Capistrano: Carlos Marighella: herói do povo brasileiro

Carlos Marighella era mulato, filho de Maria Rita do Nascimento, uma afrodescendente, nascida em Salvador. O pai, Augusto Marighella, era italiano de Ferrara, região do norte da Itália. Marighela era baiano de Salvador, nasceu no dia 05 de novembro de 1911, assassinado pela repressão, sob as ordens do facínora Fleury, na cidade de São Paulo, em 04 de novembro de 1969, nesse dia ele tinha um encontro marcado com alguns frades dominicanos em um ponto no centro da capital paulista.

Marighella
Marighela foi um grande quadro da esquerda brasileira, duro sem perder a ternura, presença marcante na história do bravo Partido Comunista do Brasil.

Desde jovem, Marighella ingressou nas fileiras do PCdoB, participou ativamente da vida política do país, não media sacrifícios para cumprir as tarefas do partido, era um militante disciplinado, tendo uma visão crítica do seu partido, mesmo seguindo o centralismo democrático, regra fundamental de uma organização revolucionaria, quando discordou da linha política do partido, rompeu e procurou forma a sua organização revolucionaria, partindo para a ação armada. Marighella viveu os anos duros de clandestinidade, de repressão aos comunistas, período heróico da nossa luta. No período curto de legalidade do PCdoB foi eleito em 1946, por São Paulo, deputado constituinte.

Marighella, foi um estudioso do marxismo e da obra de Lênin, era ligado à cultura e as artes, principalmente a dramaturgia. Estudante do curso de engenharia teve que deixar a faculdade para se dedicar à luta do PCdoB. Sem temer conseqüências, participa de todas as movimentações políticas do partido, é preso mais de uma vez, continua firme nas suas convicções até o fim da sua vida, morre em ação.

Ana Montenegro, amiga de longos anos e sua companheira de partido desde 1945, sintetizou a personalidade de Marighella dizendo: “Ele era um homem de uma inteligência privilegiada, mas que não sufocava os demais. Uma inteligência horizontal, abrindo espaço para que todos pudessem opinar, contribuir e participar. Escutava as opiniões e as respeitava. É verdade que sua personalidade se nos impunha, muitas vezes, porque o admirávamos. Era eclético, não se limitava às discussões políticas. Gostava de todas as manifestações artísticas. Escrevia poemas e peças de teatro. Ensinava como se estivesse aprendendo. Não dava ordens e nem se apresentava com idéias acabadas. Aparecia, sim, com idéias arrojadas, audaciosas era um verdadeiro revolucionário.”

Ana Montenegro estava no exílio quando soube da morte de Carlos Marighella, ela registrou esse fato histórico no seu livro, Tempo de Exílio, além de publicar alguns acontecimentos da vida do seu dileto amigo, dedicou-lhe um belo poema.

Tive o privilegio de conhecer Ana Montenegro, um velha militante, que também dedicou toda a sua vida ao Partido e a causa comunista, ela falava de Marighella com admiração e entusiasmo. No inicio dos anos 80 do século passado Ana esteve em Mossoró participando da Semana de Filosofia quando iniciamos uma amizade que durou para sempre. Ana morreu aos 88 anos de vida, lúcida, participando das lutas populares do nosso povo. Ela era uma grande camarada, amiga de Marighella.

No dia 04 de novembro de 2010, completou 41 anos do assassinato de Marighella. Ele morreu na militância, combatendo, sonhando os sonhos possíveis de ser realizados, acreditando no socialismo e na humanidade. Seu companheiro de partido, colega na constituinte de 1946 e conterrâneo da Bahia, o escritor Jorge Amada, em discurso no sepultamento desse herói do povo brasileiro disse: Retiro da maldição e do silêncio, e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella.

Aqueles que desejam conhecer a vida e a obra desse grande brasileiro eu indico dois excelentes livros: Carlos Marighela: o homem por trás do mito, organizado por Cristiane Nova e Jorge Nóvoa, Editora UNESP, 1999 e, Batismo de Sangue: guerrilha e morte de Carlos Marighella, de Frei Betto, editora Rocco, 2006. Vale à pena ler esses dois livros, é a história do Brasil contemporâneo, muitas vezes “esquecidas” nos livros didáticos Portando, registro aqui essa singela homenagem a Carlos Marighela, herói do povo brasileiro, um herói latino-americano que não pode e não deve ser esquecido.

 

Antonio Capistrano é ex-reitor da UERN e filiado ao PCdoB