Jô repudia preconceito contra mulheres

A deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) foi à tribuna da Câmara para denunciar, repudiar e pedir punição de todos os estudantes que “patrocinam esse crime contra os direitos humanos que é o rodeio das gordas”.

Jô Moraes - Assessoria JM

Ela pediu que seu protesto fosse registrado nos Anais da Casa ao destacar que o crime foi cometido por estudantes universitários em uma instituição pública que deveria combater o estímulo a toda e qualquer discriminação. Ela reiterou a necessidade de a Universidade Estadual Paulista (UNESP) punir os envolvidos e conclamou a sociedade a dar maior atenção às crianças.

“O combate a essa violência tem de começar em nossas casas, em nosso bairro, nas escolas. Devemos estar conscientes de que é nas relações primárias que se promovem a constituição das características violentas da personalidade. Portanto, é preciso reforçar os mecanismos de proteção às mulheres, mas acima de tudo devemos educar nossos filhos. Difundir valores éticos e morais, em especial o respeito, a compaixão, o amor, a solidariedade e a igualdade”.

Pronunciamento

Eis a íntegra do discurso da deputada Jô Moraes que lembrou, ainda, do recente episódio envolvendo a destruição de esculturas na entrada da cidade de Americana, também em São Paulo, pelo fato de essas retratarem figuras rechonchudas, como noticiado pela mídia.

“Senhor presidente, senhoras e senhores deputados, Uma das mais insidiosas formas de discriminação – o critério da beleza – é o assunto que me traz a esta tribuna. Em pleno 2010, quando já conseguimos alguns significativos avanços, como o de criminalizar a tal da “boa aparência”, que na competição por empregos significava “não ter a pele negra” assistimos novamente outras formas deste tipo preconceito. Agora, contra mulheres com sobrepeso ou obesas.

Estou falando do “rodeio das gordas”, o crime patrocinado e conduzido por estudantes de uma instituição pública, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de São Paulo. Crime combinado e divulgado na internet, que consiste em agarrar uma garota com sobrepeso pelas costas e montá-la como se fosse um touro. Ao ser agarrada e montada, a garota se debate e o “desafio” dos estudantes adeptos deste crime é conseguir ficar o maior tempo possível agarrado ou “montado” na garota, sob aplausos, urro e gritos de “pula gorda” dos concentrados para assistir ao tal “rodeio”.

Refiro-me a um crime praticado por estudantes universitários, que se pressupõe capacitados a assumir postos de comando, de decisão. Estudantes que tinham até comunidade no Orkut onde disseminavam e combinavam a agressão discriminatória, estigmatizante. Seres destituídos de compaixão; de respeito, de reconhecimento ao mais básico direito humano, que é a dignidade. Tudo minimamente combinado, até mesmo como se aproximar dos alvos, como numa arena, e ficar até 8 segundos “montados” nas garotas.

É bom lembrar que não faz nem um ano que assistimos a um outro “espetáculo” de preconceito, também no Estado de São Paulo. Desta vez na cidade de Americana. Lá, depois de uma enquete na internet, o prefeito, com o aval de moradores, mandou destruir o portal do município, de autoria do artista Luiz Gagliastri.

Tratava-se de uma homenagem à força trabalhadora dos imigrantes e a tradição da cidade no setor têxtil. Eram duas figuras nuas, rechonchudas – um homem e uma mulher – cada um de um lado ligados por um arco, representando tecidos. Pois bem, as esculturas foram destruídas e as manifestações que consubstanciaram a decisão da prefeitura local é chocante.

As mensagens, os comentários na internet dos moradores revelam o quanto o preconceito contra os obesos está arraigado no inconsciente coletivo. O quanto é deletéria essa supervalorização da magreza em nossa sociedade.

“Aberração”, “fica parecendo que os moradores de Americana são todos obesos”; “ofensiva”; “grotesca”; “a coisa mais ridícula e humilhante que já fizeram para a cidade”, ou “isso só está servindo para nos ridicularizar”, são alguns dos infindáveis posts veiculados na internet. Eles revelam o estigma real e violento enraizado contra as pessoas com sobrepeso ou obesas. Este fato, o rodeio das gordas, os apelidos que desde a mais tenra idade as crianças acima do peso ganham dos coleguinhas nas escolas, no bairro, devem servir de alerta.

Senhores, temos de assumir nosso papel de responsáveis para banir esse crime. Precisamos nos conscientizar que a própria luta contra a obesidade –pelos riscos que representam à saúde – tem legitimado a rejeição aos obesos. Pessoas geralmente caracterizadas como fracas, sem autoestima; que custam caro para a sociedade.

Precisamos sobretudo estar atentos a esta questão no tocante às mulheres, porque começam a sofrer a discriminação bem mais cedo que os homens, conforme revelam pesquisas e que podemos comprovar com esse culto à magreza; às modelos retratadas em revistas, sites, TV, e até mesmo o tamanho das roupas vendidas nas lojas …

O combate a essa violência tem de começar em nossas casas, em nosso bairro, nas escolas. Devemos estar conscientes de que é nas relações primárias que se promovem a constituição das características violentas da personalidade.

Portanto, é preciso reforçar os mecanismos de proteção às mulheres, mas acima de tudo devemos educar nossos filhos. Difundir valores éticos e morais, em especial o respeito, a compaixão, o amor e a solidariedade, a igualdade. Neste sentido, podemos contar com um apoio de peso: em sua primeira entrevista coletiva, a presidente eleita, Dilma Rousseff afirmou que seu “primeiro compromisso é honrar as mulheres”. E que vai “valorizar a democracia e o direito dos cidadãos”.

E para tal ela vai precisar do apoio, do engajamento de cada um de nós, mulheres e homens engajados neste esforço de fazer o Brasil melhor. É este o apelo que reforço: vamos nos unir para banir o preconceito, a intolerância, os estigmas que tanta dor tem causado.Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigada.”




Da redação local