PCdoB Ceará avalia eleições 2010 e se prepara para novos desafios

Neste final de semana, dias 4 e 5 de dezembro, aconteceu a primeira reunião do Comitê Estadual do PCdoB no Ceará após a batalha eleitoral de 2010. Na pauta do encontro, a avaliação do processo eleitoral nacional, a situação pós-eleitoral com o novo jogo político tanto no Brasil quanto no Ceará e ainda a análise do partido no processo eleitoral – resultados, êxitos e identificação de debilidades para a busca de soluções.

Campanha PCdoB Centro

Além dos membros do Comitê Estadual, também participou da reunião José Reinaldo Carvalho, secretário Nacional de Comunicação do PCdoB e editor do Portal Vermelho. Em sua intervenção, o dirigente comunista ressaltou a atuação do partido nacionalmente e deu destaque às conquistas no Ceará. “Uma das vitórias mais contundentes do PCdoB foi aqui”.

Ele destacou a grande vitória das forças progressistas e democráticas do país com a eleição de Dilma Rousseff. “Esta foi, portanto, uma grande vitória do povo brasileiro. Pela terceira vez consecutiva, as forças retrógradas e reacionárias foram derrotadas no Brasil”. Ele considerou que até o fim do mandato de Dilma serão 12 anos com a marca das forças progressistas no poder que se opõem ao comando secular de forças conservadores no país.

Sobre a oposição

O secretário Nacional de Comunicação recordou que este ano a candidatura tucana assumiu uma feição ainda mais reacionária. A religião e o aborto, por exemplo, não foram assuntos periféricos na campanha, mas passaram a ser a tônica principalmente no 2º turno. “Eles fizeram uma campanha sórdida, baixa. José Serra (PSDB) revelou-se e se desmascarou por completo. O candidato tucano ainda tentava manter uma aura de ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), que foi exilado no Chile, mas tudo caiu por terra”.

Além disto, relembrou José Reinaldo, houve o bombardeio midiático, onde a grande imprensa tentou enganar o eleitor. “Apesar disso tudo, conseguimos eleger Dilma. Por isto tudo, esta vitória tem grande significado”, destaca.

Pontos positivos na campanha

O secretário considerou fatores importantes a inclinação do brasileiro para o lado progressista. “Este é um fato que tende a se consolidar. Cabe às forças de esquerda continuar alimentando isso”. Outro ponto positivo abordado é o perfil de Dilma. “Tem um grande significado eleger uma mulher com origens de esquerda, com passado revolucionário e cultura marxista”.

No geral, o conjunto do resultado eleitoral é favorável para o êxito do Governo de Dilma. “Mais de 70% da Câmara Federal é a favor do novo governo. Também tivemos uma margem significativa de apoio no Senado. Nos estados, 17 governadores eleitos apoiam a presidente. Como um todo, as forças que compõem a base de apoio da presidente tiveram expressivo resultado eleitoral”.

De acordo com o dirigente comunista, o PCdoB considera a vitória de Dilma uma conquista estratégica que simboliza avanços, além de barrar o retrocesso das forças de direita que mostram-se ainda mais isoladas no cenário político nacional. “Nossa conclusão é positiva”.

Cenário internacional

De acordo com José Reinaldo, o Brasil vem trilhando caminhos que estão na contra mão do cenário mundial. “Enquanto aqui a tendência da sociedade é fortalecer as forças democráticas, a situação internacional está complicada e a tendência principal não é a mesma. No mundo, a tendência é conservadora, ameaçadora, de instabilidade política e com sérias ameaças à paz internacional”.

Resultado do PCdoB

José Reinaldo Carvalho justificou que a análise das eleições não é feita isoladamente. “Temos que fazê-la como parte de um processo político que se iniciou em 2002, quando o partido decidiu enfrentar uma tática eleitoral mais ofensiva, de valorizar disputas majoritárias e participar de instâncias de governo. Antes, nossa participação era tímida”. Com o investimento em novas lideranças, o lançamento de chapas próprias, o PCdoB passou a ter mais espaço ainda junto à sociedade.

“Nosso crescimento ainda é lento, mas é gradual e consistente. Fazendo um balanço geral, de 2002 para cá, o PCdoB não registrou nenhum recuo ou derrota eleitoral”. Em 2006, o partido tinha13 deputados federais, neste ano elegeu 15. A eleição de Vanessa Grazziotin (AM) ao Senado amplia a bancada do PCdoB no Congresso — antes composta apenas pelo cearense Inácio Arruda. Em 2006 eram 12 deputados estaduais enquanto atualmente o número de parlamentares nos estados cresceu para 18. “Nosso crescimento é modesto, progressivo e real”. Além disso, o secretário ratificou que a contribuição da militância na campanha de Dilma. “Todo o partido esteve a serviço da campanha de Dilma. Este resultado deverá ser valorizado e levado em conta na formação do governo da nova presidente”.

Transição e tarefas do partido

Faltando menos de um mês para posse de Dilma, o secretário afirmou que é preciso realizar um debate amplo sobre o cenário político nacional. “Os novos nomes já estão mais ou menos definidos. Mesmo assim, para nós, a transição não deve ser vista – e não está sendo vista – apenas na indicação de nomes. O primeiro aspecto que precisamos debater é a discussão do cenário político. Estamos ressaltando o problema da crise internacional e a influência que ela tem sobre o país”.

O dirigente comunista afirmou que o PCdoB tem apontado problemas nas conversas iniciais com a presidente eleita. Entre as questões debatidas estão a proteção do Brasil na guerra comercial movida pelos Estados Unidos, o enfrentamento da guerra cambial, a luta contra o protecionismo americano, as discussões sobre o pré-sal e os métodos para avançar no marco regulatório e ainda as questões referentes ao salário mínimo. De forma não menos importante, mas menos emergencial, o partido também vem negociando a questão da redução da jornada de trabalho para as 40 horas semanais e ainda questões ligadas à saúde, educação e segurança.

Plano político na transição

“Tudo indica que pelo menos o começo do governo de Dilma será marcado, assim como foi durante a campanha, pela hegemonia petista. Áreas estratégicas do governo já têm nomes confirmados dentro da própria legenda. Esta é uma sinalização ruim”. Ainda de acordo com ele, “já tínhamos consciência desta tendência partidária, o que não quer dizer que devamos nos submeter a estas questões. Temos que encontrar soluções e contornar estes problemas para criar condições políticas e superar estes entraves”.

De acordo com José Reinaldo, depois de 1º de janeiro a orientação do PCdoB para sua militância será lutar pelo êxito do governo Dilma para que ele represente de fato o avanço nas mudanças iniciadas por Lula. “Iremos lutar pelas reformas estruturais neste país. Seremos força vigilante contra as anti-reformas”.

PCdoB e futuras tarefas

O secretário Nacional de Comunicação reforçou ainda outra tarefa que surge após a batalha eleitoral deste ano: discutir os problemas partidários. “É bem melhor debater fragilidades num quadro de avanço do que num cenário de derrota. Vamos aproveitar este momento importante da vida nacional e partidária para de maneira serena, firme e decidida enfrentar nossas pendências. É nosso dever como dirigentes reconhecer que o PCdoB ainda tem imensas fragilidades e vulnerabilidades”.

Ele falou da necessidade de reafirmar a identidade comunista do partido, reforçar a luta pelo programa socialista, aprovado no 12º Congresso, ligar o partido às massas populares e superar as debilidades da construção orgânica, sobretudo no que se refere às organizações de base e intermediárias.

Usando a colocação do presidente Nacional do PCdoB, Renato Rabelo, José Reinaldo Carvalho deixou um questionamento aos comunistas cearenses: Que partido nós queremos construir e para quê? “Reuniões como esta servem para colher o fruto e ver que nova plantação deveremos fazer. Temos que reunir meios para jogar um papel transformador no nosso país”.

Cenário no Ceará

Após a intervenção do membro do Comitê Central do PCdoB, o presidente estadual da legenda no Ceará também fez um balanço do partido no cenário local. Segundo Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), a disputa no estado teve grande ligação com a disputa nacional. “Toda a nossa campanha eleitoral no primeiro turno foi ligada diretamente à de Dilma. O PCdoB no Ceará teve um desempenho importante na campanha majoritária tanto no primeiro quanto no segundo turno”.

Em sua análise, Patinhas considerou que a campanha para o governo do estado tinha um resultado já previsível. “Quase não tinha oposição. A disputa esquentou na reta final com as falsas denúncias da revista Veja que foram repercutidas por aqui nos programas eleitorais das campanhas de Lúcio Alcântara (PR) e Marcos Cals (PSDB)”.

Até mesmo a disputa para o Senado parecia inicialmente decidida. “O que se propagava era que uma das duas vagas seria de Tasso Jereissati (PSDB) e a outra ficaria entre um dos dois candidatos da base aliada. Com isso, até a imprensa fomentou a disputa interna entre José Pimentel (PT) e Eunício Oliveira (PMDB). Só no último mês, na reta final, com a participação efetiva no rádio e na TV, que o presidente Lula e o governador Cid Gomes colocaram claramente para o povo que era preciso eleger os dois candidatos, situação que nós do PCdoB sempre defendemos, foi que potencializou a derrota do Tasso no Ceará e o declínio do PSDB no estado”.

Ele destacou a grande vitória do PCdoB no Ceará. “Nosso projeto central era a eleição de dois deputados federais – Chico Lopes e João Ananias. “Proporcionalmente, o Ceará é o estado com índice maior de comunistas na Câmara Federal”, comemora. O PCdoB no Ceará também manteve a sua vaga na Assembleia Legislativa cearense, elegendo Lula Morais com quase 36 mil votos. Além disso, Dr. Pierre, médico da região de Crateús, confirmou lugar na primeira suplência.

Diante de tantas conquistas, o presidente Estadual credita a consolidação da vitória nas urnas à participação de todo o conjunto partidário. “Vimos nossos prefeitos, vereadores, secretários, membros dos Comitês Municipais e toda nossa militância empenhados no nosso projeto. Vimos pessoas nas portas das fábricas, nas universidades promovendo o debate e tantas outras iniciativas positivas. Esta junção possibilitou nosso processo de crescimento eleitoral no Ceará”.

“Nos municípios liderados por comunistas, Dilma alcançou grande desempenho: no segundo turno, em Crateús, a presidente alcançou 77% do total de votos. Potengi, 83%; Maranguape, 84% e em Graça, 87%. Nossos prefeitos tiveram atuação marcante nestas eleições”. “Nosso partido sai mais forte e credenciado perante as forças aliadas e à sociedade de uma forma geral” ressaltou.

Reconfiguração do quadro político

Após definida a eleição no Ceará, os principais partidos de apoio ao governo — PSB, PMDB, PT, PDT e PCdoB, ao lado de outros da base aliada saíram fortalecidos.Já o PSDB surge como o grande derrotado nestas eleições. Perdeu espaço no Senado e no número de parlamentares eleitos. “Esta nova reconfiguração coloca forças de direita (PPS, DEM e PSDB) em processo de declínio e abre campo de crescimento para as forças democráticas e progressistas no estado”.

Análise 

O presidente Estadual não limitou ainda a uma análise de atuação do partido apenas às eleições deste ano. Segundo Diógenes, a vitória do PCdoB em 2010 fecha com êxito uma década de afirmação política do partido no estado. “Saímos mais fortes e com atuação crescente nas diversas frentes partidárias”.

“Na estrutura partidária, apesar das dificuldades, temos atualmente uma estrutura que nenhum outro partido no Ceará tem. Cumprimos um funcionamento permanente, construímos um espaço democrático de debate e com espírito de unidade”. Na frente institucional e eleitoral, em 2000, relembra Patinhas, o PCdoB disputou com Inácio Arruda o 2º turno com Juraci Magalhães a Prefeitura de Fortaleza. Em 2002, Inácio foi eleito o Deputado Federal mais votado do Ceará, com 302 mil votos. Em 2004 apesar da expectativa da vitória do PCdoB, Luizianne Lins foi eleita para administrar Fortaleza. Após a derrota, o PCdoB surge novamente como vencedor e retoma seu crescimento com a eleição de Inácio Arruda, em 2006, como o primeiro Senador comunista após Luis Carlos Prestes. Em 2006 também houve grande crescimento no número de filiação de prefeitos e lideranças em todo o Ceará.

Já em 2008, a eleição de cinco prefeitos – sendo dois deles nas dez maiores cidades cearenses (Crateús e Maranguape) – além dos 56 vereadores em todas as regiões do estado, mostraram em números a consolidação deste crescimento da legenda no Ceará. “Podemos dizer que 2010, com a eleição de dois deputados federais e a nossa manutenção na vaga de deputado estadual, vem como encerramento de um processo de consolidação do PCdoB no estado.

Diversas frentes de atuação

Ainda dando prosseguimento à sua avaliação do PCdoB nesta última década, Carlos Augusto Diógenes relembrou a atuação do partido nas diversas frentes. “Nos movimentos sociais avançamos com a organização da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) no Ceará, nossa principal força política que joga importante papel na articulação popular e na luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Também temos a maior juventude política organizada no país liderada pela União da Juventude Socialista (UJS). Estamos inseridos e organizados em diversas frentes”.

Na luta de ideias o PCdoB também participou ativamente da primeira Conferência Nacional de Comunicação e apoiou a democratização da mídia. “Procuramos incentivar espaços alternativos de comunicação. O Vermelho/CE é o único portal de esquerda que é atualizado diariamente e divulga ideias avançadas. Nosso jornal impresso A Classe Operária tem grande aceitação no Ceará. Mensalmente distribuímos cerca de 20 mil unidades nas portas de fábricas”. O comunista destacou ainda a atuação da Escola de Formação no estado.

“Fiz este balanço para mostrar que numa situação favorável como a que vivemos no país com a eleição de Dilma e com as bases política e ideológica que acumulamos, além do apoio de lideranças respeitadas no Ceará, conquistamos terreno para sonhar e pensar em 2022, ano do centenário do partido, em vivenciar um PCdoB bem mais forte”, projeta Patinhas. Segundo o comunista, “em 2005, por exemplo, ninguém pensava chegar a 2010 com a força que temos. Devemos trabalhar para estruturar uma força militante maior, politizada, atuante e organizada desde as bases. Precisamos de um partido com participação expressiva em executivos, nas casas legislativas, com forte influência nos movimentos sociais e com presença marcante no debate de ideias na nossa sociedade”.

Tarefas a curto e médio prazos

Dentro da avaliação pós período eleitoral, Carlos Augusto Diógenes também abriu espaço para já apontar os novos desafios que surgem. “Deveremos contribuir ainda mais para garantir os êxitos dos Governos de Dilma e Cid, além de ampliar nossa participação dentro dessas administrações. Também buscaremos reforçar as assessorias dos nossos mandatos, definir o foco e a atuação de cada um deles desde que estejam voltados aos trabalhadores, servidores públicos e universidades. Os deputados comunistas também deverão dar atenção especial às principais cidades do Ceará e onde os prefeitos são filiados ao PCdoB, bem como deverão buscar maior integração com nossos vereadores”.

Outro desafio que já surge para o PCdoB local é começar a debater o projeto eleitoral para 2012. “Iniciaremos as articulações do projeto eleitoral para 2012. Buscaremos alianças amplas e recursos materiais. Para mais este êxito, é necessário que o fator organizacional do PCdoB esteja mais forte e estruturado, com mais bases funcionando. O caminho passa pelo avanço na estruturação dos comitês municipais”. Ele relembrou que em 2011, o PCdoB viverá novamente o rico processo de conferências municipais e conferência estadual, época em que serão renovadas as direções partidárias.

Dentro dos desafios que surgem, Patinhas ressalta a atuação mais ampla dos comunistas. “Somos um partido que não vive só de período eleitoral. Atuamos também junto aos movimentos sociais e na luta de ideias. Deveremos reforçar ainda mais nossa atuação nessas outras frentes”. O dirigente comunista considera de grande importância, neste momento, o partido voltar suas forças para reforçar sua atuação nestes dois pilares. “No final, tudo caminha junto, não dá pra dissociar. Os movimentos sociais terão grande papel nesta nova fase”.

“Nunca a situação foi tão favorável para o PCdoB tanto no cenário nacional quanto no local. Devemos saber como conduzir o partido nesta fase favorável. Este é o momento de avançar e ocupar mais espaços, através de um trabalho integrado em todas as frentes. Devemos, com a nossa atuação, colaborar ao máximo para que o PCdoB alcance voos ainda maiores tanto no Brasil quando no Ceará”, finalizou.

De Fortaleza,
Carolina Campos