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G-20: Guerra cambial, "reforma" do FMI e apoio aos pobres

Em dois dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita, Dilma Rousseff, chegam a Seul, na Coreia do Sul, para as reuniões da Cúpula do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo). Em pauta, a controvertida guerra cambial e os efeitos da desvalorização sobre a economia global, além da retomada das discussões sobre a Rodada Doha (negociações na OMC que visam a diminuir as barreiras comerciais no mundo).

Para o governo brasileiro, é fundamental adotar ações coletivas de combate à manipulação cambial. Em diversos momentos, as autoridades brasileiras criticaram decisões individuais, alertando que medidas isoladas não trarão os efeitos desejados nem gerarão resultados concretos. Na semana passada, Lula e Dilma avisaram que irão para o G20 com a disposição de brigar e defender a posição do Brasil.

Especialistas que acompanham as discussões afirmam que a expectativa é que os líderes mundiais, reunidos em Seul, firmem um compromisso concreto de ações políticas que serão executadas para evitar o agravamento do quadro.

No último dia 23 de outubro, representantes das 20 maiores economias do mundo reuniram-se em Gyeongju, na Coreia do Sul, para uma série de discussões prévias para a Cúpula do G20. Os ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais destacaram a preocupação com os excessos de volatilidade e fluxos desordenados de capital que ocorrem em alguns países emergentes. Também foi detectado o risco do protecionismo.

Mais espaço para emergentes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente eleita, Dilma Rousseff, reforçarão, em Seul, na Coreia do Sul, a decisão de ampliar o espaço dos países em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional (FMI), assim como os planos de ação de desenvolvimento para as regiões mais pobres do mundo. As discussões em torno desses temas são as menos polêmicas durante a Cúpula do G20 (que reúne as 20 maiores economias do mundo).

Ao participar da última reunião do G20 como presidente, Lula deverá destacar a posição do Brasil de país receptor de doações para doador, ampliando a chamada cooperação prestada. O presidente pretende destacar as ações definidas pela política externa brasileira que envolvem a assistência humanitária e também o perdão da dívida externa em relação a vários países. As medidas mais expressivas envolveram o Haiti e países africanos, como Angola e Moçambique.

A defesa da reforma do FMI foi constante nos discursos de Lula e uma das prioridades do governo brasileiro. No Canadá, na primeira reunião prévia do G20, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo insistiria na adoção de mudanças no conselho do FMI.

No mês passado, os representantes do G20 aprovaram um acordo que propõe a reforma do FMI redistribuindo as cotas do organismo que se referem ao poder de voto. Com isso, o Brasil saltará da 15ª posição para a 10ª. Houve ainda consenso para que os países industrializados cedam duas das oito vagas do conselho do fundo para as nações em desenvolvimento.

O Conselho Consultivo do FMI é formado por 24 assentos, dos quais os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão ocupam de forma individual cada assento. Os outros 21 lugares são ocupados de forma agrupada pelos demais membros do fundo. A tendência, segundo especialistas, é que dois países europeus percam lugar em favor de uma nação africana e outra asiática.

O processo de decisão para definir quem vai ceder lugar para os países em desenvolvimento deve levar um ano, sendo encerrado apenas no fim de 2011. Os maiores acionistas atualmente são Estados Unidos, o Japão, Reino Unido, a Alemanha, França, Itália, o Brasil, a Rússia, Índia e China.

Integram o G20 os seguintes países: Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, África do Sul, Turquia e a União Europeia

Paralelamente, os líderes mundiais, reunidos em Seul, debaterão planos de ação destinados aos países em desenvolvimento. Na prévia da cúpula, no Canadá, o alvo foi o Haiti. O presidente do Haiti, René Préval, agradeceu o apoio recebido da comunidade internacional após o terremoto de 12 de janeiro, mas pediu a ampliação dos recursos externos.

Sem ilusões

A crise econômica e financeira do capitalismo manifesta-se também no plano institucional e no ordenamento político internacional. Organizações como o FMI e outras, hegemonizadas pelo capital financeiro e o imperialismo internacional, ainda que fossem superficialmente “reformadas”, não corresponderiam aos interesses dos países e povos oprimidos pelo sistema de dominação vigente.

Igualmente, a complexidade da guerra cambial, que no fundo envolve uma luta pela hegemonia mundial, não encontrará solução em Seul na reunião do G-20. Este, embora abrindo espaço para os países emergentes, é um grupo econômico e financeiro voltado para a defesa do sistema hegemônico do capital financeiro e do imperialismo. O mundo continua muito longe da construção de um verdadeiro sistema multilateral que reflita relações democráticas e um novo equilíbrio de forças. É positivo que o governo brasileiro, ao lado de outros chamados emergentes, atue de maneira crítica e propositiva nos organismos internacionais, mas as soluções de fundo não serão possíveis no quadro do atual sistema. Não se deve alimentar ilusões sobre a auto-regeneração do sistema.

É cada vez mais atual e justa a bandeira de luta por uma nova ordem econômica e política internacional. E cada vez mais necessário o combate dos povos por seus direitos e pela verdadeira independência econômica e política.

Da Redação, com informações da Agência Brasil