Elza Campos: "a pauta é ampliar e fortalecer políticas públicas"
Elza Campos participa há muitos anos da luta em defesa da emancipação das mulheres, como parte da sua luta em defesa da superação das opressões. Com viés emancipacionista e marcadamente classista, a coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM) fala sobre a postura da primeira mulher presidente do Brasil em relação ao debate de gênero e sobre as perspectivas da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM).
Publicado 13/01/2011 15:22

“A manifestação da presidenta, já indicando nove ministras mulheres é importante, porque são 34 ministérios, então as mulheres são 24% do total de ministros e ministras, o que demonstra uma mudança importante em relação ao governo Lula, quando apenas 11% dos ministérios eram chefiados por elas”, contata Elza Campos. A coordenadora da UBM considera que este ainda é um número pequeno, considerando que as mulheres são mais de 50% da população, que têm participação importante no mercado de trabalho e que as mulheres participam em “todas as instâncias da produção da riqueza no Brasil, em número quase igual aos homens”, pondera. “Levando isso em conta, o número de ministérios comandados por mulheres poderia ser maior, mas alguns partidos não indicaram mulheres. Entretanto, reafirmo que a demonstração da presidenta foi importante”, reforça Elza.
A militante faz questão da utilização do termo “presidenta” ao invés de “presidente”, e é em defesa desta resistência que argumenta: “há uma unidade no movimento feminista de romper com a linguagem tradicional, historicamente machista, e reforçar a identidade da mulher. O termo ‘presidenta’ reforça a perspectiva do empoderamento das mulheres, e rompe com essa linguagem que privilegia os termos masculinos. Em que pese o termo ‘presidente’ ser unissex, a utilização de ‘presidenta’, vocábulo presente nos dicionários, é um reforço de que se trata de uma mulher. A linguagem que está presente historicamente no mundo no geral é sexista porque reflete o espaço maior reservado para o homem nas várias instâncias da sociedade”.
A nova ministra
A respeito da nova ministra da SPM, Iriny Lopes, que é do PT do Espírito Santo, Elza Campos demonstra-se animada: “nós reconhecemos e ficamos bastante contentes com a atuação da ministra anterior, Nilcéa Freire. E reconhecemos também o histórico e a trajetória da Iriny na defesa dos Direitos Humanos. Em seu discurso de posse, a nova ministra fez boas declarações a respeito do direito da mulher sobre o seu corpo, o que indica que terá uma olhar dos direitos sexuais e reprodutivos, que lutará para romper com a discriminação histórica das mulheres. É um discurso importante, que acena com o movimento, assim como a defesa do Estado laico, que ela também fez”.
Elza apoia também o debate apresentado por Iriny de que as mulheres devem ser alvo das políticas dos diversos ministérios no sentido de combater a pobreza, obsessão da presidente Dilma Rousseff: “vivemos em uma sociedade de classes, em que um grande número de sujeitos vive em condição de vulnerabilidade social, e a parcela maior desse indivíduos é de mulheres, porque há uma feminização da pobreza. A Dilma disse que iria honrar com as mulheres, que vai governar para todos, mas particularmente para os pobres. Falou em combater a pobreza histórica, que recai principalmente sobre as mulheres, as mais atingidas pela pobreza estrutural”.
Para ela, a principal tarefa da SPM é ampliar e fortalecer as políticas públicas voltadas para as mulheres: “acreditamos na atuação da Iriny, não só para consolidar o que já foi conquistado, como para ampliar. A nossa pauta é ampliar e fortalecer as políticas públicas, efetivar, especialmente no campo do combate à violência. A Lei Maria da Penha é importante, mas ainda falta muito o que fazer no âmbito do combate à violência contra a mulher, pois o modo de produção capitalista perpetua esse tipo de violência, reforça a sociedade patriarcal, a subordinação da mulher”.
Feminismo emancipacionista, uma luta de caráter classista
Com a combatividade que caracteriza o movimento social, Elza faz questão de demarcar a pauta do movimento feminista: “a pauta fundamental é a participação política das mulheres. Há na SPM – e também no parlamento – projetos para o enfrentamento dessa condição de desigualdade histórica. Soma-se a esta, também a pauta da luta contra a violência, a dos direitos sexuais e reprodutivos, a do combate à morte materna, questões também pautadas pela Rede Feminista de Saúde”. Ao mesmo tempo, com a convicção de uma revolucionária, reforça o caráter de classe desta luta: “lutamos, enfim, pela repartição da riqueza que é construída no Brasil, combatemos a desigualdade, este é o centro do debate”.
Da redação, Luana Bonone