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Lula: Kirchner ajudou a construir a América Latina de hoje

Presidentes sul-americanos participaram na noite de quinta-feira das homenagens ao ex-presidente argentino Néstor Kirchner, que faleceu na quarta (27), aos 60 anos, de ataque cardíaco. "Kirchner era para mim mais que um presidente, era um companheiro, e comigo ajudou a construir a América do Sul e a América Latina que temos hoje", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em breve discurso no aeroporto, antes de voltar ao Brasil.

Lula afirmou que o ex-líder argentino ajudou a superar "muitas barreiras" bilaterais. "Descobrimos que Argentina e Brasil não eram adversários, a não ser no futebol. Mas em política e economia andávamos juntos e vimos que tínhamos um papel fundamental na integração" da região, disse Lula no Aeroparque de Buenos Aires, após comparecer ao velório de Kirchner.

O brasileiro ressaltou que o legado "mais importante" de Kirchner foi "recuperar a auto-estima do povo argentino" durante seu mandato, entre 2003 e 2007. "Vou embora triste porque Kirchner se foi. Mas vou feliz porque o povo argentino dá muito apoio à (presidente) Cristina (Kirchner). A Argentina continuará brilhando em um caminho de recuperação", assinalou Lula. Lula definiu Kirchner como "um companheiro que ajudou a construir uma América Latina onde não estamos sozinhos".

Além de Lula, estiveram presentes ainda no velório na Casa Rosada, a sede do governo argentino, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Colômbia, Juan Manuel Santos, do Equador, Rafael Correa, da Bolívia, Evo Morales, do Uruguai, José Mujica, do Chile, Sebastián Piñera, e o vice-presidente de Cuba, Esteban Lazo.

Comoção e solidariedade populares

O corpo de Néstor Kirchner seria levado na mahã de hoje de Buenos Aires para Río Gallegos, a cidade natal do ex-presidente argentino, onde está o mausoléu da família. Até a noite de ontem, a presidente Cristina Kirchner guardava segredo sobre se haveria um sepultamento ou cremação.

Cristina tampouco se pronunciou publicamente sobre a perda do marido durante o velório, realizado durante todo o dia de ontem. Segundo o chanceler Héctor Timmerman, ela teria confessado que sente "destruída", pessoalmente, mas está "pronta para continuar governando". Vestida de negro, com óculos escuros, enquanto ela esteve com a mão direita sobre o caixão de Néstor o silêncio no Salão dos Patriotas Latino-Americanos foi absoluto.

Depois das 11h, as portas se abriram para uma longa fila que ganhava as ruas centrais de Buenos Aires. Os argentinos enfrentaram até cinco horas de fila para despedir-se do ex-mandatário e presidente do Partido Justicialista (peronista). A multidão, vestida predominantemente de azul e branco – as cores nacionais – carregava bandeiras e faixas com demonstração de afeto, em uma romaria que se estendia da Avenida de Maio à Avenida 9 de Julho, duas das principais artérias da capital.

Muitos dos presentes, ao se aproximarem do caixão, se benziam, jogavam beijos ou aplaudiam. Alguns, aos prantos, diziam: "força, força". Outros, com uma mão no peito, erguiam a outra para o alto com o sinal da vitória, gesto característico do ex-presidente. Outros levaram a bandeira do país pendurada nas costas e deixaram o velório gritando: "Olé, olé, olé, Néstor, Néstor". "Força, Cristina" era a mensagem de muitos cartazes. Um jornalista do diário Página 12 contou que, na Praça de Maio, a multidão cantava: "Néstor, fique tranquilo, Cristina não está só… O povo está com ela".

Além de familiares, assessores próximos e dos filhos, Florencia (19 anos) e Máximo (32 anos), Cristina também recebeu as condolências de Diego Maradona, maior ídolo da história do futebol argentino e ex-técnico da seleção na Copa da África. "Foi um grande golpe para todos. Eu o tinha visto há pouco tempo e ele estava bem, estava sereno, tranquilo. Foi algo que eu não esperava", disse Maradona, referindo-se à morte súbita do ex-presidente e amigo.

O corpo de foi velado no salão dos patriotas da Casa Rosada. Tradicionalmente, velórios de autoridades ocorrem no Congresso Nacional – esta é a primeira vez que um ex-presidente é velado na sede da presidência argentina.

Com agências