Javier Alfaya: PCdoB precisa de atuação mais sólida na cultura
Finalizando o ano de 2010, o Coletivo Nacional de Cultura do PCdoB se reuniu neste mês para avaliar o que foi feito e definir o que virá em 2011. Um dos pontos centrais para o trabalho do próximo período é implantar coletivos estaduais, fortalecer e consolidar o trabalho do partido na área cultural e divulgar o que tem sido feito. “A experiência que acumulamos é uma riqueza que o partido não percebeu que tem”, disse Javier Alfaya, coordenador do Coletivo.
Publicado 21/12/2010 20:19 | Editado 04/03/2020 16:19
Para ele, o PCdoB “precisa – e acho que vamos alcançar isso em curto prazo – de uma atuação mais sólida na cultura”. Na avaliação do deputado estadual pelo PCdoB da Bahia, é necessário sistematizar e debater as experiências que o partido vem acumulando na área e trabalhar para que a cultura faça parte do planejamento de ações dos comitês estaduais. “É uma experiência nova que precisamos divulgar mais até fazer com que as direções estaduais e municipais e a militância saibam da existência e participem do Coletivo”, salientou.
Nesse processe de consolidação, o Coletivo já marcou um novo encontro durante a Bienal da UNE, que acontece de 18 a 23 de janeiro no Rio de Janeiro. Lá, os comunistas que atuam na área se reunirão para conhecer melhor o trabalho que o partido e seus membros têm feito no meio cultural e discutir maneiras de consolidar e ampliar essa participação. Dentre alguns exemplos da participação dos comunistas nessa frente estão a experiência de Célio Turino na implantação e desenvolvimento dos Pontos de Cultura junto ao Ministério da Cultura; de Manoel Rangel na Agência Nacional de Cinema (Ancine); de Luciana Santos na prefeitura de Olinda e de Jandira Feghali à frente da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, entre outros. Também se destaca o diálogo que diversos governantes e parlamentares do PCdoB mantém com o movimento cultural. É o caso, entre outros, de Olívia Santana e Alice Portugal, na Bahia, e Tânia Soares, em Sergipe.
“Temos um conjunto de coisas que o partido fez e não sabe que fez, não capitaliza, não divulga. Em muitas esferas, o PCdoB aparece como um partido que pouca contribuição tem a dar na área da cultura, e não é verdade: já deu e ainda dá uma enorme contribuição, embora nossa militância ainda seja pequena”, ressalta Alfaya.
Segundo ele, é preciso fazer um mapeamento de toda a experiência que já foi e está sendo feita e a partir daí, estabelecer uma atuação mais bem articulada entre as frentes cultural, institucional e parlamentar e o partido, construindo um trabalho sistemático e regular. “Ainda temos muita dispersão e atuações isoladas ou em pequenos grupos espalhados por aí”, disse Alfaya. A ideia, disse, “é atingir um patamar mais elevado de participação de dirigentes, quadros e militantes em torno da luta cultural. Também temos que ter mais sensibilidade com a organização desses atores culturais e respeitar muito suas particularidades, levando em conta que eles poderão se organizar de sua própria maneira no âmbito do PCdoB”.
A luta a que se refere o dirigente também envolve a participação do partido junto à legislatura que tomará posse no Congresso em fevereiro de 2011 e no próximo governo Dilma. “Estamos nos articulando para que o partido mostre que, pelo mérito de sua experiência acumulada, pode ocupar espaços da administração pública”, disse.
Ao mesmo tempo, o partido buscará orientar seus parlamentares a atuar em prol de bandeiras culturais importantes no âmbito do Congresso Nacional. “Queremos trabalhar pelo Vale Cultura; pela aprovação da Emenda Constitucional a favor da aplicação, na cultura, de 2% dos recursos da União, 1,5% dos estados e 1% dos municípios, do Sistema Nacional de Cultura, do Plano Nacional de Cultura e da lei Pró-Cultura, que substituirá a Lei Rouanet, cuja relatora é a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA). Em suma, queremos fazer uma movimentação mais orgânica, organizada e dirigida dentro da estrutura partidária e dela para a sociedade a favor da pauta da cultura no Congresso”.
No âmbito do governo federal, os comunistas também contribuíram na formulação do programa de Dilma Rousseff. “O conteúdo de nossa contribuição foi dar ênfase à cultura como grande patrimônio vinculado à identidade nacional e, portanto, muito importante na luta pela execução de um projeto nacional de desenvolvimento”.
Outra contribuição, destaca Alfaya, “tem a ver com essa dimensão que a cultura ganhou no governo Lula – e que nós defendemos – que consiste em encarar a cultura, para além de seu caráter de patrimônio simbólico, como elemento econômico e social”.
Para Alfaya, além da escala econômica mais simples – que engloba o mercado do artesanato, por exemplo – “é preciso que o país tenha uma poderosa indústria cultural para não ficar sendo vítima da pressão e da formatação do mercado a partir dos interesses de multinacionais. Hoje até temos uma indústria, mas muito contida, mais estrangeira do que de capital brasileiro. Não temos, ainda, capacidade de distribuir nossos produtos nacional e internacionalmente”.
A música brasileira, por exemplo, lembra, “é muito querida e conhecida internacionalmente, mas não conseguimos concorrer com o derrame de produtos em escala planetária que a indústria fonográfica e de videoclipes internacional joga no mercado. Ficamos, então, em fatias muito pequenas, de muito reconhecimento cultural, mas de pouco consumo em larga escala”, compara.
De São Paulo,
Priscila Lobregatte