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Inglaterra: castiguem os ricos, não os desempregados

Os conservadores lançaram um ataque brutal às pessoas desempregadas para desviar as críticas dos verdadeiros parasitas: os ricos. O governo anunciou que os desempregados que solicitam auxílio deverão realizar trabalhos não remunerados.

Por Viv Smith*, em Socialist Worker

No Reino Unido existem pelo menos 2,5 milhões de desempregados. O plano de emprego dos conservadores ataca os desempregados. O programa de mão de obra barata agride-nos a todos. Os conservadores lançaram um ataque brutal às pessoas desempregadas para desviar as críticas dos verdadeiros parasitas: os ricos. Na semana passada, o governo anunciou que os desempregados que solicitam auxílio deverão realizar trabalhos não remunerados: caso se neguem a fazê-lo, perderão o subsídio.

Os patrões e a imprensa da direita estão encantados. O Daily Mail anunciou com alegria: “Numa nova ofensiva contra os parasitas sociais, os desempregados irresponsáveis terão de participar num programa de trabalho exigente, estilo EUA, que incluirá a obrigação de realizar trabalhos de jardinagem, limpeza de lixo e outras tarefas manuais por apenas 1 libra/hora”.

O programa tem por objetivo eliminar postos de trabalho e cortar custos ao utilizar mão de obra praticamente gratuita. Em troca, os desempregados maiores de 25 anos receberão um subsídio de 65,45 libras; os menores de 25, receberão apenas 51,5 libras.

O ponto de partida desta política é uma grande mentira: que existem muitos postos de trabalho disponíveis e que, se alguém não está a trabalhar, é porque não está a esforçar-se para isso. Em toda a Inglaterra há 459 mil postos de trabalho disponíveis.

Em média, cada emprego destes é disputado por cinco pessoas, num universo de 2,5 milhões de desempregados, sem incluir os 1,2 milhões de trabalhadores a tempo parcial que desejam trabalhar a tempo completo. E sem incluir também às centenas de milhares de pessoas que perderão os seus trabalhos graças aos cortes promovidos pelos conservadores.

Os desempregados não são os culpados mas sim as vítimas deste sistema, cujos autênticos responsáveis são os mais ricos e mimados, assim como os milionários conservadores. O gabinete governamental – onde abundam pessoas que nunca trabalharam na vida – planeia castigar pessoas como Louise Whiteside, uma escocesa de 23 anos. Licenciada na Universidade de Dundee com um título de primeira classe, não encontra trabalho.

Louise Whiteside contou à revista Socialist Worker: “Ontem solicitei um posto de camareira num hotel, para o qual se apresentaram outras 250 pessoas. Em três meses, já me candidatei para 150 trabalhos e distribuí o meu currículo por Edimburgo, Dundee e Dumfries e Galloway. Esforcei-me muito na universidade e não esperava passar por isso. Creio que terei que ir morar na casa de meus pais. São repugnantes as mentiras que os conservadores contam sobre nós que pedimos apoio no desemprego. Se querem estimular-nos a trabalhar, que nos dêem postos de trabalho, ao invés de os destruir”.

Mas os planos não se limitam a atacar os desempregados. Holly Smith, representante sindical de GMB no departamento de resíduos num município de Brighton, acreditam que todos os trabalhadores estão no alvo. “Se o patrão pode conseguir que alguém trabalhe sem remuneração, por que pagariam a outra pessoa?” – pergunta.

“As normas de segurança e saúde não são mais consideradas. Fazemos um trabalho físico duro, manipulando agulhas, vidros quebrados, vómitos. Eles esperam que esse serviço seja feito por pessoas sem formação, inclusive com problemas de saúde? É como a escravidão, uma forma de exploração”.

Frente aos cortes nos seus orçamentos, os município despediram os trabalhadores, que logo terão de fazer o mesmo trabalho gratuitamente.

Sindicatos

Há dez anos, quando um programa similar foi adoptado em Nova York, milhares de trabalhadores sindicalizados foram substituídos por desempregados. O novo programa prejudicará, sobretudo, as pessoas com menos capacidades, os pais solteiros e as mães solteiras, porque têm menos flexibilidade e muito menos possibilidades quando há tantos competidores.

Colin Hampton, coordenador dos Centros de Trabalhadores Desempregados de Derbyshire, afirma: “Quando um governo consegue que as pessoas trabalhem pelo apoio no desemprego, o trabalho de todos está em perigo. Primeiro deixam-te sem trabalho e, logo de seguida, dizem que é preciso habituar-se a trabalhar: é indignante”.

Em 2008, foram publicados dados sobre a revisão de programas similares aplicados nos EUA, Canadá e Austrália. Segundo os dados: “Há poucas provas de que a participação no programa incremente as possibilidades de encontrar trabalho. Inclusive pode reduzi-las, ao limitar o tempo disponível para a busca de emprego”.

Os conservadores pensam que os desempregados são fracos e impotentes. Temos de enfrentá-los, unindo trabalhadores e desempregados. É essencial que os sindicatos passem a liderar essa luta.

O problema é o desemprego, não que as pessoas sejam resistentes ao trabalho

Woods Keiths, de 37 anos, vive em Kent e formou-se como professor. Logo após a morte do seu pai, passou por uma crise e deixou de trabalhar. Já está há três anos desempregado e contou-nos o seu caso:

“Quando cheguei esta manhã ao centro de desemprego, estavam a falar do novo programa: as pessoas estavam furiosas. Todos perguntavam: E onde estão os trabalhos? Estou constantemente à procura de trabalho. Nos últimos meses, em Kent, foram oferecidas apenas cinco vagas para professores. Para a última vaga, apresentaram-se 80 pessoas, e era um emprego de apenas poucos meses. As outras ofertas da semana passada eram de soldador e de construtor, que requerem uma formação que não tenho, e um outro posto de emprego parcial nocturno, que tampouco posso aceitar porque perderia o meu apoio à habitação”.

“Sou obrigado a participar no programa Welfare to Work, o que quer dizer que tenho de me apresentar a uma empresa privada para trabalhar para ela, sem remuneração. Ofereceram-me uma função de fazer embalagens, 30 horas semanais, um trabalho que antes era ocupado por alguém que estava empregado. Para mim é deprimente pedir apoio no desemprego sem encontrar trabalho e ter de viver mal com o que recebo, sem poder mover-me socialmente. O problema não é que sejamos resistentes ao trabalho, o problema é que não há trabalho”.

Os lucros da Maximus

O novo programa “Welfare to Work” do Ministério do Trabalho é dirigido por uma empresa privada chamada Maximus. Nos nove primeiros meses de 2010, seus lucros aumentaram 19,4%, alcançando 131 milhões de libras. O seu director-chefe, Richard A. Montoni, obteve no ano passado uma remuneração de 2 milhões de libras. Parece que na Grã-Bretanha conservadora nem todos estão a sacrificar-se.

*Viv Smith escreve regularmente em www.socialistworker.co.uk.