que não tolera a inclusão dos negros nas universidades públicas e que, agora, ataca sistematicamente a candidata Dilma por ser uma mulher ousada e corajosa na defesa do Brasil.

Enquanto a candidata do PT vem recebendo apoio público de amplos segmentos da sociedade, como estudantes, artistas, intelectuais, esportistas e trabalhadores dos mais diversos ramos, José Serra parte para a calúnia como forma de impulsionar a sua candidatura. Desnorteado sobre a discussão de Brasil, joga toda suas fichas na divulgação de notícias e informações inverídicas, constituindo uma central de boatarias nunca antes vista no país.

A guerra de e-mails na internet cria uma situação simbólica sobre cada campanha. Enquanto aqueles que defendem Serra limitam-se à discussão do aborto e a afirmações artificialmente produzidas como se fossem ditas por Dilma – que, diga-se de passagem, não se comprova por meio de qualquer vídeo ou áudio, somente por textos assinados por pessoas inexistentes -, aqueles que estão com a candidata do presidente Lula expressam-se geralmente por meio de dados comparativos, manifestações públicas de apoio dos mais diversos segmentos e através de vídeos em que José Serra contradiz-se constantemente.

O fundo do poço para o PSDB não tem limite. A recente incursão do partido nos bairros mais pobres do Nordeste, por meio de panfletos apelando à religião e ao preconceito, é a maior prova de que, para eles, a tese “os fins justificam os meios” está mais atual do que nunca. Eles querem dividir o eleitor que vê a sua vida mudando através de programas sociais que Serra e FHC nunca se preocuparam em fazer – como o Minha Casa, Minha Vida, bolsa família, luz para todos, dentre outros.

O candidato tucano aposta em desviar a atenção dos setores mais carentes da população para outros temas porque se defender os seus 8 anos de parceria com Fernando Henrique, será amplamente rejeitado. A campanha baixa esconde que a desigualdade social e a concentração de renda aumentaram significativamente durante o período de 94 a 2002, tornando nosso país um dos mais injustos. Omite que vivíamos um momento de elevado desemprego e mesmo os que trabalhavam viam seu poder de compra cair gradativamente.

Omitem, principalmente, o seu ódio contra a redução das disparidades entre ricos e pobres. Não aceitam um Brasil mais acessível a todos, da escola à universidade, do carro à casa própria, do respeito e inclusão de mulheres e negros, das políticas específicas para a juventude. Um país que, depois de séculos, começa a oferecer oportunidades a todos os seus filhos.

Mesmo com a campanha mais odiosa de todos os tempos, eles não conseguiram inverter a tendência de vitória de Dilma. Até o dia da eleição, mais pessoas vão se convencendo que mesmo o viés da discussão religiosa não pode sugerir o ódio, mas a união.

Existe um limite para usar o nome de Deus na campanha. E esse limite é o de entender que esse debate só pode se encerrar cultivando, valorizando e reproduzindo as melhores qualidades dos seres humanos. Quem divide o Brasil e foi capaz de promover a mais brutal concentração de riquezas da nossa história, não tem moral para usar Deus visando seus fins eleitorais.

* Diretor Estadual de Organização da UJS e Servidor Público