Kassab fará anúncio da criação de seu partido na 2ª feira
Maior vitrine de um combalido DEM, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, promoverá ao meio-dia de segunda-feira (21) um ato, na Assembleia Legislativa de São Paulo, para comunicar sua desfiliação do partido e a criação de uma legenda política. Caberá ao vice-governador paulista, Guilherme Afif Domingos, a leitura do ideário da nova sigla.
Publicado 18/03/2011 15:48
O partido já tem até estatuto. Lastreado em pesquisas qualitativas, seu programa terá como pilar a motivação da juventude e de "novos quadros" para o ingresso na política. A princípio, está descartada a hipótese de fusão imediata com outras agremiações.
A legenda de Kassab pode se chamar Partido Democrático Brasileiro (PDB) ou Partido da Democracia Brasileira (PDB). Outro nome ventilado por aliados de Kassab é PSD. Embora parte do grupo defendesse o uso da expressão "socialista" — numa tentativa de atrelar a legenda a uma atuação de esquerda —, outra ala avaliava que a expressão poderia criar resistência de antigos colaboradores e doadores.
Durante o fim de semana, Kassab viajará pelo Brasil para alinhavar a entrada de outros políticos à nova sigla. O deputado federal Paulo Magalhães (DEM) e o vice-governador Otto Alencar (PP), ambos da Bahia, e o governador amazonense, Omar Aziz (PMN), devem acompanhar Kassab na iniciativa. A senadora Katia Abreu (DEM-TO) — que se manifestou a favor do projeto do salário mínimo da presidente Dilma Rousseff em fevereiro — também deve migrar.
“Agora, é uma questão de definição — e não é mais hipótese. Será um partido novo, mas ainda não definimos em quais termos, quais serão as diretrizes”, afirmou Afif nesta sexta-feira (18), após participar de solenidade no Palácio dos Bandeirantes. O vice-governador se reunirá hoje com Kassab para tratar dos detalhes da fundação da sigla.
Afif disse ainda não ter conhecimento de mais adesões ao partido. “Vou saber disso agora. Foi o Kassab quem comandou todos os diálogos”, revelou, acrescentando que não há pretensão de fusão com outros partidos políticos. “Não se forma um partido para aderir à base de governo.”
A movimentação
Juridicamente, a fundação da legenda só se viabiliza depois da assinatura de apoio de 490,3 mil pessoas em pelo menos nove estados e da aprovação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o momento, a maioria dos deputados federais e estaduais do DEM está em compasso de espera. O maior receio é a perda de mandato devido à regra da fidelidade partidária.
Kassab minimiza esse risco. "Não há. Jamais trilharíamos para um caminho de insegurança", afirmou, numa rara declaração na qual considerou a criação do partido como algo concreto. O prefeito também relativizou a recente tendência de aliados em não acompanhá-lo na fundação da sigla. Segundo o prefeito, o declínio nas adesões não influencia seu destino. "Não há vinculação na decisão de ficar ou sair relacionada a qualquer pessoa. A decisão é minha.”
Desde setembro, depois da fracassada tentativa de promover a fusão do partido com o PMDB, Kassab vem se movimentando para sair do DEM e rumar à base aliada ao governo Dilma Rousseff. O prefeito tentou migrar para o PMDB com seu grupo, mas foi barrado pelo vice-presidente Michel Temer, que não quis lhe ceder o comando da legenda em São Paulo. Com o PSB, Kassab chegou a tratar de fusão, hipótese que foi trocada por um acordo de coligação nas próximas eleições.
O plano de mudança de partido tem como pano de fundo as eleições de 2014. Kassab deixará a Prefeitura paulistana em 2012 e quer viabilizar sua candidatura a governador de São Paulo em 2014. Ele avalia que isso seria praticamente impossível se seguisse no DEM, porque o partido tenderia a aliar-se com o PSDB do governador Geraldo Alckmin, seu adversário, que muito provavelmente será candidato à reeleição.
Quem ficou em silêncio sobre o caso foi o ex-governador José Serra (PSDB), adversário do Planalto e mentor de Kassab, que assumiu a prefeitura em 2006 quando o tucano deixou o posto para se candidatar ao governo paulista. Em 2008, Kassab foi reeleito para o cargo, depois de começar a disputa com 13% das intenções de voto e acabou o primeiro turno com 33% — 52 mil votos à frente da favorita Marta Suplicy (PT). No segundo turno, derrotou a petista com apoio de 60% do eleitorado.
PT
Mesmo vindo de um partido oposicionista e de perfil conservador, o prefeito será bem aceito pela principal sigla da base de Dilma, o PT. "Se o prefeito rompe com o DEM e o PSDB vindo para a base, claro que é um movimento bem-vindo. O PT vê com bons olhos", afirma o presidente do PT-SP, Edinho Silva, ecoando posição oficial do partido, aprovada pelo diretório paulista. Pesou na decisão o fato de o prefeito ter expressado pessoalmente ao presidente do PT-SP seu desejo de se alinhar ao governo federal.
Aos petistas críticos a essa aliança heterodoxa, Edinho alerta: "Qualquer posição diferente é pessoal". O dirigente vai logo afirmando que o posicionamento do PT não se estende a qualquer aliança para as eleições no estado. "Não tem discussão eleitoral envolvida nisso. Se ele quer vir para a base do governo Dilma não significa compromisso eleitoral do PT com ele", frisou.
Aderindo ao PSB, comandado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, fiel aliado do Planalto, Kassab retribuirá à legenda com a ampliação de sua influência em São Paulo, ainda tímida. O estado é importante base para um projeto de candidatura à Presidência, como se especula para Campos.
Muito provavelmente, o PSB perderá o empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que se candidatou pela legenda ao governo paulista em 2010. Skaf pode vir a ter interesse novamente pelo cargo em 2014, quando a legenda estará ao lado de Kassab. Também há vozes descontentes vindas da deputada Luiz Erundina (SP) e do deputado Gabriel Chalita (SP) — que ameaçam deixar o PSB caso ela promova a fusão com o partido de Kassab.