Mídia mente para legitimar intervenção estrangeira na Lìbia
Nas primeiras 24 horas de sua chegada a Trípoli, o jornalista italiano do jornal Il Manifesto, Maurizio Matteuzzi, comprovava que muitos dos acontecimentos divulgados pela mídia ocidental — e também pela árabe como a al-Jazira e al-Arabiya —, não correspondem à verdade.
Publicado 02/03/2011 13:29
Em uma nota divulgada pelas agências de notícias ocidentais divulgou-se que o presidente líbio Muamar Kadafi havia ordenado o bombardeio de civis em Trípoli, deixando um saldo de 250 mortos.
"No início da noite a situação na cidade era de máxima tensão, com cadáveres retirados das ruas e contínuos disparos, que podem ser ouvidos em vários bairros da cidade, entre eles disparos de artilharia pesada, segundo constatou a Efe".
De acordo com Matteuzzi, Bargawi Badri, um ginecologista líbio que mora em Trípoli e tem família na Itália, recebeu naquele dia um telefonema de parentes, alarmados com o que estavam escutando nos noticiários. Segundo eles, o bairro de Fascilum havia sido bombardeado. Badri, com supresa, negou o bombardeio e disse a seus parentes que naquele momento estava tomando uma bebida em um café do bairro.
Outra faceta de manipulação midiática foram as tais fossas comuns, cujas fotos deram a volta ao mundo na capa dos principais jornais do mundo.
Matteuzzi foi até Tadjoura, nos arrabaldes de Trípoli, onde supostamente se encontrava a tal fossa. Para suas surpresa não encontrou nada. Na realidade, encontrou um cemitério tradicional onde os coveiros realizavam seu trabalho habitual e repleto de lápides normais.
A terceira grande faceta midiática apareceu também nas capas de muitos jornais: "Os rebeldes conquistaram a base aérea de Mitigar".
O jornalista italiano viajou até o local. A base aérea estava tranquila e vigiada por guardas. Não havia rastro dos rebeldes.
Outras mentiras sobre a situação
Logo no início das manifestações populares, o ministro de Relações Externas do Reino Unido, William Hague, declarou em Bruxelas que Kadafi estava de malas prontas para fugir para a Venezuela. As suas declarações foram publicadas sem nenhuma confirmação de sua veracidade, em uma miríade de mídias de todo o mundo.
Tanto o chanceler venezuelano Nicolás Maduro como o próprio Kadafi, por meio de uma transmissão de TV a partir de Trípoli, desmentiram o boato plantado por Hague.
O ministro britânico disse que tal informação tinha sido obtida pela espionagem britânica na Líbia. O governo venezuelano tachou de irresponsáveis os comentários de Hague, que até agora não pediu nenhuma desculpa por ter divulgado uma inverdade.
Por sua vez, a agência espanhola de notícias, Efe, divulgou uma "informação" afirmando que, em Trípoli, "aumentam os rumores de que Kadafi e todos os seus filhos já fugiram do país, e inclusive lamenta-se a morte de um dos principais conselheiros e mao-direita do líder líbio". Essa informação resultou ser falsa também.
Os meios de comunicação al-Arabiya e MBC forma mais além e deram Kadafi por morto. Passadas algumas horas o líder líbio surgia diante das câmeras de televisão, direto da Praça Verde, no centro de Trípoli, falando para seus apoiadores, um fato que desmentia os tais meios.
Legitimar uma intervenção estrangeira
O jornalista Maurizio Matteuzzi pôde comprovar com os próprios olhos que não existiam fossas comuns em Tadjoura, que não era certo que Fascilum e outros bairros da capital tivessem sido bombardeados. Tampouco era certo que a base aérea de Mitiga tivesse sido tomada pelos rebeldes. Nem que Kadafi tivesse fugido para a Venezuela ou que estivesse morto.
Diante de tantas menritas, o jornalista denunciou a existência de uma campanha de desinformação que tem como objetivo chocar a opinião pública internacional, para legitimar uma possível intervenção militar da Otan.
Na última segunda-feira, os Estados Unidos posicionaram seus barcos e porta-aviões no Mar Mediterrâneo na costa da Líbia. O porta-voz do Pentágono, David Lapan, reconheceu que "agiria caso necessário".
Ao mesmo tempo, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, advertia que "todas as opções estavam sobre a mesa" para derrubar do poder Kadafi
Fonte: inSurGente.org Internacional – África