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Pacote de Obama faz gasto com juros quadruplicar em 10 anos

O pacote fiscal anunciado recentemente pelo presidente dos EUA, Barack Obama, com cortes orçamentários no valor de US$ 1,1 trilhão, vai multiplicar por quatro, ao longo dos próximos 10 anos, os recursos destinados ao pagamento da dívida pública do país, que já equivale a quase 100% do PIB. A informação é do jornal The Washington Post, que publicou uma reportagem sobre o tema.

A publicação constatou que, se o texto for levado adiante, o governo dos EUA vai quadruplicar, em uma década, os gastos com pagamento de juros. Isso significa que “cada homem, mulher e criança [dos EUA] pagará mais de US$ 2.500 por ano para cobrir o desregramento ocorrido no passado”.

Comprando fiado

Ao longo de décadas Tio Sam consumiu muito além da renda que produziu, comprando fiado no exterior. O resultado foi a acumulação de uma dívida externa gigantesca, a maior do mundo. Já nos anos 1980, os EUA se transformaram de país credor em devedor e hoje ostentam a maior dívida externa do mundo.

Boa parte deste endividamento é público. Embora os débitos dos governos sejam definidos, a princípio, como dívida interna, isto não se aplica completamente aos Estados Unidos. Dada a baixa taxa de poupança doméstica e o papel especial do dólar no mundo, a dívida pública norte-americana é financiada principalmente por bancos centrais e investidores estrangeiros, transformando-se, nesta medida, em dívida externa.

Ironia da história

Associada à decadência da indústria local, cuja perda de terreno (ou mercados) para os competidores estrangeiros é refletida num déficit comercial crônico (que completa agora quatro décadas, já que foi iniciado em 1971), a dívida é a realidade subjacente ao declínio do poder econômico relativo da superpotência capitalista, corroído pelo parasitismo.

Por ironia da história, a China se projeta como a grande vitoriosa da chamada globalização e, também por isto, virou a maior credora dos estadunidenses. De certo modo, a prosperidade chinesa é a contrapartida do parasitismo e da decadência americana.

Financiando o parasitismo

Mercadorias baratas produzidas no interior do gigante asiático cruzam o Oceano Pacífico em grande volume para saciar a gula de Tio Sam, que tem um apetite aparentemente insaciável por importações. Este movimento, que não tem correspondência nas exportações dos EUA para a China, resulta num formidável superávit comercial a favor dos asiáticos. Em 2010, o saldo foi de US$ 181,3 bilhões, o que contribuiu para aquecer o contencioso entre as duas potências sobre política cambial.

As divisas obtidas na troca de mercadorias, uma espécie de lucro macroeconômico do país, são acrescentadas às reservas, que já são as maiores do mundo e somam quase US$ 3 trilhões. O dinheiro volta em parte para os EUA através da compra, pelo Banco Popular (banco central) da China, de títulos públicos emitidos pela Casa Branca. É a China financiando o parasitismo do império.

Deslocamento do poder mundial

O superávit e as reservas servem, também, para fortalecer a capacidade de investimentos externos do país em outros setores e países, ou, em outras palavras, a expansão financeira do país no exterior. Os chineses (nossos maiores parceiros comerciais desde 2009) responderam pela maior parte dos investimentos externos diretos no Brasil durante o ano passado.

Deste modo, o próprio mecanismo que estimula o endividamento americano e o financiamento externo do excesso de importações ajuda a promover o deslocamento do poder econômico mundial do Ocidente para o Oriente e dos Estados Unidos para a China, cuja expansão e influência no exterior ganha nova qualidade na medida em que se transforma em grande provedora de capital para investimento externo.

Financeirização do orçamento

A multiplicação (por quatro) da fatia do orçamento público dedicada ao pagamento dos juros mostra a lógica perversa do endividamento e da evolução dos juros compostos. No caso dos EUA, a dívida permitiu o excesso de consumo da sociedade no passado e vai cobrar um preço alto no futuro, através da mais que provável redução da qualidade de vida do povo.

Os cortes vão suprimir ou reduzir benefícios como subsídios para aquecimento de casas no inverno e programas sociais para bairros de baixa renda. Já o fabuloso orçamento militar será pouco afetado pela tesoura fiscal. Lembramos que o império responde por 50% das despesas bélicas no mundo.

O crescimento do estoque da dívida eleva a participação relativa dos credores na distribuição dos recursos públicos, operando uma espécie de financeirização do orçamento e subordinando cada vez mais a ação do Estado aos interesses da oligarquia financeira. Isto não lembra a polêmica em torno do salário mínimo e outras demandas no Brasil, onde as despesas com juros (consideradas sagradas) consomem mais de um terço dos recursos arrecadados pelo Estado?

Da redação, Umberto Martins, com agências