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Sem Kassab, DEM muda comando nesta 3ª e aposta tudo em Aécio

Em mais uma tentativa de renovação, depois de um longo período de disputas internas e sob ameaça de grande debandada, o DEM elege nesta terça-feira (15) seu novo comando nacional. A expectativa é de se manter como o segundo maior partido de oposição ao governo.

Com a presidência do DEM garantida, o senador Agripino Maia (RN) reconhece que sua principal tarefa será harmonizar e reorganizar a legenda. Nos próximos dias, os “demos”, já divididos, deverão perder seu maior mandatário, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

O partido aguarda, até a convenção desta terça, a resposta oficial de Kassab, para legitimar ou não a presença de pessoas de seu grupo na nova composição da Executiva Nacional. O prefeito paulistano pretende criar o PDB (Partido da Democracia Brasileira) – mas deve ficar no DEM até que o novo partido seja reconhecido pela Justiça Eleitoral.

Depois de atravessar sua pior crise interna, o DEM (ex-PFL) deve assegurar a influência majoritária do senador Aécio Neves (PSDB-MG) como preferido do partido para as eleições de 2014. Mais do que ser mera legenda de suporte para a campanha presidencial de um político tucano, o DEM quer deflagrar a estratégia nacional para assegurar sua sobrevivência política.

A ideia do partido é investir nos eleitores da classe média, especialmente aqueles que chegaram há pouco tempo nessa faixa, impulsionados pela ascensão que tiveram durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na avaliação dos dirigentes do DEM, essa nova classe média é conservadora nos costumes e cobra uma atuação mais presente do Estado.

Nessas análises, o comando do partido concluiu que esse grupo de eleitores demanda uma participação direta do governo – mas de uma forma diferente do que se imaginava. Não se trataria de estatizar empresas ou rechaçar privatizações, mas, sim, de exigir que a administração pública garanta a eficiência de serviços públicos – nas áreas de educação, saúde e segurança, por exemplo.

"A pessoa que agora tem dinheiro para comprar um aparelho celular quer que esse serviço seja bom. E quer também que o preço caiba no fim do mês no seu orçamento. E isso eles não recebem do Estado", diz o atual presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), que apoia seu sucessor, Agripino.

Para o comando do partido, as eleições de 2010 teriam demonstrado que esse eleitor é conservador e ficou órfão de um candidato especificamente voltado para ele. Por conta disso, teria migrado para a candidatura de Marina Silva ( PV), justamente porque ela empunhava publicamente algumas bandeiras de interesse desse grupo, como a oposição à legalização do aborto.

A convenção do DEM também pode marcar o fim de uma disputa interna que quase provocou a implosão do partido. A causa da saída de Kassab é que seu grupo, interessado em assumir o poder no partido e promover uma guinada em seus rumos, acabou saindo derrotado. Kassab leva com ele a administração da maior prefeitura do país – mas também carregará alguns representantes da ala mais conservadora.

Para o ex-prefeito do Rio César Maia, a ocasião é perfeita para que o partido consiga consolidar sua refundação. O movimento foi iniciado com o abandono do nome PFL, em 2007, e baseado na tentativa de caminhar para uma ideologia desvinculada da velha Arena. "Diria que essa convenção do dia 15 de março é o velório da Arena e será a afirmação do DEM", afirma Maia.

Para ajudar a conter o esvaziamento, a cúpula dos “demos” acionou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) – o DEM administra 70 cidades paulistas. O apelo para que Alckmin agisse de forma mais incisiva para segurar prefeitos, deputados e vereadores no DEM foi feito há 15 dias e reforçado semana passada pelo líder na Câmara, ACM Neto (BA).

Durante jantar entre as bancadas do PSDB e do DEM, em Brasília, ACM Neto falou com Alckmin pelo telefone. Disse que sua intervenção poderia ser útil, por exemplo, para segurar os deputados Junji Abe, Eli Correa Filho e Walter Ioshi, que é suplente. O tucano se comprometeu a atuar junto a eles e aos prefeitos do interior, onde tem grande influência.

Além de Kassab, a mais importante dissidência deve ser a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, que deve acompanhá-lo na criação do PDB (Partido da Democracia Brasileira). A cúpula do DEM estima entre seis e oito as baixas na bancada de 46 deputados federais. Já no Senado não deve haver defecções imediatas, a senadora Kátia Abreu (TO), antes propensa a sair, deve ficar por ora para depois analisar o quadro partidário.

A proposta de alojar aliados do prefeito na nova Executiva do DEM cairá por terra uma vez confirmada a desfiliação do grupo. Com isso, serão abertos espaços para acomodar os que ficarem.

O grupo do ex-senador Jorge Bornhausen – que chegou a cogitar deixar o partido com Kassab – ficará com os três postos mais importantes depois da presidência. O ex-vice-presidente da República Marco Maciel (PE) presidirá o conselho político, o deputado Marcos Montes (MG) será secretário-geral, e o ex-deputado Saulo Queiroz permanecerá tesoureiro.

Fora o prefeito, os políticos de maior expressão que devem desembarcar no novo partido são o governador do Amazonas, Omar Aziz, hoje no PMN, e o vice-governador da Bahia, Otto Alencar, filiado ao PP. Tão logo se confirme a saída de Kassab e aliados, o DEM deve ingressar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com uma consulta sobre se a criação de um partido para posterior fusão a outro fere a fidelidade partidária.

Da Redação, com agências