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Argentina: plano de habitação tenta frear ocupações e conflitos

O governo argentino e o de Buenos Aires chegaram a um acordo para financiar conjuntamente um plano de habitação na capital do país para pessoas de baixa renda, em uma tentativa de frear o grave conflito social envolvendo sem-tetos argentinos e imigrantes que começou há oito dias e deixou pelo menos três mortos.

O anúncio do acordo foi feito pelo chefe do Gabinete argentino, Aníbal Fernández, e pelo seu colega da capital, Horacio Rodríguez Larreta, após uma reunião de mais de duas horas entre os dois e ministros das duas administrações.

Fernández e Larreta advertiram que não terão acesso ao plano de habitação "com créditos brandos" os que ocuparem terrenos públicos e privados, tanto em Buenos Aires como no resto do país.

Fernández disse que "a cada peso que a cidade investir, o Estado nacional colocará outro", e explicou que para ter acesso à iniciativa o beneficiado deverá ter pelo menos dois anos de residência na cidade.

Larreta, por sua vez, indicou que a prioridade de acesso ao projeto será dos mais necessitados e precisou que o plano contemplará também a urbanização dos bairros com grande incidência de favelas.

O acordo foi anunciado uma semana após violentos enfrentamentos entre a Polícia e desabrigados que ocuparam o Parque Indoamericano. A polícia, que tentou remover o grupo, matou três imigrantes. Desde o fim de semana, mais de 13 mil pessoas viviam no local. Sem água e banheiros, os moradores do assentamento enfrentam o calor e reclamavam que a polícia não lhes permitia buscar alimentos fora dali.

A agência France Press informa que, após o anúncio do acordo entre os governos federal e municipal para o plano de habitação, os sem-teto desocuparam o parque.

Durante a turbulenta semana, argentinos contrários à presença de imigrantes em Buenos Aires realizaram violentos protestos pedindo a saída dos estrangeiros. Cerca de 40 pessoas atacaram com armas de fogo, pedras e paus os ocupantes do clube Albariño, em Villa Lugano, que pertence ao time de futebol Clube de Lugano.

Os imigrantes que estavam no local reagiram, atirando pedras. Segundo reportagem do jornal local Página 12, tanto a Polícia Federal quanto a Polícia Metropolitana estavam presentes no momento, mas não conseguiram impedir o ataque.

Em reação à violência, a presidente Cristina Kirchner anunciou na sexta-feira a criação do Ministério da Segurança, e ministros acusaram o prefeito oposicionista da capital, Mauricio Macri, de ter agido mal diante da situação e de ter negligenciado a periferia sul da capital.

Diálogo

De acordo com membros do governo argentino, o acordo só foi atingido após muitas negociações. "Sempre dissemos que a situação não seria resolvida com mais policiais, porque isso geraria mais violência, mas (Mauricio) Macri insistia na necessidade de mais forças policiais", afirmou o ministro do Interior, Florencio Randazzo.

Segundo ele, houve a tentativa por parte do governo da capital argentina de criar um "clima de ansiedade e instabilidade" para debater a situação no parque portenho. "Insistimos que era preciso paciência, serenidade e responsabilidade para lidar com este assunto", disse Randazzo.

Com agências