Sem categoria

PCP lança Tomo 3 das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal

Confira a intervenção de Jerônimo de Sousa, Secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), na Apresentação Pública do Tomo 3 das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal, por ocasião do aniversário do histórico militante comunista, realizada na última quarta-feira (10).

Estamos aqui – não por acaso no dia em que passa mais um aniversário do nascimento do camarada Álvaro Cunhal – procedendo ao lançamento do 3º Tomo das suas Obras Escolhidas.

Com este ato, prestamos uma homenagem e assumimos um compromisso. Prestamos homenagem ao militante comunista cuja vida e obra constituíram o mais significativo e expressivo de todos os contributos individuais para a construção do PCP e para a sua afirmação, ao longo dos tempos, como partido comunista, marxista-leninista; partido da classe operária e de todos os trabalhadores; partido da resistência e da unidade antifascistas; partido da Revolução e da Democracia de Abril; partido da resistência à contra-revolução – partido que foi e é tudo isso, sempre tendo presente, como referência maior, o objetivo da construção em Portugal de uma sociedade liberta de todas as formas de opressão e de exploração: a sociedade socialista e comunista.

Assumimos o compromisso de, inspirados nessa vida e nessa obra, e tendo como referência esse exemplo de dedicação e entrega totais ao Partido e à luta, dedicarmos toda a nossa capacidade, toda a nossa inteligência, todo o nosso empenhamento, todos os nossos esforços no sentido de tornar o PCP um partido cada dia mais forte e em melhores condições para, honrando a sua identidade comunista e a sua história, cumprir o papel que lhe compete, sejam quais forem as condições e circunstâncias em que tenha que atuar.

Mostram os fatos que o valioso e singular contributo prático de Álvaro Cunhal, em todo o processo de construção e desenvolvimento do PCP, foi sempre acompanhado por uma também singular produção teórica – produção teórica nascida dessa prática e, simultaneamente, fortalecendo-a e conferindo-lhe consistência ideológica e política, portanto uma e outra ligadas indissociavelmente entre si e com uma particularidade assinalável: a de serem construídas sempre na base da integração plena de Álvaro Cunhal no trabalho coletivo, que ele considerava ser uma raiz de força determinante do Partido.

Na verdade, a unidade entre a teoria e prática e a sua inserção no trabalho coletivo constitui uma marca indelével na atividade de Álvaro Cunhal. Acresce que a adesão de Álvaro Cunhal ao comunismo, ao ideal comunista, foi, para além da adesão a um ideal libertador e transformador, uma opção de vida que viria a concretizar-se com a sua entrega total ao seu Partido, ao nosso Partido: o Partido Comunista Português.

É tudo isso que explica o papel marcante, profundamente impressivo, desempenhado pelo camarada Álvaro Cunhal durante 75 anos de uma militância revolucionária exemplar: desde o início da década de 30 – quando o processo de fascização do Estado avançava de forma imparável e o anticomunismo assumia as suas expressões mais brutais – até aos primeiros anos deste século XXI – em que a política de direita, enquanto instrumento da contra-revolução, prossegue a sua ação destruidora de aspectos essenciais e estruturantes da Democracia de Abril.

Por tudo isso, esse todo que é a vida, a militância e a obra teórica e política de Álvaro Cunhal constitui para nós, militantes comunistas, uma fonte de ensinamentos inestimável e que, para além de uma lição e um exemplo de dignidade e coerência, de coragem e disponibilidade revolucionária, é uma fonte de aquisição de consciência política, ideológica, partidária, de classe.

Daí a importância da publicação destas Obras Escolhidas que as Edições Avante estão a levar a cabo e de que nos apresentam, agora, o Tomo 3. Daí a importância da leitura e do estudo da obra de Álvaro Cunhal, da reflexão individual e coletiva em torno de cada um e do conjunto de trabalhos que, sendo expressão de profundas análises concretas às situações concretas do partido, do país e do mundo, proporcionam ensinamentos imprescindíveis à nossa atividade militante.

Na verdade, o estudo da obra de Álvaro Cunhal é uma vertente estruturante fundamental da formação política, ideológica, partidária, dos militantes comunistas – de todos os militantes comunistas, desde os que há mais tempo aderiram ao partido, até aos recém-chegados, àqueles que todos os dias vão engrossando as fileiras do nosso coletivo partidário. Para todos, o conhecimento da história e da vida do partido constitui um elemento fundamental para a compreensão do que ele é hoje e do que ele deverá ser no futuro e do papel que lhe cabe enquanto partido comunista.

O reforço do partido tem sido – e é, e continuará a ser – preocupação constante do nosso coletivo partidário. Mais ainda em situações como a que atualmente vivemos, em que o atual governo leva por diante aquela que é, porventura, a mais grave de todas as ofensivas do pós 25 de abril contra os interesses dos trabalhadores, do povo e do país, a par de uma poderosa e amplamente difundida ofensiva ideológica anticomunista.

"Avante! Por um PCP mais forte!", dizemos nós; "Avante! Por um PCP mais forte!", afirma com determinação, confiança e convicção o nosso grande coletivo partidário, erguendo a pulso um vasto conjunto de iniciativas com as quais concretiza, coletivamente e de forma integrada, o conjunto de direções de trabalho e medidas coletivamente definidas visando o fortalecimento do partido. Medidas em que avultam: o reforço da ligação às massas, a partir, em primeiro lugar, do indispensável e decisivo reforço da presença organizada e ativa do partido nas empresas e locais de trabalho – estendendo esse reforço aos locais de residência; o reforço do número de militantes e a sua integração nas organizações partidárias; o reforço da militância e da formação ideológica dos quadros e dos militantes – enfim, o reforço orgânico, interventivo e ideológico do partido, afirmando-o com a sua identidade comunista e preparando-o para os desafios e as batalhas que a situação impõe.

Para alcançar estes objetivos, a leitura, o estudo, a reflexão individual e coletiva da obra de Álvaro Cunhal são de fundamental importância – e destas Obras Escolhidas podemos dizer que são parte integrante da ação em curso visando o reforço do partido.

No primeiro Tomo, tivemos oportunidade de tomar contato com os primeiros escritos de Álvaro Cunhal e com um conjunto de trabalhos cuja leitura e estudo são indispensáveis a quem queira conhecer a realidade portuguesa entre 1935 e 1947 e, de forma muito particular, toda a caminhada que foi a construção do partido no decorrer da reorganização de 40 e 41 e dos 3º e 4º Congressos, momentos maiores da edificação do partido com a sua identidade comunista e do processo que, a partir da consideração do trabalho coletivo como princípio básico, iniciou a construção do conceito de coletivo partidário. Isto sem esquecer outros textos de incontestável relevância, como são, por exemplo, os escritos sobre a arte, a criação literária, a pintura, o desenho, temáticas que, aliás, integrariam a reflexão do autor durante toda a vida.

O segundo Tomo inclui textos produzidos de 1947 a 1964 e que podem dividir-se em três fases distintas.

A primeira relacionada com o papel determinante desempenhado por Álvaro Cunhal no reatamento da ligação do nosso partido ao movimento comunista internacional, designadamente ao PCUS, que havia sido interrompida em 1938.

A segunda, respeitante aos anos de prisão na Cadeia Penitenciária de Lisboa e no Forte de Peniche – que nos deixa alguns dos mais impressionantes textos sobre os comunistas e a prisão, sobre o comportamento dos militantes do partido face à polícia fascista, textos em que o camarada Álvaro Cunhal teoriza o que ele próprio já aplicou ou virá a aplicar na prática.

A terceira, vai da fuga de Peniche ao combate travado na crítica e correção do desvio de direita e no retomar da via do levantamento nacional para o derrubamento do fascismo – combate do qual Álvaro Cunhal é um protagonista principal, já que é a partir de textos por ele elaborados que se processa o amplo debate partidário então realizado.

Este Tomo 3 agora publicado proporciona-nos o contacto com textos produzidos na década de 60, e dos quais, como já referiu o camarada Francisco Melo, que coordenou e prefaciou o volume, emerge o Rumo à Vitória obra que é um marco do pensamento político marxista-leninista no nosso país.

Neste tempo que vivemos, em que o domínio do grande capital lhe permite definir políticas e escolher os seus executantes, elevando brutalmente a exploração e a opressão; em que a desinformação organizada manipula conhecimentos e consciências; em que a ofensiva ideológica à solta instala hesitações, conformismos, medos – e em que, por isso mesmo, à intervenção dos comunistas e à luta dos trabalhadores são colocados novos e maiores obstáculos – a leitura e o estudo da obra de Álvaro Cunhal constitui uma necessidade imperiosa para os militantes comunistas.

Um dos ensinamentos que o camarada Álvaro Cunhal nos legou é o de que, sejam quais forem as circunstâncias existentes em cada momento, a luta é sempre necessária – e vale sempre a pena.

Luta de massas, luta ideológica, luta política que com clareza e determinação é no atual momento assumida com a nossa candidatura presidencial assumida pelo camarada Francisco Lopes que, de forma singular se afirma como o candidato dos trabalhadores, identificado com os seus direitos, com as suas aspirações e a sua luta. E é nessa perspectiva que olhamos para a situação atual e para o papel crucial da luta como resposta à política de direita e à ofensiva do capitalismo que pela sua dimensão e profundidade constitui uma autêntica declaração de guerra aos trabalhadores e aos seus direitos. Direitos que integram avanços e conquistas democráticas e civilizacionais hoje postas em causa. Então, cada luta é uma batalha das muitas batalhas que é preciso travar neste agudo confronto de classes.

Quando os ideólogos, defensores e seguidores do capitalismo apelam à resignação das massas trabalhadoras em nome das inevitabilidades e do não vale a pena, mais do que resignação o que estão a pensar e a exigir é a rendição sem condições.

Valorizando cada uma e todas as lutas, incluindo (como afirmava Álvaro Cunhal) as lutas mais modestas com objetivos concretos, consideramos que a decisão da CGTP-IN de convocar os trabalhadores para realizar uma Greve Geral no dia 24 de novembro, com a consciência da relação de forças existente constitui um ato de audácia que há de ser transformado em decisão corajosa e insubmissa de centenas de milhares de trabalhadores que a vão realizar. E como Álvaro Cunhal reflete e expressa na sua obra, sendo a luta o alicerce do processo de transformação social, temos sempre de ver mais além da conjuntura, animados e confiantes no nosso ideal e projeto para iniciar e edificar a verdadeira alternativa ao capitalismo – o socialismo.

Fonte: PCP