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China suspende projetos de novas usinas nucleares

Pequim ordenou uma inspeção “imediata e completa” à segurança das suas infraestruturas nucleares e suspendeu, temporariamente, qualquer aprovação de projetos para novas centrais nesta última quarta-feira (16), depois de uma reunião do Conselho Estatal da China – presidido pelo primeiro-ministro Wen Jiabao.

Além disso, ordenou uma avaliação exaustiva dos 27 reatores nucleares em construção neste momento, que representam 40% do número total de reatores em construção no mundo.

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A China é o maior consumidor de energia do planeta e tem, atualmente, 13 reatores nucleares em funcionamento, todos próximos da linha costeira. Mas o Governo chinês não anunciou o fim da exploração das centrais nem o adiamento dos trabalhos em curso.

Segundo a Associação Nuclear Mundial, a China quer construir 110 reatores nucleares nos próximos anos, como parte do seu plano para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis.

No sábado, o vice-ministro da Proteção do Ambiente, Zhang Lijun, garantiu que serão tiradas “lições” da crise nuclear no Japão. “Mas a China não vai alterar a sua determinação e os seus projetos de desenvolvimento de energia nuclear”, acrescentou.

Transparência

Nesta quinta-feira o país pediu que o Japão forneça informações precisas e atualizadas em relação à escala de seu desastre nuclear. O porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Jiang Yu, disse que as autoridades dos dois países estão cooperando para trocar informações sobre os riscos do acidente nuclear japonês, em meio a suspeitas de algumas nações sobre a escala do problema.

"Esperamos que o Japão informe o mundo de maneira precisa e atualizada sobre o que está acontecendo no local e dê sua avaliação e seu prognóstico da situação à medida que avança", afirmou o porta-voz.

Quarta (16) o chefe da Agência de Regulação Nuclear dos Estados Unidos (EUA), Gregory Jaczko, disse acreditar que a área ao redor da Usina de Fukushima Daiichi, onde estão sendo registrados incidentes com os reatores nucleares, está registrando "altos níveis de radiação".

O Departamento de Estado dos EUA pediu aos norte-americanos que deixem todas as áreas em um raio de 80 quilômetros da Usina de Fukushima – área mais abrangente que a zona de exclusão de 20 km aconselhada pelo governo japonês.

Ao longo do dia de hoje, o Japão intensificou os esforços para resfriar os reatores da usina. Helicópteros militares CH-47 Chinook começaram a jogar água nos reatores três e quatro de Fukushima para tentar evitar o derretimento de bastões de combustível nuclear.

As aeronaves descarregaram quatro cargas de água antes de deixar o local para tentar reduzir ao máximo a exposição das tripulações à radiação. Canhões de água deverão ser incluídos na operação, que tem como objetivo resfriar os reatores e também repor a água da piscina de resfriamento para bastões de combustível nuclear usados.

A agência de segurança nuclear do Japão informou que a piscina utilizada para resfriar combustível usado no reator 4 da usina nuclear de Fukushima segue sendo uma grave preocupação. Mais cedo nesta quinta-feira, a agência afirmou que não podia confirmar se há água na piscina.

Baixas concentrações de partículas radioativas, no entanto, estão saindo da usina nuclear danificada em direção ao leste e deverão chegar ao norte do continente americano em alguns dias, previu Lars-Erik De Geer, diretor de pesquisas do Instituto Sueco de Pesquisa em Defesa, uma agência do governo.

Ele citou dados de uma rede internacional de estações de monitoramento criada para detectar sinais de testes com armas nucleares. Enfatizando que os níveis detectados não são perigosos à saúde das pessoas, ele previu que as partículas devem seguir viajando pelo Atlântico e eventualmente chegar à Europa.

"Não é algo que você vê normalmente. É somente uma questão de atividade muito, muito baixa, então não é nada com que as pessoas devem se preocupar. No passado, quando eles tinham testes com armas nucleares na China… havia nuvens similares a esta todo o tempo e ninguém se preocupava muito com isso", disse ele por telefone em Estocolmo. De Geer acrescentou estar convencido que, em breve, essas partículas serão detectadas em todo o hemisfério norte.

Estoques

O mau funcionamento dos caixas eletrônicos e a ameaça de cortes de energia são hoje motivo de medo para a população de Tóquio, onde milhões de pessoas começaram a estocar arroz e outros mantimentos e permanecem trancadas em casa ou aglomeradas nos aeroportos com medo da crise nuclear no Japão.

O excesso de saques em algumas agências do banco Mizuho fez com que a instituição provocasse a paralisação abrupta de centenas de caixas eletrônicos, e o governo alertou para a possibilidade de grandes apagões.

O banco Mizuho alegou que desligou os caixas eletrônicos por causa de uma "concentração de operações" em algumas agências não identificadas. Os caixas ficaram cerca de duas horas desativados durante a manhã, e voltaram a parar à noite. Era impossível fazer saques em moedas estrangeiras e outras transações.

Alguns moradores estão fugindo, outros solicitaram passaportes, e muita gente estoca o que pode – alimentos, dinheiro ou mesmo ouro, reserva segura em tempos de crise. Num escritório do segundo andar do centro de emissão de passaportes no bairro de Yurakucho, as filas desciam as escadas.

Ruas vazias

Restaurantes normalmente movimentados, que servem sushis e sopas a funcionários de escritórios, ficaram vazios. Muitas escolas estão fechadas. As empresas autorizaram seu pessoal a ficar em casa, e voluntariamente reduziram o consumo de energia.

A cidade, habitualmente iluminada por neons, ficou parcialmente escura. O ministro do Comércio, Banri Kaieda, disse que apagões grandes e inesperados são possíveis, embora não muito prováveis.

A busca frenética por arroz, leite e outros alimentos esvaziam as prateleiras de alguns supermercados. Milhares de pessoas compareceram aos aeroportos próximos, mesmo sem passagens, na esperança de reservar voos.

"A vida e a saúde são a prioridade, e não o custo disso, então estou fugindo do Japão, embora eu não queira", disse La Ha-Na, estudante da Coreia do Sul que vive em Tóquio.

Brasil

O Brasil se disse preparado para enfrentar acidentes nucleares e não deverá retroceder nos planos de aumentar o seu parque nuclear por causa do acidente no Japão, de acordo com o assessor especial da presidência da Eletronuclear, braço da Eletrobras, Leonam Guimarães.

“Esse problema sem dúvida vai causar perturbação em todos os planos (de novas usinas). Mas o que aconteceu no Japão não muda os cenários individuais de cada país que levam à necessidade da geração elétrica nuclear”, afirmou Guimarães à agência Reuters.

Para o representante da Eletronuclear, decisões como a da Suíça, que anunciou ter suspendido a aprovação de novas usinas nucleares, “são puramente emocionais” e um país que necessita de energia não poderá agir dessa forma. “O fato de ter ocorrido esse acidente não muda em nada as necessidades e os critérios que levaram vários países do mundo a recorrer à energia nuclear.”

O Brasil pretende decidir este ano o local para a construção de quatro novas usinas nucleares de 1 mil megawatts cada, que devem estar prontas até 2030. O país finaliza também a usina Angra 3, a terceira usina nuclear brasileira, com capacidade para gerar cerca de 1,3 mil MW.

Com agências