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Imperialismo pressiona emergentes por concessões comerciais

A rodada Doha da Organização Mundial do Comércio deverá continuar em coma, apesar dos apelos de alguns líderes das maiores economias do mundo reunidas no G-20. A crise acentuou o unilateralismo das nações, especialmente das potências capitalistas, que mantêm posições intransigentes em relação aos pesados subsídios agrícolas ao mesmo tempo que exigem abertura no setor industrial, onde desfrutam maior vantagem relativa.

A política comercial dos Estados Unidos para 2011 estará diretamente voltada para pressionar os principais países emergentes – China, Brasil e Índia – a abrirem mais seus mercados e, dessa forma, reduzir o desemprego americano, hoje em torno de 9,5%.

Dois pesos, duas medidas

Em documento divulgado ontem, o USTR, um órgão executivo para comércio exterior ligado diretamente à Presidência, aponta que nos dez anos de rodada, os três países se tornaram as economias que mais crescem no mundo e que as concessões que devem fazer necessitam ser proporcionais ao novo status.

“Cada um desses países tem de olhar não apenas seus próprios interesses na hora de decidir por medidas de liberalização comercial, mas também promover o crescimento econômico global”, diz o relatório de 443 páginas, que também faz um balanço das ações comerciais dos EUA em 2010.

É um argumento hipócrita, orientado pela mania imperialista de usar dois pesos e duas medidas, que convenientemente esquece a conduta dos EUA na questão agrícola e em relação à política monetária unilateral e irresponsável, que está promovendo inflação e guerra cambial em todo o mundo.

Interesses unilaterais

O tom do documento não poupa Brasil, Índia e China de críticas, especialmente pela atitude defensiva nas negociações que envolvem abertura para produtos não agrícolas (Nama). O governo americano alega que, enquanto os países desenvolvidos se comprometeram a jogar suas tarifas de importação abaixo de 8%, os emergentes ficaram com tarifas muito maiores e com “grandes flexibilidades”, que lhes permitirão manter tarifas em centenas de “produtos manufaturados estratégicos”. Essas divergências principais, e uma centena de outras importantes, quase destruíram a rodada Doha, até ela ser interrompida em 2008.

Ronald Kirk, que dirige o USTR, foi mais enfático em apontar os interesses americanos: “Para que as negociações permaneçam relevantes, devem levar em consideração o mundo como ele é hoje e será nos próximos anos. Nossas demandas para os países emergentes-chaves continuarão a se basear na proposição razoável de que países com aumento rápido de seu grau de competitividade global e sucesso nas exportações precisam estar preparados para contribuir significativamente para a liberalização do comércio.”

Na verdade, não é o livre comércio que está em jogo, mas os interesses unilaterais de um imperialismo decadente. Do contrário, seria preciso considerar igualmente a necessidade de eliminar os subsídios da agricultura, setor em que a vantagem relativa é dos países em desenvolvimento, especialmente o Brasil.

Cadáver insepulto

Por sinal, Kirk deixou claro que o objetivo real é que as exportações sirvam para criar mais e melhores empregos para os americanos. Segundo o USTR, cada US$ 1 bilhão exportado em produtos industriais cria 6 mil empregos. A mesma quantia em serviços gera 4,5 mil empregos. São vagas de melhor qualidade, que pagam 18% acima da média nacional de salários.

A crise evidenciou o declínio da indústria estadunidense, refletido no escandaloso déficit comercial. A política econômica dos EUA, interna ou externa, visa exclusivamente reanimar a produção do setor e enfrentar a crise do mercado de trabalho, traduzida por um nível de desemprego próximo de 10%. É mais um sinal de que a Rodada Doha não passa de um cadáver insepulto.

Da Redação, com agências