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Sindicalistas esperam maior greve da história de Portugal

A julgar pelas expectativas dos sindicalistas, Portugal terá nesta quarta-feira (24) uma das maiores greves gerais de sua história. Saúde e educação devem ser as áreas mais afetadas. O transporte funcionará a meia-boca. Trens não devem circular pelas ferrovias e muitos voos já foram cancelados. Os sindicatos pretendem garantir serviços mínimos em atividades essenciais.

A paralisação começa na zero hora de quarta e só será encerrada à noite. O movimento já repercutiu por aqui, onde a TAP comunicou a seus passageiros que os voos que chegariam ao Brasil de Portugal e vice-versa no dia da greve foram cancelados.

Revolta

Os trabalhadores estão revoltados com os rumos do país sob o governo social-democrata liderado por José Sócrates. Portugal segue o caminho da Grécia e Irlanda, cujos governos já entregaram o comando da política econômica ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e estão impondo pesados sacrifícios ao povo a pretexto de combater a crise.

O país ibérico acumulou uma dívida externa equivalente a 75% do PIB e convive com um déficit público que deve rondar a casa dos 10% neste ano. Afetado pela crise mundial, o governo também não economizou dinheiro público para preservar os interesses do sistema financeiro. Daí o aumento da dívida e do déficit.

Sócrates já anunciou cortes drásticos nos gastos públicos e privatizações para reduzir o déficit a 2,8% do PIB até 2013. As medidas incluem a diminuição das verbas sociais destinadas ao auxílio maternidade e apoio aos carentes, regras mais duras para quem recebe o seguro desemprego e forte arrocho do funcionalismo.

Risco de moratória

Isto não aliviou a situação. O chamado risco-país, definido pelas polêmicas agências de classificação das dívidas soberanas, continuou subindo e as taxas de juros cobradas pela banca internacional seguem na mesma direção. Cresce a possibilidade de moratória e, a exemplo do que ocorreu com gregos e irlandeses, o governo está sendo pressionado pela cúpula da União Europeia (leia-se Alemanha e França) a fechar um acordo com o FMI.

O argumento usado pelas classes dominantes é que tal caminho é o único viável para salvar a União Europeia e a moeda comum (o euro). Todavia, os representantes da classe trabalhadora não se deixaram arrastar por este canto de sereia e decidiram lutar para impedir que o ônus da crise gerada pela ganância dos banqueiros seja descarregado nas costas do povo. Os ricos também devem arcar com os prejuízos, na opinião dos sindicalistas.

A crise ocorre depois de quatro anos com crescimento fraco ou negativo do PIB português. Em 2005, a economia avançou apenas 0,94%, no ano seguinte, 1,4% e em 2007, o segundo “melhor” ano da década, 1,87%. Em 2008 o PIB começou a decrescer, terminando o ano com -0,02%. No ano seguinte, em consequência da crise financeira internacional, o PIB caiu -2,52%.

União das centrais

Pela primeira vez em 22 anos, a greve está sendo encaminhada conjuntamente pelas duas centrais sindicais do país. O alvo do movimento são medidas do governo como a redução de até 10% dos salários dos funcionários e o congelamento do valor das aposentadorias, entre outras.

O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP),Manuel Carvalho da Silva, criticou duramente as imposições da oligarquia financeira. “Estamos perante processos de agiotagem internacional e interna. Não há agiota que pare a agiotagem pela submissão das vítimas”.

O espectro do FMI

Por seu turno, o secretário geral da União Geral dos Trabalhadores, João Proença, afirmou que o governo Sócrates precisa rever suas prioridades e tomar medidas para reativar a economia. “Nós somos a favor da redução do déficit, mas não como objetivo central. Acreditamos que o primeiro objetivo deve ser o de criar riqueza e emprego”.

As orientações subordinadas ao FMI não se guiam por preocupações do gênero. Destinam-se, exclusivamente, a preservar os interesses de bancos e banqueiros e vão conduzir Portugal, Grécia, Irlanda e outros países ao pântano da estagnação. É por isto que o espectro do FMI perturba o sono das autoridades portuguesas e desperta a revolta popular.

Não custa lembrar que o Brasil, sob o garrote do Fundo, viveu mais de duas décadas perdidas no último quartel do século 20. Com as receitas que estão sendo impostas aos chamados primos pobres da Europa o destino de Portugal e dos elos mais frágeis do imperialismo europeu, hegemonizado pela Alemanha, não será muito diferente. Pode ser pior, a menos que a classe trabalhadora consiga mudar os rumos políticos da Europa, o que vai demandar muito mais luta, unidade e mobilização.

Da redação, Umberto Martins, com agências