Câmara de Salvador entrega Medalha Zumbi a Mameto Xagui
O branco, cor de Oxalá e que simboliza a paz, tomou conta da Câmara Muncipal de Salvador na noite da última sexta-feira (18/12). Em sessão solene, requerida e presidida pela vereadora Aladilce Souza (PCdoB), a líder religiosa Mameto Xagui, mais antiga sacerdotisa do Terreiro Tumba Junçara, da nação Angola, foi homenageada com a medalha Zumbi dos Palmares.
Publicado 21/12/2010 09:32 | Editado 04/03/2020 16:19
Do alto dos seus 81 anos de idade e 74 de iniciada no candomblé, ela fez questão de agradecer a honraria. Mais do que qualquer outra comenda, a sacerdotisa disse que a Zumbi dos Palmares lhe incentivava a continuar lutando pela preservação das religiões de matriz africana e pelo respeito ao povo de santo.
Iniciada no candomblé aos 7 anos de idade, Carmelita Luciana de Souza, que recebeu do Tatá Ciriaco o nome de Xagui, assumiu a liderança do terreiro em 1977, após a morte de sua mãe, Archanja. Com mais de 40 filhos de santo, Xagui é uma das mais respeitadas líderes religiosas do candomblé no Brasil. Como explicou o Tatá Kivonda Kewannze, que fez uma saudação à homenageada e falou sobre a história do terreiro, a família Tumba Junçara deriva do Terreiro Tumbancé, casa de Angola mais antiga da Bahia.
Reparação estatal
Para a vereadora Aladilce Souza, homenagear Mameto Xagui é reverenciar “a resistência e determinação do povo do candomblé, religião que durante tanto tempo foi perseguida oficialmente pelo Estado brasileiro, proibida pela igreja católica e criminalizada mesmo por alguns governos”. É, também, acrescentou ela na saudação, uma das formas de publicizar que, apesar de toda a história de discriminação e perseguição sofrida, o candomblé prosperou nos quatro séculos e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura, em 1888.
Em levantamento recente, apresentado por Aladilce, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população) declararam seguir a religião de matriz africana. Em Salvador, são 2.230 terreiros registrados na federação Baiana de Cultos Afro-Brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA.
“Sabemos que intolerância e perseguição às religiões afro-brasileiras continuam ocorrendo. A liberdade religiosa expressa na Constituição Brasileira nem sempre é respeitada, inclusive recentemente tivemos registrados fatos de agressões policiais a sacerdotisas do candomblé”, refletiu Aladilce. “Por isso, mais do que nunca, a entrega da Medalha Zumbi dos Palmares a Mameto Xagui é uma devida reparação estatal a todo o povo do candomblé”, acrescentou a comunista.
A mesa da sessão foi composta com as presença da secretária estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Arani Santana; do secretário municipal da Reparação, Ailton Ferreira; de Nengua Mesoenji, do Terreiro Tumba Junçara; do professor Jaime Sodré, da Ufba e Tatá do Tumba Junçara; de Mona Inkise Kitembure, do Terreiro Tumbansé; de Hildete, do Terreiro Jitôlu; do babalorixá Cordeiro, do Terreiro Ilê Axé Ode Tola; e de Póla Ribeiro, diretor-geral do Irdeb.
Fonte: Ascom da Câmara de Vereadores de Salvador.