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Sob fogo cruzado, Tombini estreia no comando do Copom 

Governo diz que Selic começa a cair neste ano, via corte da dívida pública, mas mercado enxerga alta por pressão inflacionária 

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, comanda nesta terça e quarta-feira a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de sua gestão, pressionado por todos os lados. O mercado, sustentando o argumento da pressão inflacionária, defende alta da taxa básica de juros em, pelo menos, 0,5 ponto percentual no primeiro encontro deste ano. Atualmente, a Selic está em 10,75% ao ano. Já o governo de Dilma Rousseff, por sua vez, fez declarações públicas de que os juros devem começar a cair ainda neste ano, por meio da redução da dívida pública. 
 
Apesar da pressão do Planalto, há um consenso entre os analistas de que a autoridade monetária deve iniciar o ano com elevação da Selic. A tendência, inclusive, já estava definida no último relatório de inflação divulgado pelo Banco Central, em dezembro. “Com a política fiscal ainda indefinida e o comportamento da inflação é inevitável uma elevação dos juros nesse momento”, diz Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
 
Na avaliação de Flávio Serrano, economista sênior do Espírito Santo Investment, o Banco Central deve ter o foco no controle da inflação. “Por mais que o governo e a Fazenda não queiram uma elevação na taxa Selic, por causa da questão do dólar, é preciso combater a inflação que penaliza mais as classes com renda menor.”
 
Um dos argumentos utilizados pelo governo contra a alta dos juros é o diferencial das taxas no Brasil e no mundo, que atrai mais capital especulativo para o País e pressiona a valorização do real frente ao dólar. 
 
A expectativa do mercado para a taxa Selic no fim deste ano é de 12,25%, segundo dados do Boletim Focus, do Banco Central. “Após a forte mudança de posicionamento do comitê em meados do ano, quando tivemos de fato um período com números mais fracos de inflação e de atividade, o tom do último relatório de inflação e as declarações de alguns membros da autoridade monetária sinalizam na direção do início iminente de um ciclo de aperto monetário”, diz a Ativa Corretora, em relatório.
 
“Entretanto, acreditamos que já há de certa forma uma complacência do BCB com um IPCA acima do centro da meta em 2011, e os esforços parecem se voltar para a convergência da inflação apenas no ano seguinte”, completou.
 
Para Marcelo Salomon, economista-chefe do Barclays Capital, o IPCA deve encerrar o ano em 6,3% – acima do centro da meta de 4,5% estabelecida pelo governo. Ele, no entanto, acredita que a alta de 1,50 ponto percentual na Selic ao longo do ano é suficiente para conter o avanço da inflação.
 
“O cenário que vemos é de muito mais risco inflacionário. O que precisamos saber é como o governo vai calibrar a política monetária. Se ele vai tolerar mais inflação ou não”, diz Salomon. “Eu acho que ele vai ficar mais próximo da política monetária adotada em outros países. O Chile, por exemplo, já deixou claro que aceita mais inflação.”
 
Instrumentos
 
Para Leonardo dos Santos, economista da Austin Ratings, o Banco Central deve recorrer a outros instrumentos para conter o avanço da inflação e, com isso, aliviar a pressão por parte do governo. “Neste sentido, o BC deve seguir uma postura bem próxima a adotada durante a gestão de Henrique Meirelles”, diz. 
 
Marcelo Salomon, do Barclays, diz que o Banco Central deve tomar outras medidas macroprudenciais, como as adotadas no final do ano passado, com a elevação do depósito compulsório dos bancos, num enxugamento estimado de R$ 61 bilhões. “Deve vir um reescalonamento de requerimento de ativos de capital dos bancos”, afirma.
 

Uma hipótese é usar o programa habitacional Minha Casa Minha Vida como instrumento. Dessa forma, no crédito bancário até um determinado preço do imóvel, o banco não paga o aumento no compulsório. “O governo pode colocar várias alíquotas e calibrar o crédito para onde quiser.” 

Com informações do iG