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China e Estados Unidos: tempos diferentes

As relações entre a China e os Estados Unidos vivem tempos diferentes no início do ano. Os contatos são frequentes, realidade que contrasta com igual período de 2010, quando fortes tensões marcaram o começo do ano.

Por Luis Melian, em Prensa Latina

Este janeiro passará à história dos vínculos bilaterais como um período único, a julgar pelos encontros bilaterais que acumulará e pela atividade diplomática associada a eles nas respectivas capitais.

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Os diálogos tiveram como ponto de partida a presença do chanceler, Yang Jiechi, nos EUA durante uma semana para preparar a visita que o presidente chinês, Hu Jintao, realizará a esse país de 18 a 21 próximos.

O programa de Yang foi intenso: conversações com o presidente, Barack Obama, a secretária de Estado, Hillary Clinton, os de Comércio e do Tesouro, Gary Locke y Timothy Geithner, respectivamente, e o assessor de Segurança Nacional, Thomas Donilon.

O chanceler chinês também se entrevistou com o senador Richard Lugar, os congressistas Rick Larsen e Charles Boustany, e o prefeito de Chicago, Richard Daley.

Esses contatos precederam a visita do secretario da Defesa norte-americano, Robert Gates, a Pequim, muito significativa porque resultou na normalização de vínculos militares seriamente afetados desde o inicio de 2010 pela decisão do Pentágono de vender armas a Taiwan.

A partir de então as tensões reapareceram com mais forças nas relações quando Pequim suspendeu os programas nesse campo, incluídas as conversações sobre segurança e uma visita de Gates, somente agora realizada, de 9 a 12 últimos.

Naquele momento a China qualificou a atitude dos EUA como ingerência em seus assuntos internos, ao prejudicar seriamente sua segurança nacional e os esforços de reunificação pacífica, segundo realçou.

A posição sobre o tema foi reiterada ao secretário da Defesa por seu homólogo chinês, Liang Guanglie, que reafirmou a rejeição de Pequim às mencionadas vendas, identificadas como um dos obstáculos para o normal desenvolvimento das relações bilaterais. A viagem de Gates, que conversou com o presidente chinês, Hu Jintao, e outras importantes autoridades, deixou como um de seus resultados a coincidência de opiniões quanto a explorar vias para reduzir os "malentendidos e erros", mas ainda está por se verificar se a mensagem relativa a Taiwan foi bem escutada. Caso contrário, as tensões reaparecerão.

Depois da missão do chanceler Yang em Washington e outras cidades e a do chefe do Pentágono em Pequim, tudo parece estar pronto para a visita do presidente chinês aos Estados Unidos.

A frase mais ouvida durante os preparativos se refere a que a viagem contribuirá para ampliar as relações, passo necessário quando a recuperação da economia global requer um bom desenvolvimento dessas relações.

Retomados os contatos militares de alto nível, que incluirão uma visita aos Estados Unidos no primeiro semestre do ano do chefe do Estado Maior Geral do Exército Popular de Libertação, Chen Bingde, o tema econômico constitui o outro grande campo necessitando de soluções urgentes para as divergências.

Nesse setor, o comércio e sobretudo o déficit estadunidense com a China constitui um tradicional terreno de enfrentamentos, que incluem as pressões da Casa Branca para que Pequim valorize sua moeda.

Washington atribui seu saldo negativo ao fato de que a posição chinesa no tema da taxa de câmbio favorece suas exportações ao torná-las mais baratas.

Mas a China rechaça esse critério com argumentos que o embaixador da China nos Estados Unidos, Zhang Yesui, reiterou recentemente.

Zhang insistiu em que o mencionado déficit e a elevada taxa de desemprego dos EUA resultam da diferença estrutural entre o comércio e os investimentos de ambas as economias, entre outras razões.

Explicou que as exportações chinesas são majoritariamente produtos de mão de obra intensiva com baixo valor agregado, que como os EUA deixaram de fabricá-los há tempos, agora são obrigados a importar do gigante asiático ou de outros mercados.

Por isso se adverte que uma apreciação da moeda chinesa não resolverá os citados problemas, mas como a Casa Branca ameaçou quem ela considere manipuladores de divisa – alguns nos Estados Unidos acusam Pequim disso -, o tema deve figurar nas conversações entre Hu e Obama.

Nesse campo a China mantém a posição de que o regime da taxa de câmbio tem a ver com a soberania de um país, e rechaça sua politização.

Outro assunto importante da visita de Hu Jintao aos Estados Unidos é a situação na Península Coreana, que se agravou depois do incidente de 23 de novembro passado.

Naquela data a Coreia do Norte respondeu a disparos contra suas águas territoriais feitos pelo Sul, incidente que Pyongyang qualificou de provocação instigada pelos Estados Unidos, e ao que a Coreia do Sul respondeu com um fortalecimento militar, inclusive com a realização de várias manobras militares.

Diante desses acontecimentos, a China propôs manter consultas entre os participantes das conversações de seis partes sobre a desnuclearização desse território para acalmar as tensões, iniciativa respaldada pela Rússia e a República Popular Democrática da Coreia.

Entretanto, Washington, Tóquio e Seul optaram por exigir um pedido de desculpas de Pyongyang pelo sucedido, entre outras condições apresentadas para um possível encontro com a referida finalidade.

O tema originou uma grande atividade diplomática que incluiu viagens à Coreia do Sul, China e Japão do emissário especial estadunidense para os assuntos relacionados com a RPDC, Stephen Bosworth, anteriores à viagem de Gates a essas capitais.

Com esses antecedentes Hu Jintao iniciará no próximo dia 18 sua visita a Washington, que ao menos terá lugar sem as tensões de um ano atrás.

Fonte: Prensa Latina