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Biutiful, um filme pesado, mas também capaz de cativar

É preciso ressaltar o quanto chama a atenção o fato do mexicano Alejandro González Iñárritú, o diretor de Amores brutos (2000), 21 gramas (2003) e Babel (2006), ter ainda poucos filmes, mas fazer tanto barulho.

Por Camila Moraes, em Opera Mundi

Não é comum um cineasta latino-americano ter seus filmes reconhecidos pelo grande público, nem que esteja sempre presente em festivais que reúnem a nata do cinema mundial ou que colecione tantas estatuetas de premiações importantes. Tampouco que tenha o pé fincado em Hollywood e, ao mesmo tempo, seja uma figura admirada em seu país,como é o seu caso.

O que não significa, por outro lado, que Iñárritu seja sempre elogiado. É verdade que o impacto de seu valioso primeiro filme, que inaugurou uma certa fase de ouro para o cinema latino, não se compara à confusão grandiloquente de Babel, que coleciona mais críticas do que elogios – apesar de ter rendido ao currículo do diretor alguns reconhecimentos importantes (entre eles, o Oscar de melhor trilha sonora, criada por Gustavo Santaolalla).

É ao Oscar que Iñárritu tem chances de voltar este ano, com seu mais novo trabalho: Biutiful, que estreia nesta sexta-feira (21/01) nos cinemas brasileiros. O filme, que conta com a ótima atuação de Javier Bardem, é o pré-candidato mexicano à categoria de melhor filme estrangeiro e tem boas chances de levar o prêmio, já que foi indicado ao Globo de Ouro – evento considerado uma prévia da competição da Academia – na mesma categoria.

O fato do México ter escolhido esse filme, rodado na Espanha com um ator espanhol, para representar o país na mais badalada festa do cinema mundial foi surpresa para o próprio Iñárritu, que diz se sentir “muito grato”.

E grato ele deve estar. A vitrine do Oscar é, para ele, uma grande oportunidade de divulgar uma nova fase de seu trabalho. Passada a trilogia que o lançou como o cineasta das multi-histórias, Iñárritu abandona em Biutiful a “mania” das histórias entrecruzadas e abraça um só foco narrativo, centrado nos dilemas de um personagem principal.

A mudança coincide com o fim da parceria com o escritor mexicano Guillermo Arriaga, roteirista de seus primeiros três filmes, com quem Iñárritu já não pensa em trabalhar. Os dois romperam logo após o lançamento de Babel, quando Arriaga começou uma campanha em prol da figura do roteirista como autor dos filmes – e não somente o diretor.

Clássico, mas não muito

Falado em espanhol, Biutiful é a história dos últimos meses de vida do convalescente Uxbal, um homem em seus 40 anos que luta para manter os dois filhos pequenos com a ajuda de bicos que faz explorando imigrantes em Barcelona – ao mesmo tempo em que luta para conseguir-lhes trabalho.

Uxbal, personagem interpretado por Bardem, faz o melhor que pode: sabe que vai morrer e quer deixar para os seus filhos alguma forma de subsistência e, com sorte, um elo afetivo que garanta que eles não se esquecerão do pai.

Lançado em maio de 2010 em Cannes, onde foi o único representante latino-americano na competição pela Palma de Ouro, o filme vem colecionando elogios. Muitos deles são para Bardem, que ganhou o prêmio de melhor ator no festival francês, e outros tantos, como já se disse, representam o México (e a Espanha, já que é uma co-produção) em competições internacionais.

Se bem é verdade que o roteiro respeita uma trajetória linear, trazendo à tona uma face mais clássica de Iñárritu, não é difícil ver nele velhas obsessões do diretor: as relações entre pais e filhos, a tragédia humana de cada dia e, inclusive, as epidemias sociais (desta vez, os imigrantes ilegais na Europa).

Como em seus outros filmes, Iñárritu esfrega na cara do espectador todo tipo de fatos duros da vida. Biutiful é um filme pesado, construído – da câmera trepidante à fotografia escura– com matéria trágica, mas também capaz de cativar. Isso graças, provavelmente,a outra “obsessão”que faz de Alejandro González Iñárritu um cineasta que já circula entre os grandes: filmar um realismo capaz de gerar tensão e até de entreter.

Los tres amigos

Depois de estudar Comunicação, Alejandro González Iñárritu começou trabalhando em música e logo em publicidade. Foi locutor de uma grande cadeia de rádio na Cidade do México, onde nasceu, em 1963, e depois partiu os comerciais e para a televisão.

“Sou um músico frustrado”, afirmou, tendo criado trilhas sonoras para alguns filmes mexicanos nos anos 1980. No começo dos anos 1990 criou sua própria produtora, a ZetaFilms, para realizar comerciais, curtas e programas de TV. Atualmente, vive em Los Angeles e é um dos três diretores da ChaChaCha, a produtora que criou com outros dois cineastas mexicanos também badalados, mas ainda não tanto como ele: Alfonso Cuarón e Guillermo del Toro. Em Hollywood, eles são “Los tres amigos”.

Fonte: Opera Mundi