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História: PCdoB estreou na Alesp em 1947 e já teve 21 deputados

Ao tomarem posse como deputados estaduais nesta terça-feira (15), Leci Brandão e Pedro Bigardi darão continuidade a uma história iniciada há 64 anos. Foi apenas em 1947 que o Partido Comunista do Brasil passou a ter representação na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), fundada em 1835.

Por André Cintra

A “estreia” comunista ocorreu na primeira eleição estadual após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) e o governo Vargas (1930-1945), que legalizou a legenda. Na época, São Paulo era um dos estados em que o partido tinha mais força.

O órgão oficial da legenda no estado — o jornal Notícias de Hoje, ou simplesmente Hoje — foi criado em outubro de 1945 e era um dos oito diários mantidos pelos comunistas no Brasil. Ninguém menos que Caio Prado Júnior — que já se firmava como um dos grandes intelectuais do país — abriu as portas de sua editora Brasiliense para abrigar a redação do jornal.

Em novembro de 1946, na iminência de eleições para a Assembleia Constituinte paulista, a legenda divulgou o manifesto “Uma Constituição democrática e progressista para São Paulo”, que sintetizava, em sete pontos, o programa partidário. Operários, artistas, escritores e profissionais liberais se lançaram candidatos a deputado estadual sob a legenda vermelha.

A 15 dias do pleito, marcado para 19 de janeiro de 1947, os comunistas declararam apoio a Adhemar de Barros, que concorria ao governo pelo Partido Social Progressista (PSP). A adesão foi decisiva para a vitória de Adhemar, com 35% dos votos — ante 30% do PTB e 26% do PSD.

11 deputados

A grande demonstração de força dos comunistas se deu na disputa à Assembleia Legislativa. O partido emplacou a terceira maior bancada, com 11 deputados — o PSD elegeu 26 e o PTB, 14.

O candidato comunista mais votado foi o médico Milton Cayres de Brito — que já se elegera deputado federal em 1945, mas renunciara ao cargo. Nas eleições de 1947, ele teve 17.692 votos. Foi seguido pelo metalúrgico Mautílio Muraro (10.041 votos), pelo tecelão Roque Trevisan (8.530) e pelo professor João Taibo Cardoniga (8.329).

O próprio Caio Prado, com 5.257 votos, foi um dos eleitos, assim como o secretário político do partido em São Paulo, João Sanches Segura (6.267 votos). Também se elegeram Armando Mazzo, Catulo Branco, Clóvis de Oliveira Neto, Estocel de Moraes e Lourival Costa Villar.

A posse ocorreu em 14 de março de 1947, no Palácio das Indústrias, sede recém-inaugurada do parlamento paulista, no Parque D. Pedro II. Milton Cayres foi o primeiro líder da combativa bancada comunista, sendo sucedido, no final do ano, por Caio Prado.

Três suplentes do partido — Celestino dos Santos, Mário Schenberg e Zuleika Alambert — chegaram a assumir o cargo. Uma cisão no PTB — que perdeu metade de seus deputados — fez dos comunistas, a certa altura, a segunda maior bancada da Alesp.

Mas o partido, alvo de crescente repressão, não conseguiu chegar ao término da legislatura. Traído no estado por Adhemar de Barros e perseguido pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, a legenda teve seu registro cassado em 7 de maio de 1947 e foi obrigada a atuar na clandestinidade. Em 8 de novembro, menos de nove meses após a posse, Mautílio Muraro renunciou.

Para garantir seu pleno funcionamento, o Partido Comunista recorreu, sem êxito, à Justiça, em busca de um habeas corpus. Dutra, alinhado aos Estados Unidos em meio à Guerra Fria, ainda sancionou, em 7 de janeiro de 1948, a lei que extinguiu, definitivamente, o mandato de todos os parlamentares eleitos pelo partido.

Cinco dias depois, os primeiros deputados estaduais do partido em São Paulo perderam definitivamente o cargo e se despediram da Assembleia Legislativa. Vários deles foram presos nas semanas e nos meses seguintes.

Os outros deputados

Os comunistas ficaram de fora da Alesp por 35 anos. Em 1983, o ex-vereador Benedito Cintra, eleito com 60.752 votos, assumiu uma vaga na Assembleia pelo PMDB, que abrigava as legendas comunistas, ainda na clandestinidade. Dois anos depois, com a legalização do PCdoB, Cintra passou a representar oficialmente o partido no Legislativo paulista.

Em 1991, o médico e sindicalista Jamil Murad se tornou o 16º deputado estadual na história do PCdoB-SP. Foi também o primeiro comunista a se reeleger para o cargo, quatro anos depois. Entre uma disputa e outra, Denis Carvalho — que também era médico — saiu da suplência para tomar posse já com a legislatura de 1991-95 em vigência.

Na disputa eleitoral de 1994, além de Jamil, o partido comemorou também a vitória do sindicalista Nivaldo Santana. Os dois parlamentares comunistas foram reeleitos no ano de 1998. Já em 2002, Nivaldo conquistou nas urnas seu terceiro mandato, enquanto a vereadora paulistana Anna Martins se converteu na primeira mulher comunista a vencer um pleito à Alesp.

O engenheiro Pedro Bigardi, suplente na última legislatura (2007-2011), assumiu o cargo por pouco mais de um ano, quando já havia trocado o PT pelo PCdoB. Nesta terça, Bigardi e a sambista Leci Brandão iniciaram o mandato na 18ª legislatura e renovaram a trajetória comunista na Alesp. Leci, eleita com 86.298 votos — o melhor desempenho de um candidato do PCdoB a deputado estadual por São Paulo —, é a 21ª comunista a representar o partido no maior Legislativo estadual do país.