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Silvio González: Estados Unidos e a Amazônia

O forte interesse dos EUA para controlar a Amazônia cresceu até alcançar níveis alarmantes na última década. Os geopolíticos estadunidenses consideram que as características geográficas desse território, sua situação, suas fronteiras, clima, águas, florestas, minerais e outros recursos naturais determinam as formas de sua organização política, econômica, social e militar.

Por Silvio González*

A afirmação de que “espaço é poder”, feita pelo geógrafo alemão Frederico Ratzel (1844-1904), contém a ess~encia dessas concepções geopolíticas. A partir dela o general alemão Karl Haushofer (1869-1946), ao definir que o espaço geográfico é determinante para o desenvolvimento e poderio político de cada estado, encontrou “a razão” de que Adolf Hitler necessitava para justificar a expansão territorial da Alemanha nazista.

Hoje, os EUA usam concepções geopolíticas semelhantes para ampliar seu poderio em busca das riquezas contidas nesse “espaço vital” e concretizar suas aspirações hegemônicas na América Latina.

Suas aspirações sobre o território amazônico, cuja extensão é quase igual à do continente europeu, voltam-se à apropriação total do espaço geográfico que contém as riquezas extraordinárias do chamado pulmão verde do planeta.

O espaço geográfico drenado pelo rio Amazonas é compartilhado por Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa- um território que representa a 20ª parte de toda a superfície terrestre.

A extensão da chamada “Amazônia maior” é de 8.187.975 quilômetros quadrados, enquanto a bacia do Amazonas abarca um total de 5.147.970 quilômetros quadrados. A floresta amazônica, com mais de 60 mil espécies arbóreas, algumas das quais alcançam alturas que podem chegar aos 100 metros, é a região do planeta que mais oxigênio produz.

A Amazônia é a grande região natural que corresponde fisicamente à maior bacia hidrográfica do mundo. A bacia amazônica ocupa mais de um terço da superfície do hemisfério Sul e a rede hidrográfica da Amazônia, com seus mais de sete mil rios, possui mais de 20º das reservas de água doce do planeta.

A bacia amazônica e a zona andina estão entre as mais ricas do planeta no que se refere à diversidade biológica, uma das mais importantes fontes de matéria prima para a engenharia genérica e para a biotecnologia.

A Amazônia deu origem a lendários medicamentos para o tratamento de inúmeras doenças, cujo conhecimento transmitido de geração em geração, constitui o legado da sabedoria ancestral dos povos originários que por 2.300 anos moram ali, como os aruaque, os tupi e os guarani. Estes povos originários se veicularam cultural e comercialmente entre si, unindo a costa do Pacífico, o altiplano e a vertente oriental dos Andes.

Na Amazônia existem importantes jazidas minerais. Ali está a maior reserva de urânio empobrecido do mundo e grandes depósitos de ferro, nióbio, petróleo, metais e pedras preciosas e semipreciosas. O nióbio, por exemplo, está entre os minerais mais cobiçados devido à sua escassez na natureza. Sua aplicação mais importante é na produção de ligas metálicas para a indústria aeronáutica e naval.

Colonialismo, como no século16

Empresas, supostas organizações ambientalistas e missionárias, valendo-se da generosidade e da boa fé dos indígenas dessa região, tem se apropriado de conhecimentos antiguíssimos relacionados com as propriedades medicinais de muitas plantas que, posteriormente, patenteiam como descobertas próprias.

As potências do norte se apropriam de importantes espécies de plantas para usá-las como matérias primas em seus laboratórios e promovem o desflorestamento para satisfazer a demanda de suas indústrias. Este recurso cujo aproveitamento poderia ser tão importante para os povos sul-americanos, é prejudicado pela biopirataria estadunidense e europeia.

As florestas tropicais estão sendo gravemente ameaçadas pelas aspirações geopolíticas dos EUA. Segundo numerosos analistas, nos próximos anos a escassez de água no planeta será uma das principais causas de conflitos político-militares.

Da mesma forma que os primeiros colonizadores desembarcados nas Américas, hoje os EUA vêm na Amazônia não somente a maior reserva de matérias primas, água e minerais, mas também a possibilidade de enriquecer com recursos que, por direito, pertencem a outros. Pensam como os conquistadores espanhóis do século 16, que promoveram lendas como a de uma região paradisíaca onde existia uma fantástica cidade repleta de metais preciosos, seus habitantes possuíam grandes riquezas, e as terras eram excelentes para a exploração agrícola e pecuária. As Sete cidades de Cíbola, no norte de México, El Dorado procurado desde a Flórida até a Amazônia, a famosa Sierra de la Plata e o Rei Branco da região do Rio da Prata, e por fim a mais longeva de todas, a Cidade dos Césares, são lendas que não se podem esquecer com o passar do tempo. Esta última dizia: “a cidade dos Césares está encantada na cordilheira dos Andes, na margem de um grande lado. Na Sexta-Feira Santa pode-se ver, desde longe, como brilham as cúpulas de suas torres e os tetos de suas casas, que são de ouro e prata maciços…”

*Silvio González é chefe do Departamento de Difusão da Prensa Latina

Fonte: http://www.tercerainformacion.es