As forças por trás do massacre no Arizona
Em 8 de janeiro, vinte pessoas foram vítimas de disparos e seis delas morreram enquanto assistiam a um meting político da representante Gabrielle Giffords em Tucson, Arizona. As autoridades dizem que os disparos foram uma tentativa de assassinato da congressista democrata, que se encontra em estado crítico.
Publicado 26/01/2011 09:22
O atirador, Jared Lee Loughner, 22 anos de idade, foi capturado no local pelos assistentes no estacionamento de um supermercado e entregue à polícia. De acordo com os relatórios, é uma pessoa com distúrbios mentais e uma história recente de fascínio com a retórica de extrema-direita.
Até agora não aparece salientado nos meios de comunicação burgueses nem pela imprensa que Loughner tinha cúmplices no massacre de tantas pessoas. No entanto, poderão aparecer mais à frente indícios de uma conspiração. É bom não esquecer que toda a informação está nas mãos do FBI e das autoridades do Arizona – do Estado capitalista.
Independentemente de Loughner atuar só ou com cúmplices, o fato é que este foi um ato político. Não foi um novo Columbine. O seu objetivo era uma personalidade política que já tinha sido agredida verbalmente e ameaçada pela extrema-direita. O crime deve ser considerado no contexto da insidiosa ofensiva anti-laboral, anti-imigrante, sexista, racista, anti-muçulmano, anti-gay, e anti-Obama da direita republicana, através do Partido do Chá, que permitiu o aparecimento de um movimento neofascista ainda mais à direita.
Arizona foi o epicentro deste movimento. Até o esbirro de Pima, Clarence Dupnik, disse que Arizona se tinha convertido “na capital dos preconceitos da intolerância”. John McCain, o senador de Arizona que se propôs para presidente em 2008 com Sarah Palin, um promotor da guerra em sintonia com o Pentágono, é praticamente dono do estado. No entanto McCain não está tão à direita como Sarah Palin que na sua página Web durante as eleições de 2010 publicou um mapa com o distrito da representante Gabrielle Giffords, com uma espingarda apontada e as seguintes palavras: “Não retirem, voltem à carga!”
Este apelo a atitudes violentas, no entanto, não é um fenômeno exclusivo de Arizona. Em dezenas de Estados a planear alterar as leis de imigração baseadas na infame lei SB 1.070 de Arizona, o que significa que há poderosas forças da classe dominante a aliar-se a este racismo anti-imigrante.
A direita e a extrema-direita – e frequentemente também a «média» –- estão a aproveitar a crise econômica capitalista para lançar as culpas sobre os imigrantes, os muçulmanos, os sindicatos – sobre todos menos sobre os super-ricos que não roubaram apenas os salários e benefícios dos e das trabalhadoras, mas também os recursos sociais do governo, para garantirem os seus lucros, independentemente da crise.
A responsabilidade final deste ato sangrento é dos milionários e multimilionários que nos últimos tempos financiaram abundantemente a direita. Através do ex-congressista de direita pelo Texas Dick Armey, e a sua bem financiada fundação Freedom Works, a ultra-direita organizou durante o tímido debate do projeto de lei sobre os cuidados de saúde ataques racistas às reuniões públicas. Financiaram as “falsas reuniões do povo” que foram a base do Partido do Chá. Por outro lado, as corporações lançaram centenas de milhões de dólares na promoção de candidatos do partido do Chá e em geral da direita às últimas eleições
Em tempos de crise econômica e de desemprego massivo que dura já há três anos, este tipo de política de procura de bodes expiatórios serve os interesses da classe dominante, chegando mesmo ao cume do capital financeiro.
O FBI tomou conta do caso e tem a custódia de Loughner. É este mesmo FBI que tem atacado desenfreada e ilegalmente o movimento anti-guerra e que persegue os ativistas solidários.
Mas foi também o FBI que assistiu passivamente á criação pelos vigilantes armados do auto-denominado Projeto Minuteman formaram uma milícia fascista ao longo da fronteira Arizona-México e perseguiram abertamente os trabalhadores e trabalhadoras indocumentados. A resposta da administração Obama foi enviar mais tropas norte-americanas para fazer o mesmo que já faziam os membros do Minutemen, e em 6 de janeiro, um membro da Patrulha da Fronteira matou mesmo um jovem mexicano desarmado, de 17 anos de idade, Ramsés Barrón Torres.
O FBI, o Departamento de Segurança Nacional e outros organismos governamentais espiam e monitoram grupos de pessoas e indivíduos por todos os Estados Unidos. De acordo com vários relatórios, o assassino falou do Partido do Renascimento Americano, um conhecido grupo fascista, na sua página do Facebook. Pela sua conduta e pela apologia do livro de Hitler “Mein Kampf” deveria ser um suspeito digno de vigilância – se isso fosse o que o Estado capitalista andava à procura e não fechassem os olhos às atividades dos grupos de ultra-direita de recorte fascista.
Não se pode deixar de relacionar os elogios de Loughner a “Mein Kampf” com o fato de Gabrielle Giffords ser a primeira mulher judia a chegar à Câmara dos Representantes pelo Arizona e abertamente identificada como tal ao longo de toda a campanha eleitoral.
O governo Obama teve uma resposta frouxa sobre este massacre, tentando reduzi-lo a um acontecimento não político – E também Washington se manteve á margem enquanto o esbirro fascizante Joe Arpaio, do condado de Maricopa, criava um estado policial contra os trabalhadores indocumentados. Este refluxo reacionário é impulsionado pelos republicanos, mas também é alimentado pela debilidade dos líderes democratas e pelo abandono que estes fizeram de todas as questões que interessavam à classe trabalhadora, desde os cuidados de saúde e a Segurança Social, até aos direitos laborais.
Estas atrocidades são um alerta. O povo não pode confiar que o governo capitalista o proteja das investidas da ultra-direita e dos fascistas. As organizações progressistas, os grupos comunitários, os sindicatos e todos os apoiadores da justiça devem unir-se numa resposta massiva ao ódio e aos preconceitos da classe política e dos meios de comunicação.
É possível travá-los.
É a hora.
*Este texto foi publicado originalmente em Worker’s Party
Tradução de José Paulo Gascão para odiario.info