Lançamento da edição de luxo do Livro Geral de Carlos Pena Filho
A Prefeitura de Olinda lança na próxima terça-feira (15), às 19h, no Palácio dos Governadores, a edição de luxo do Livro Geral, obra do escritor pernambucano Carlos Pena Filho.
Publicado 15/02/2011 22:17 | Editado 04/03/2020 16:57
O projeto foi encomendado pela PMO, que pretende distribuir o livro em escolas e bibliotecas da cidade. O Livro Geral foi lançado por Carlos Pena Filho em 1959 e reúne a obra poética do escritor até então editadas, acrescida de novos poemas. Uma segunda edição do livro foi lançada em 1999. Entre os poemas publicados no livro está Desmantelo Azul, que reproduzimos abaixo.
O TEMPO DA BUSCA
Carlos Souto Pena Filho nasceu no Recife no dia 17 de maio de 1928. Cursou o primário e o ginásio (hoje ensino fundamental) em Portugal. Quando voltou ao Recife, estudou no Colégio Nóbrega e no Joaquim Nabuco.
Muito cedo começou a escrever e manifestar sua vocação poética. Em 1947, publicou no Diário de Pernambuco o soneto Marinha. Daí em diante continuou publicando seus poemas nos suplementos nordestinos e também em publicações do Sul do País. Suas composições passaram a ser lidas e requisitadas. Era saudado como promessa de um grande poeta da novíssima geração pernambucana.
Os primeiros sonetos e poemas escritos foram reunidos e publicados sob o título geral de O tempo de busca. Tempos depois, tendo se ligado ao grupo de O Gráfico Amador, Carlos Pena Filho publicou um longo poema intitulado Memórias do Boi Serapião, impresso nas oficinas da Rua Amélia com projeto gráfico de Aloísio Magalhães, sob a supervisão de Gastão de Holanda, Orlando da Costa Ferreira e José Laurênio de Melo. O poema é uma versão erudita do gênero de cordel e inicia de forma sentimental e melancólica, dizendo: “Este campo, vasto e cinzento/ não tem começo nem fim/ nem de leve desconfia, das coisas que vão em mim”.
Colaborou com o Diario de Pernambuco, Diário da Noite, Folha da Manhã, porém marcou sua atividade jornalística, principalmente, no Jornal do Commercio, onde dirigiu a seção Literatura, mais tarde intitulada Rosa dos Ventos.
A poética de Carlos Pena Filho, carregada de oralidade e musicalidade, possui forte apelo pictórico. Visual e plástico, o poeta “pinta” o poema com palavras. Dono de um lirismo envolvente é um poeta de imagens plásticas onde se destaca a cor, o movimento e a luz. Escreveu vários poemas tendo nos títulos a palavra retrato e cerca de uma centena contendo os nomes das cores ou referências a elas. Dentre estas, possuía forte interesse no azul, a ponto de se afirmar que se trata de uma "poesia vestida de azul".
Carlos Pena Filho morreu precoce e tragicamente no dia 1º de julho de 1960, vítima de um acidente automobilístico. Foi da redação do Jornal do Commercio, onde trabalhava, que pegou carona no carro de um amigo que se chocaria com um ônibus. No jornal assinou duas colunas: “Literatura” e “Rosa dos Ventos”. Cinco dias antes da sua morte, 26/6/60, foi publicado no “JC” seu último poema.
Olinda – Carlos Pena Filho
"De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.
As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente.
Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.
Tão verdágua e não se sabe
A não ser quando se sai.
Não porque antes se visse,
Mas porque não se vê mais.
As claras paisagens dormem
No olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
Só se reúnem na ausência.
Limpeza tal só imagino
Que possa haver nas vivendas
Das aves, nas áreas altas,
Muito além do além das lendas.
Os acidentes, na luz,
Não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
Nem há mar, nem céu, nem velas.
Quando a luz é muito intensa
É quando mais frágil é;
Planície, que de tão plana
Parecesse em pé."
PENA FILHO, Carlos (1983). Os melhores poemas. São Paulo, Global Editora.
SERVIÇO:
Lançamento do Livro Geral
Dia 15 de fevereiro 2011 – 19h
Palácio dos Governadores – Rua de São Bento, 123 – Cidade Alta, Varadouro – Olinda