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Economia dá sinais de desaceleração, mas BC deve aumentar juros

Hoje não será um bom dia para a economia nacional. No fim da tarde, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve anunciar uma nova alta dos juros básicos, provavelmente de 0,50%. É mais uma ducha de água fria nas atividades produtivas, que já emitem claros sinais de desaceleração.

Em janeiro deste ano a produção industrial permaneceu praticamente estagnada em relação a dezembro do ano passado. Avançou 0,2%. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o crescimento foi de 2,5%. Na média móvel dos três últimos meses terminados em janeiro, já se observa uma queda de 0,2%.

Confiança em baixa

Em janeiro, o Índice de Confiança da indústria de transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) caiu 1,5%, descontadas as influências sazonais, na comparação com dezembro. Com esse resultado, o índice, que é uma espécie de indicador antecedente da produção industrial, praticamente devolveu todo o ganho registrado de novembro para dezembro (1,6%).

Segundo a pesquisa, que consultou cerca de mil indústrias no mês passado e avalia a situação atual e as perspectivas, os empresários detectaram em janeiro queda de 1,7% no nível de demanda global em relação a dezembro. Também houve recuo de 5,4% no indicador de situação atual dos negócios de dezembro para janeiro, descontado o comportamento normal do período.

Menor nível

"O índice de situação atual dos negócios atingiu em janeiro o menor nível desde novembro de 2009", observa o coordenador de sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo. No mês passado, 26,1% das empresas consideravam a situação atual boa, ante 29,9% em novembro de 2009, quando a economia iniciava a fase de recuperação.

Os resultados mais modestos da indústria no início do ano já haviam sido detectados pelo sensor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que mede as perspectivas dos empresários. Com exceção de investimentos, que seguem forte com 50,8 pontos, os demais componentes do indicador apresentaram resultados tidos como preocupantes. Números acima de 50 são considerados positivos. No geral, o indicador ficou em 50,2, marca superior à de dezembro (47), porém inferior à de janeiro de 2010 ( 53,9).

Investimentos e estoques

"Se não fosse o investimento estar mantido, as outras variáveis levariam o sensor para um número inferior a 50", afirma o diretor da Fiesp, Paulo Francini.

Outro indício de que a economia começa a se ajustar a um ritmo de crescimento menor é o nível de estoques na indústria. Pelo segundo mês seguido, a fatia de empresas com estoques excessivos aumentou, de 5,2% em dezembro para 6,3% em janeiro, segundo a FGV. E os produtos indesejáveis se concentraram nos itens de vestuário, alimentação e eletrodomésticos da linha branca, cujas vendas são afetadas pela alta dos preços e o aperto no crédito, respectivamente.

Varejo

Dados preliminares do comércio de janeiro mostram um ritmo menor de crescimento das vendas a prazo e à vista. Após encerrar dezembro com alta de 13,6% no volume de consultas na comparação anual, a velocidade caiu para 10,5% na primeira quinzena de janeiro. E o resultado do mês fechado, que será divulgado hoje pela Associação Comercial de São Paulo, deve ficar abaixo de 10%, calcula o economista da entidade, Emílio Alfieri.

Ontem, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, Sussumu Honda, disse que a inflação dos alimentos deverá afetar as vendas dos supermercados no primeiro trimestre de 2011. O setor fechou 2010 com crescimento real de 4,2% na receita ante 2009.

A mudança de rota na evolução da economia reflete as medidas adotadas desde o fim do ano passado pelo Banco Central, como o aumento dos depósitos compulsórios e a elevação dos juros, medidas adotadas sob pretexto de evitar o superaquecimento da economia e interromper a escalada da inflação. A retirada dos incentivos fiscais concedidos pelo governo durante a crise também contribuiu para a desaceleração.

Ajuste fiscal e Selic

O contexto de desaceleração deve ser agravado pela política monetária conservadora do BC, que promete para a noite desta quarta-feira (2) um novo aumento da taxa básica de juros (Selic). Outro fator adicional para o esfriamento das atividades ao longo dos próximos meses é o corte de R$ 50 bilhões nos gastos e investimentos públicos, anunciado pelo governo supostamente para sinalizar ao mercado financeiro e aos credores da dívida pública o compromisso com o ajuste fiscal.

No frigir dos ovos quem perde é a nação brasileira, que pelo visto terá de se contentar com um ritmo de crescimento medíocre ou mesmo um novo ano de estagnação. Enquanto isto, na Ásia a China planeja um crescimento de pelo menos 7,5% ao ano para o próximo quinquênio, a Índia segue atrás, também em ritmo acelerado, a exemplo de outros países do continente e, desta forma, o poder econômico mundial vai se deslocando rapidamente do chamado Ocidente para o Oriente.

Da Redação, com agências