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Niko Schvarz: As revelações do site Wikileaks

As revelações impactantes efetuadas pelo site Wikileaks na última sexta-feira (22) denunciam perante o mundo, com provas irrefutáveis retiradas do próprio exército dos Estados Unidos e mantidas em segrego, os crimes das forças armadas estadunidenses no Iraque, os assassinatos de civis em número muito maior ao admitido até hoje e as torturas sistemáticas cometidas por essas forças, por mercenários e pelo exército colaboracionista iraquiano.

Elas se transformaram em um argumento irrebatível para retirar as tropas que invadiram o país em março de 2003, com falsos pretextos, e colocar um fim à ocupação e à guerra.

Em julho passado, o Wikileaks, dirigido por um especialista australiano em informática, Julian Assange, rendeu um grande serviço à humanidade publicando em seu site na web — http://wikileaks.org/ — um conjunto de 92 mil documentos classificados, do Pentágono, reveladores das atrocidades perpetradas pelas tropas ianques e seus aliados no Afeganistão entre 2004 e 2009.

Uma das mais importantes lembra o massacre de convidados de uma festa de casamento, que foram catalogados à grossa lista de "danos colaterais". O editor explicou que mantinha em reserva outros 15 mil documentos a messe respeito.

Assange recebeu toda classe de ameaças por parte do Pentágono, mas seguiu adiante. Agora acaba de publicar, em combinação com o The New York Times, The Guardia, Der Spiegel e também o Le Monde, nada menos que 391.832 documentos do Pentágono, conhecidos como SIGACTs
(Significant Action in the war), redigidos por militares dos EUA entre início de 2004 e o último dia de 2009, no que foi considerado o maior vazamento de informações militares da história.

O site anunciou em seguida que publicará os 15 mil documentos secretos remanescentes da ocupação estrangeira do Afeganistão. Na documentação agora revelada, estão registradas 109.032 mortes de iraquianos, entre eles 15 mil que não haviam sido jamais revelados. E cada uma delas é uma vítima humana.

Os meios de comunicação oficiais americanos reagiram com fúria e renovadas ameaças diante da publicação de tais documentos. Tanto a secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton como o principal comandante da Otan, Ander Fogh Rasmussen, alegaram que a revelação colocava em perigo a vida de soldados americanos e da coalizão.

As versões difundidas por esses meios reduzem o alcance dos documentos ao assinalar torturas praticadas por tropas iraquianas que não foram impedidas (e que de fato foram autorizadas) pelas tropas de ocupação.

Isso é correto, mas está muito longe de toda a verdade. A maior parte dos assassinatos e das torturas sistemáticas estiveram a cargo das tropas de ocupação. O relatório de Assange menciona mais de 300 casos documentados de torturas cometidas por essas tropas.

Por acaso pode-se esquecer as torturas aberrantes perpetradas na prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, sob controle das tropas ianques, com episódios de degradação inaudita da condição humana, que estão na mente de todo mundo?

E este é apenas um exemplo, já que outros documentos descrevem as torturas contra prisioneiros, inclusive mulheres, em postos de controle militar dos EUA, muitas das quais derivaram na morte dos detidos.

Precisamente, nesses postos de controle instalados ao longo do Iraque as forças dos EUA massacraram centenas de civis, segundo revelam os documentos. Há numerosos casos registrados de mortos "por erro", por exemplo, mediante disparos a partir de helicópteros. E a tudo isso se soma a massa de assassinatos nas mãos dos chamados "terceirizados", como os agentes da empresa privada estadunidense Blackwater, que são assassinos profissionais pagos, com atividades absolutamente fora do controle.

Um resumo da situação assinala que "a documentação sobre o Iraque descreve o panorama de um país em guerra: tiroteios em postos de controle, mercenárioas que abrem fogo contra iraquianos e abusos brutais contra prisioneiros com água fervente, metais incandescentes, choques elétricos e jatos de água".

O relator especial da ONU sobre a tortura, Manfred Nowak, solicitou uma investigação sobre os fatos. Ao primeiro ministro iraquiano, Nuri al Maliki, a única coisa que ocorreu dizer foi que essas revelações prejudicavam sua reeleição, que está pendente do resultado das eleições fraudulentas de março, que sete meses depois continuam sendo um mistério.

E, junto à tragédia, a farsa. Assange foi convidado para dar uma entrevista à CNN no último sábado sobre estes temas, e a jornalista Akita Shubert se empenhou em questioná-lo sobre dados pessoais e sua situação legal. Assange respondeu que tinha comparecido à entrevias para denunciar as mortes e as torturas ocultadas no Iraque. A entrevistadora reiterou provocativamente suas perguntas, deixando de lado o tema real, e Assange caiu fora, deixando a moça a falar sozinha.

Fonte: La República (Uruguai)