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Controvérsia cambial: real forte eleva produtividade da indústria

O câmbio é apontado como uma fonte inesgotável de problemas no Brasil, mas os efeitos do dólar barato são contraditórios, inclusive no que tange à modernização e competitividade da indústria. Nos últimos quatro anos, empresas nacionais importaram US$ 124 bilhões em bens de capital, movimento que ajudou a dobrar a produtividade do setor
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Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento. Deste modo, o real forte está contribuindo para uma das maiores renovações do parque industrial brasileiro. O valor das importações de bens de capital entre 2007 e outubro deste ano (US$ 124 bilhões) impressiona porque significa mais que o dobro dos US$ 57 bilhões adquiridos entre 2003 e 2006.

Investimentos

São milhares de prensas, fresas, tornos, tratores e todo tipo de equipamento destinados a elevar a capacidade de produção do País. A desvalorização do dólar barateou as máquinas importadas e a crise global provocou uma "liquidação" de equipamentos no exterior.

A importação de máquinas e equipamentos (assim como de bens intermediários usados como insumo na produção) constitui, por definição, investimentos produtivos. As estatísticas indicam que a chamada apreciação cambial (valorização do real) ajudou a ampliar a taxa de investimentos da indústria brasileira. Como o crescimento da indústria é dado pelos investimentos produtivos é forçoso concluir que o real forte também tem a ver com a recuperação econômica e a expansão do PIB.

Inflação

Há outros aspectos positivos associados ao declínio do dólar, que sem dúvidas fortalecem o mercado interno. Cabe destacar a redução dos preços em real das mercadorias importadas, facilitando o controle da inflação e favorecendo o aumento do poder aquisitivo dos salários.

Os novos investimentos traduzidos nas importações de bens de capital também ampliam a oferta de produtos na economia, contemplando uma demanda crescente e reduzindo a pressão sobre os preços.

Mais máquinas também significam mais tecnologia. Cálculo da Consultoria Tendências mostra que a produtividade da indústria avançou 6% ao ano entre 2007 e setembro de 2010 – o dobro do registrado entre 2002 e 2006.

Mercado interno

Os investimentos brasileiros são capitaneados pela infraestrutura e pelo mercado interno. A Votorantim Cimentos comprou R$ 225 milhões em máquinas em meados do ano. Os equipamentos foram adquiridos na Dinamarca e na Alemanha e serão instalados nas oito novas fábricas de cimento que a empresa pretende construir até 2013.

A Klabin vai aplicar R$ 142 milhões na compra de máquinas para a produção de caixas de papelão ondulado. A empresa também vai instalar uma nova linha de sacos industriais no primeiro semestre de 2011. Segundo o diretor de suprimentos, Francisco Razzolini, essa área representa um terço dos investimentos.

"Várias empresas aproveitam a situação cambial para adquirir equipamentos e comprar ativos no exterior. No médio prazo, é positivo para o comércio exterior, porque garante ganhos de eficiência e redes de distribuição", disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.

Efeitos contraditórios

Para David Kupfer, coordenador do grupo de indústria e competitividade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ocorreu um "estouro" de importações de bens de capital quando o Brasil saiu da crise. Ele acredita que o atual ciclo de investimentos está só no início e deve durar muito mais. "Esse período se estenderá por sete a oito anos."

Os efeitos da valorização do real (assim como da desvalorização) são contraditórios e devem ser analisados à luz da dialética. Convivem ao lado dos aspectos positivos as consequências negativas, também refletidas no comércio exterior.

Ao mesmo tempo em que estimula importações (e não só de bens de capital), ao baratear os produtos adquiridos lá fora, a apreciação cambial deprime as exportações e pode culminar no que alguns economistas chamam de “doença holandesa”, uma progressiva desindustrialização da economia que acompanha o aumento das importações e a redução das exportações.

Verifica-se uma diminuição da competitividade internacional da indústria e acirramento da concorrência no mercado interno. "Nos últimos anos, predominou o efeito positivo do câmbio. Mas é evidente que caminhamos para o segundo efeito se tornar predominante, com a substituição da indústria nacional por importados", opinou Paulo Miguel, economista da Quest Investimentos.

Para evitar uma valorização excessiva do real e afastar o risco da “doença holandesa” o governo elevou a 6% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) incidente sobre investimentos externos de curto prazo em renda fixa. O problema maior, porém, é a própria política de câmbio flutuante, que amplifica a volatilidade e instabilidade dos mercados cambiais provocadas pela política monetária dos EUA.

Da redação, com agências