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Oportunismo derrotado: Serra negou FHC e buscou a garupa de Lula

José Serra (PSDB-SP) chegou à sua segunda – e mais marcante – derrota em eleições presidenciais marcado por, ao menos, dois erros estratégicos que lhe custaram caro. Primeiro, o tucano não conseguiu anular a elogiável disputa plebiscitária montada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Dilma Rousseff. Segundo, Serra escondeu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante todo o primeiro turno e dissimulou ao máximo para não se apresentar como candidato de oposição. Nada deu certo.

Numa campanha em que o PSDB recorreu a baixarias como nunca em sua história, Serra não conseguiu, em momento algum, convencer os eleitores de que deveriam trocar a "continuidade" por um novo governo tucano. Medroso e oportunista, o presidenciável tucano chegou até a admitir que Lula era um personagem da política "acima do bem e do mal". Evitou, também, a comparação de projetos tão distintos, ao sustentar, sem sinceridade, que "candidato a presidente não é líder da oposição".

Serra fez uma campanha com tanto ziguezague que, diante novamente da acusação de "privatista", encheu o horário eleitoral com propaganda em que revidava acusando Dilma de "já ter vendido parte do pré-sal a estrangeiros". Falou até em estatizar. Além de não ter colado, houve mal-estar entre segmentos do eleitorado serrista favoráveis ao entreguismo.

Não era o que se esperava de uma campanha do PSDB – partido que, em oito anos à frente da Presidência, com, FHC, liderou uma venda sem precedentes do patrimônio nacional. Em 10 de abril, quando o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, discursou a cerca de 3,5 mil dirigentes e militantes do PSDB, DEM e PPS, no pré-lançamento da candidatura Serra, o tucanato identificou ali o mote para a campanha de oposição.

Sob aplausos entusiasmados do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e apupos de toda a plateia, Aécio voltou sua artilharia de críticas e ataques ao PT e ao modo petista de governar. Grato pelo discurso firme de apoio do mineiro, Serra chegou a beijar Aécio na face. Mas a cortesia política parou aí. Lançada a candidatura, Aécio não foi chamado para discutir táticas da campanha. Ao contrário, os encontros iniciais com FHC e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) acabaram suspensos pelo próprio Serra.

"São reuniões da agenda negativa", queixava-se o candidato Serra. Além da resistência a críticas e sugestões, havia o temor de que eventuais reparos vazassem para a imprensa. Serra, egocêntrico, não ouviu os líderes tucanos ao longo da campanha – até a votação em primeiro turno. Colocado de escanteio, FHC não escondeu a mágoa nem a decepção com o candidato que não assumia o legado de seu governo e acabou perdendo a identidade.

"Serra só queria apoio eleitoral, e não apoio político", desabafou Aécio a um interlocutor, criticando os rumos da campanha. A queixa generalizada do tucanato foi a de que Serra "não abriu espaço para discussões políticas dentro". Ao final do primeiro turno, o mesmo Aécio sintetizou a situação: "Serra foi candidato como quis, com o discurso que quis e da forma que quis."

Tanto é assim que Serra entrou na campanha com a vaga de vice aberta e arrastou a definição até o final do prazo legal para registrar a chapa. Não bastasse a recusa de Aécio em compor a "chapa puro-sangue do PSDB", que soava como derrota, Serra ainda esticou a corda a ponto de comprar briga com o DEM e de se desgastar interna e externamente com a escolha.

Ao final, o anúncio do vice Índio da Costa (DEM-RJ) foi um fiasco rotundo – não agregou votos nem apoios. A partir daí, Serra fechou a campanha, interrompendo o diálogo com tucanos e aliados. Ignorou o conselho político, que não se reuniu uma vez sequer, e se isolou da máquina partidária e dos aliados.

O DEM reclamou especialmente do fato de Serra passar o primeiro turno preocupado em não confrontar Lula. "Fazer oposição é um dever e ganhar é uma consequência", dizia o líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), que tocou a campanha em Santa Catarina sob ameaça de Lula de "exterminar" os Bornhausens da política.

Serra não entrou na polêmica, até porque não montou um time nos estados para tocar a campanha e ignorou os coordenadores regionais escalados pelo presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). O presidenciável deixou claro que não queria reuniões com coordenadores. "Vão ficar reclamando e pedindo coisas. Isso não é bom", justificou.

Como não interagia com as regionais do PSDB e das legendas aliadas, acabou fazendo uma campanha de improviso Brasil afora. As programações eram definidas à última hora, sem mobilização. Surpreendidos com visitas não programadas, aliados se irritavam e reclamavam do candidato.

Apesar dos problemas, nos 20 dias que antecederam o primeiro embate a equipe de marketing apostava no segundo turno, tomando por base levantamentos internos. Receberam o resultado das urnas sem planos de mudança, mas líderes aliados e do PSDB já davam como certa a rediscussão dos rumos da campanha. Diziam que queriam mudar até o visual e o "astral" do candidato, e conseguiram.

Quando a campanha eletrônica recomeçou no rádio e na televisão, o tucanato finalmente gostou do que viu. Alívio geral diante da avaliação de que, no primeiro turno, Serra apostara tudo no programa de televisão e errara no marketing da campanha.

"O primeiro programa de televisão do Serra escureceu a humanidade. Foi tão ruim, que todo mundo se desorientou", lembrou Sérgio Guerra. "O candidato estava feio, o programa estava triste e a mensagem era desastrosa, com o Serra falando coisas que o povo não queria ouvir e não entendia."

Já no segundo turno, todos estavam de acordo que o marqueteiro Luiz Gonzalez finalmente "acertara a mão". Ainda assim, o eleitor preferiu a "continuidade" e não viu em Serra razões para trocar de governo, repetindo o panorama político de 2006. Como hoje, o eleitor não viu na reeleição daquela época motivos para trocar Lula por Alckmin.

Da Redação, com informações de O Estado de S.Paulo