Sem categoria

Entrevista: Rosane Bertotti fala da censura à Revista do Brasil

Em entrevista ao Portal Vermelho, a secretária de comunicação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entidade que possui diretores no conselho editorial da Revista do Brasil, fala sobre a decisão da justiça que impede a circulação da revista, defende alterações na legislação eleitoral e uma "revista na sua íntegra" da lei de comunicação.

- Divulgação / Acervo CUT

Após o ato de solidariedade à Revista do Brasil, realizado nesta quarta (27) à noite no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, o Vermelho procurou a secretária de comunicação da CUT para comentar a decisão judicial que censura a Revista do Brasil, cujo conselho editorial é composto, entre outros, pelo presidente da central, Arthur Henrique.

Leia também: Movimentos fazem ato em solidariedade à Revista do Brasil

A edição da Revista do Brasil do mês de outubro (número 52), teve a circulação proibida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob alegação de que a CUT fazia campanha favorável à candidata Dilma Rousseff (PT).

A decisão do TSE atende a um pedido de liminar da coligação do candidato José Serra à Presidência da República e a velha mídia evidenciou, no dia da decisão, a veiculação de anúncios pagos pelas estatais Petrobras e Banco do Brasil na revista.

A Lei Eleitoral proíbe sindicatos de contribuir direta ou indiretamente para a campanha de candidatos ou partidos. Entretanto, a diretora de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, em entrevista ao Vermelho, afirma que a revista é independente.

Rosane também defende alterações na legislação eleitoral e uma "revista na sua íntegra" da lei de comunicação.

Confira a íntegra da entrevista:

Portal Vermelho: O que a CUT tem a dizer sobre a decisão judicial que proíbe a circulação da edição 52 da Revista do Brasil?

Rosane Bertotti: A Revista do Brasil é uma revista de banca, assim como a Veja, a Istoé… a diferença é que há pessoas no conselho editorial da Rede Brasil Atual que fazem parte do movimento sindical, mas se trata de uma revista de banca, não é custeada pelo movimento sindical. Este é o primeiro equívoco.

Portal Vermelho: Como é custeada a Revista do Brasil?

Rosane Bertotti: Como eu disse, é uma revista de banca. E tem anúncios, como qualquer outra revista. Se você abrir a Revista do Brasil, tem no máximo quatro ou cinco páginas de publicidade estatal. Se você abrir a Veja, a Istoé, tem mais de dez. Se pode na Veja, por que não pode na Revista do Brasil? Se defendemos a liberdade de expressão, tem que ser para todos e todas. As mesmas condições que são dadas para a Veja têm que ser dadas para a Revista do Brasil. Nesse sentido, repudiamos o discurso da direita de cerceamento da revista. É o mesmo discurso que fizeram para criticar o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, classificando os blogues de "sujos". A estrutura dos meios de comunicação que está nas mãos da direita não dialoga com a democracia, com os trabalhadores, com as classes minoritárias. A Revista do Brasil dialoga, e é cerceada.

Portal Vermelho: Você acha que a legislação em relação aos veículos de comunicação deveria ser alterada?

Rosane Bertotti: A legislação da comunicação no Brasil é arcaica, atrasada. Não só em relação às concessões de rádio e televisão, mas também em relação aos critérios utilizados para definir a publicidade oficial. Se o critério é audiência, a Revista do Brasil tem tiragem superior a 300 mil exemplares, distribuídos pelo Brasil todo, tem capilaridade. A Lei de Comunicação precisa ser revista na sua íntegra: concessões de rádio e televisão, financiamento dos veículos por meio de publicidade oficial e o próprio direito à comunicação, que precisa ser ampliado.

Portal Vermelho: A legislação eleitoral proíbe entidades dos movimentos sociais de contribuir direta ou indiretamente para a campanha de candidatos ou partidos. Esta lei é coerente com o momento atual da democracia no país?

Rosane Bertotti: Os movimentos sociais têm compreensão do que é melhor para o Brasil. Se decidirem expressar sua opinião, é um direito. Eu, Rosane Bertotti, sou diretora de comunicação da CUT. Mas antes de ser diretora da CUT sou cidadã e tenho direito de expressar a minha opinião. A CUT, que sabe o que é a luta pela democracia, que sabe o que é a construção de um projeto para os trabalhadores, tem que poder expressar sua opinião. Sim, essa legislação tem que mudar, até porque as mesmas pessoas que entraram com o processo contra a Revista do Brasil são as que foram contra e não participaram da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que estão fazendo uma campanha contra a criação de conselhos de comunicação, então este debate não está fora da discussão sobre a democratização da comunicação.

Da redação, Luana Bonone