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Governo irlandês enfrenta teste eleitoral após pacote de maldades

O governo da Irlanda enfrentará a primeira reação real às medidas de austeridade anunciadas quando os eleitores do condado de Donegal, no noroeste do país, forem às urnas nesta quinta-feira (25).

O plano quadrienal do primeiro-ministro, Brian Cowen, para combater o maior déficit orçamentário da Europa não conseguiu impressionar os investidores ou acalmar temores de que os problemas da Irlanda levem outras nações da zona do euro à crise.

O programa irlandês de 15 bilhões de euros em cortes de gastos e aumentos de impostos, revelado na quarta-feira, será a base para um pacote de resgate de cerca de 85 bilhões de euros concedido pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas as medidas de rigor fiscal, incluindo redução do salário mínimo e demissão de milhares de trabalhadores, devem consolidar a derrota do partido de Cowen, Fianna Fail, na disputa por um assento parlamentar em Donegal, diminuindo a maioria de Cowen para apenas dois assentos. O governista Fianna Fail detinha o assento, mas deve perder para o Sinn Fein na eleição suplementar.

Com a coalizão de Cowen implodindo em meio ao descontentamento público, a eleição de Donegal gera o risco de que o Orçamento de 2011 – a primeira medida do plano quadrienal – não seja aprovado no Parlamento em 7 de dezembro.

A não aprovação do Orçamento daria combustível à crise da Irlanda e da Europa, e analistas dizem que os principais partidos de oposição podem se abster de votar.

O partido de centro-direita Fine Gael e o partido Trabalhista não disseram se irão se abster e sua recusa a encorajar um consenso nacional sobre o Orçamento adiciona incertezas ao caminho fiscal da Irlanda.

Em Dublin, autoridades do FMI e da UE continuam a negociar um pacote de empréstimos para cobrir os custos de financiamento do governo irlandês e uma injeção de capital nos bancos. As negociações podem ser finalizadas no fim de semana, de acordo com fontes.

Imprensa

"Injusto" e "inevitável" são os adjetivos utilizados hoje pela imprensa irlandesa para classificar o plano de austeridade que será seguido pela Irlanda. A mídia se mostra receosa de que as medidas possam prejudicar a recuperação do país. 

O jornal Independent apresenta uma caricatura do primeiro ministro da Irlanda, Brian Cowen, e do ministro das Finanças, Brian Lenihan, com ambos a afirmar: "Estão todos desgraçados". O jornal diz ainda na edição de hoje que as medidas draconianas que serão seguidas pelo executivo irlandês são "dolorosas".

"São os homens e mulheres comuns que vão sofrer, enquanto que aqueles que estão na raiz do problema, os banqueiros e os políticos, continuam a estar relativamente ilesos", denuncia o irlandês Daily Mail, que alerta para o fato de "pelo menos" existir um plano.

O Irish Sun, por sua vez, afirma que "todo mundo vai ser atingido", ao mesmo tempo que acusa o primeiro ministro da Irlanda de "continuar a embolsar tanto quanto o presidente norte-americano", Barack Obama. "Cortes para todos, exceto para os políticos", é o título do Examiner, que acrescenta que "as pessoas comuns terão de suportar o fardo mais pesado".

Com o denominado Plano Nacional de Recuperação, o governo decreta a demissão de 24.750 funcionários públicos, cortes de um quinto dos investimentos sociais até 2014 e aumento de impostos generalizado, exceto para os setores mais ricos do país.

Apoio da União Europeia

O plano "draconiano" recebeu o apoio da Comissão Europeia, que avaliou que ele contribuirá para a estabilidade do país. "Saúdo o compromisso das autoridades irlandesas de reduzir o deficit para menos de 3% em 2014", afirmou o comissário europeu de Assuntos Econômicos, Olli Rehn.

O deficit público atual do país é de 32% do Produto Interno Bruto (PIB). "O plano fiscal de quatro anos é uma contribuição importante à estabilização das finanças públicas da Irlanda", acrescentou. "Saúdo os compromissos de reformas estruturais incluídos no plano. Essas medidas impulsionarão as exportações e a recuperação da demanda interna."

O presidente da União Europeia, Herman van Rompuy, disse que a situação de Portugal é mais favorável do que a da Irlanda, afirmando que o contágio da situação irlandesa a Portugal não tem bases racionais. Portugal está no centro das atenções após a Irlanda ter formalizado um pedido de ajuda ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e à União Europeia (UE). No entanto, para Van Rompuy, "se dizem que há um contágio, não é sobre uma base econômica, nem sobre uma base racional".

A "ajuda" à Irlanda e a crise do euro, causada pelos problemas financeiros de Portugal e da Espanha, serão temas nesta sexta-feira de uma conversa telefônica entre a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nikolas Sarkozy, segundo fontes diplomáticas em Paris e Berlim.

Nos últimos dias, a chanceler alemã afirmou repetidamente que aceita ajudar a Irlanda, mas só se este país tomar "rigorosas medidas" para consolidar as suas finanças. O governo alemão mantém assim as mesmas exigências que colocou em relação à Grécia.

A linguagem da União Europeia, assim comoo a do FMI, é a da chantagem. O povo irlandês será obrigado a pagar um preço amargo pela chamada ajuda.

Com agências