Daniel Galera: Obra gráfica em questão

Nesta segunda-feira, a 6ª Festa Literária Internacional de Pernambuco promove a mesa O boom e o embalo da literatura em quadrinhos. Nela, o escritor Daniel Galera e os ilustradores Rafael Coutinho e João Lin falam sobre a natureza de obras gráficas que podem ser apreciadas como literárias. O tema é controverso, cada vez mais atual e deve render uma boa prosa, com mediação de Xico Sá.

Galera e Coutinho são autores de Cachalote (Quadrinhos na Cia.), que figura entre os melhores lançamentos do ano em qualquer lista que se preze. Autor de três romances, entre eles o premiado Cordilheira (2008), Galera diz que Cachalote não é literatura em quadrinhos. ´É só quadrinhos mesmo`, defende, em conversa com o Diario. Leia mais na entrevista a seguir.

Você vem à Fliporto participar de uma mesa sobre literatura em quadrinhos. O que pode ser colocado para o tema render boas discussões?

Acho que esse termo enganador. Existem adaptações da literatura para HQs e existem HQs. Não gosto da ideia de, só porque sou escritor e fiz uma obra em quadrinhos, ela ser chamada de literatura em quadrinhos. Acho que esse gênero não existe.

Cachalote é a sua primeira HQ. O que você aprendeu com a experiência?

Quando se escreve um roteiro de HQ, devemos imaginar a história para o leitor, mas escrevê-la para o desenhista.

Como foi a parceria com o Rafael Coutinho? Rolou a divisão clássica texto/imagem ou vocês desenvolveram algo mais orgânico?

Foi um processo criativo totalmente integrado. Eu e o Rafa criamos juntos os personagens e as histórias. Alguns argumentos iniciais partiram dele, outros de mim. O Rafa chegou a escrever uns trechos do roteiro e eu dei muitos palpites nos desenhos. Mas é claro que no fim das contas cada um trabalhou na sua especialidade. O roteiro final é meu e os desenhos são do Rafa. Mas nosso trabalho foi resultado de um esforço criativo unificado, no qual sentimos uma grande sintonia de ideias e objetivos.

Você traduziu para o português quadrinhos de Robert Crumb e Chris Ware. Essa experiência facilitou a criação de Cachalote?

Os livros de Crumb foram um dos primeiros quadrinhos que traduzi. Foi importante porque tive que usar a mesma estrutra de roteiro para o texto ser usado pelo pessoal da editora. Então aprendi os rudimentos da liguagem do roteiro e usei essa experiencia para começar Cachalote. Mas já gostava de quadrinhos e esses autores me influenciaram mais como leitor.

Fonte Diario de Pernambuco