Estados Unidos: Líbia faz falcões se agitarem e baterem as asas
Quarenta neoconservadores dos Estados Unidos enviaram uma carta ao presidente Barack Obama pedindo que intervenha militarmente na Líbia para derrubar Muammar Gadafi e acabar com a violência.
Por Jim Lobe, na agência IPS
Publicado 28/02/2011 15:20
Os signatários são analistas políticos e ex-altos funcionários do governo de George W. Bush. A organização neoconservadora Foreign Policy Initiative (FPI), considerada a sucessora do Project for the New American Century (Pnac), coordenou a medida e divulgou o texto.
Alertando que a Líbia está “no umbral de uma catástrofe moral e humanitária”, a carta, divulgada no dia 25, exige a adoção imediata de medidas, entre elas a ação militar, além da imposição de uma série de sanções diplomáticas e econômicas (já anunciadas no mesmo dia pelo governo) para acabar com o “assassino regime líbio”.
Em particular, a carta pede a Washington que pressione a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para que “desenvolva planos operacionais a fim de enviar com urgência aviões de guerra” e, assim, impedir que o regime líbio utilize aparato bélico contra sua população civil. Também pede uma cobertura naval em águas líbias para “ajudar nos esforços de evacuação e preparar-se para possíveis contingências”, além de “inabilitar as embarcações líbias usadas para atacar civis”.
Entre os signatários da carta estão o ex-subsecretário de Defesa do governo Bush, Paul Wolfowitz; o principal assessor de Bush sobre Oriente Médio, Elliott Abrams; os ex-redatores de discursos de Bush, Marc Thiessen e Peter Whener, e quatro diretores da FPI (William Kristol, Robert Kagan, Dan Senor e Eric Edelman). Kagan e Kristol são cofundadores e dirigiram a Pnac entre 1997 e 2005. A carta da FPI foi divulgada em meio a uma crescente pressão sobre Obama para adotar medidas mais severas contra Gadafi.
No dia 25, dois senadores cujos pontos de vista sobre política externa frequentemente refletem um pensamento neoconservador – o republicano John McCain e o democrata independente Joseph Lieberman – pediram, em Tel Aviv, que Washington forneça armas aos rebeldes da Líbia, entre outras medidas, como a criação de uma zona de exclusão aérea sobre esse país.
No dia 23, Obama disse que sua equipe preparava uma série de opções para a ação. Também anunciou que a secretária de Estado, Hillary Clinton, viajará hoje para Genebra onde participará da reunião de chanceleres no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas(ONU), para debater possíveis medidas multilaterais. No dia 26, o Conselho de Segurança examinou sanções contra a Líbia.
Na década de 1990, os neoconservadores fizeram campanha a favor de ações militares contra os chamados “Estados dissidentes”, especialmente no Oriente Médio. Embora na última semana os neoconservadores estivessem entre os primeiros a exigir uma ação militar contra Gadafi, alguns destacados liberais e ativistas pelos direitos humanos apoiaram a reclamação. Entre eles, Neil Hicks, da Human Rights First; John Shattuck, encarregado de direitos humanos do governo de Bill Clinton (1993-2001), e Leon Wieseltier, da The New Republic.
Além disso, Anne-Marie Slaughter, que até o mês passado foi a influente diretora do escritório de Planejamento Político do Departamento de Estado, citou a campanha dos Estados Unidos e da Otan como possível precedente. “A comunidade internacional não pode parar e assistir ao massacre dos manifestantes líbios”, escreveu no Twitter. “Em Ruanda olhamos. Em Kosovo agimos”, acrescentou. Seus comentários geraram fortes reações ente alguns especialistas militares.
“Fico aterrorizado ao ler que intervencionistas liberais continuam sugerindo que crises humanitárias e conflitos regionais podem ser resolvidos com o uso do poderio militar”, escreveu Andrew Exum, especialista em contrainsurgência do Center for a New American Security. Isto “reflete uma compreensão muito imatura dos limites da força e das dificuldades e complexidades das operações militares contemporâneas”, acrescentou.
Outros analistas observaram que uma renovada coalizão de neoconservadores e intervencionistas liberais seria muito mais difícil de implementar agora do que durante as guerras balcânicas dos anos 1990.
“Agora temos Iraque e Afeganistão como sinais de advertência, bem como nossa crise fiscal. Por isto, não creio que em Capitol Hill (sede do parlamento) ou entre o público exista um grande apetite por outro compromisso militar”, disse Charles Kupchan, especialista do Council on Foreign Relations. “Apoio as medidas diplomáticas e econômicas”, mas não as que impliquem uma ação militar, “incluída a imposição de uma zona de exclusão aérea”, ressaltou.
Para Steve Clemons, da New America Foundation, “há algumas coisas que podemos fazer, como transportar por ar suprimentos humanitários até regiões fronteiriças onde há cada vez mais refugiados”. Contudo, digo que “só o faria com pleno apoio da Liga Árabe e da União Africana, se não da ONU”, acrescentou.
Fonte: Envolverde