Sem categoria

Niko Schvarz: As provocações do vice-chanceler israelense

Em tom provocativo e fora das normas diplomáticas, o vice-chanceler israelense Danny Ayalon expressou nesta terça-feira (14) de maneira oficial a sua “decepção” e “mal-estar” diante das decisões adotadas dias antes (3 e 6 de dezembro) pelos governos do Brasil e da Argentina de reconhecer um Estado palestino independente nas fronteiras de 1967 (ao que se somará o Uruguai no primeiro semestre de 2011).

 O vice-chanceler teve o atrevimento de dizer que a diplomacia argentina e brasileira “caíram na armadilha que lhes armaram os palestinos” e culminou com impropérios contra o presidente Chávez, ao censurar sua aliança com o Irã. Poucas vezes se viu exacerbação semelhante nas práticas internacionais e um ataque desta ordem a um conjunto de governantes da região.

O primeiro pronunciamento do governo israelense contra as decisões da Argentina e do Brasil veio do porta-voz da chancelaria, Yigal Palmor, seguido pelo titular da mesma, o racista e xenófobo Avigdor Lieberman, que sustentou que o vocábulo “congelar” devia ser apagado do dicionário israelense. Ele aludia à proposta de manter a moratória proposta pelo seu governo (no papel) em relação às construções e assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Agora, o vice-chanceler reprova os países sul-americanos mencionados (aos quais, sem dúvida, seguirão outros da região, na mesma linha que já adotou uma centena de países do mundo) por haver fixado os limites do futuro Estado palestino nas fronteiras de 1967. Mas, de que outra maneira poderiam proceder? Por acaso há que se reconhecer o direito de conquista de Israel, que anexou territórios pelo uso da força, não apenas da Palestina, como também da Síria e do Egito? Mais ainda, neste momento a discussão está centrada no fato de que os palestinos reclamam, para retomar o diálogo com vistas a chegar a uma solução para os dois Estados, que sejam paralisadas as construções, e Israel se nega a isso de maneira intransigente. E enquanto o diálogo está paralisado, as construções prosseguem sem trégua. Em artigos da semana passada, cito múltiplos exemplos, e com o correr dos dias, outros foram agregados. Este é o nó górdio a ser desatado para retomar o diálogo. Mas, Israel quer impor a política dos fatos consumados.

Quando venceu formalmente, em setembro, o prazo para a paralisação da construção de novas casas e assentamentos, Obama solicitou uma breve prorrogação, ao que Netanyahu se negou. Os Estados Unidos ofereceram, em compensação, entregar a Israel 20 aviões de combate F-35 super-modernos, adicionais ao acordo vigente de assistência militar, e a promessa de vetar qualquer resolução contra Israel nos organismos internacionais. Israel ficou com os aviões e as promessas e seguiu construindo em ritmo acelerado em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia para recuperar “soi disant” o tempo perdido. E os Estados Unidos abandonaram o pedido de congelar a construção de assentamentos, ou seja, volta-se à estaca zero. Enquanto isso, o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, se reúne com seu homólogo Robert Gates em Washington para concertar suas ações.

Em um artigo publicado no La República consta que nenhum governo israelense aceitaria evacuar os aproximadamente 300 mil colonos israelenses residentes nos assentamentos. Esse é o xis da questão. E se agrava porque esse número segue aumentando sem cessar, o que torna a situação irreversível.

Os atos repressivos se multiplicam nas zonas afetadas. Vimos policiais israelenses que golpeiam e detêm menores palestinos em Jerusalém Oriental, na ausência de seus responsáveis. Um rabino do povoado de Tzfat, Shmuel Elyahu, firmou um decreto religioso que proíbe a proprietários israelenses alugar ou vender casas a não-judeus ainda que sejam cidadãos de Israel. A esta altura não menos que 300 rabinos aderiram a essa resolução, qualificada pela Anistia Internacional como “racista e discriminatória”.

O livro O Muro, do escritor argentino Gustavo Rojana, sustenta que a construção da enorme parede erigida por Israel tem o objetivo de apoderar-se de terras férteis, recursos naturais e aquíferos palestinos. O muro entra em alguns lugares até 20 quilômetros do limite e a partir dali começam as construções, que são edifícios de primeira linha e casas de concreto com todas as comodidades. Estima-se que existam cerca de 500 mil colonos ilegais vivendo na Cisjordânia e não apenas próximo à fronteira com Israel como em lugares como Jericó, no centro, expandindo-se até as zonas ricas em recursos e terras férteis.

Fonte: La República (Uruguai)