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Mensalão do DEM bancou até campanhas do PSDB, diz Arruda

O ex-governador José Roberto Arruda, afastado do cargo durante o escândalo do mensalão no governo do Distrito Federal, denunciou o envolvimento de vários políticos de seu partido, o DEM, e também do PSDB, no esquema de captação ilegal de recursos junto a empresários para financiar campanhas. Em entrevista à Veja Online, Arruda afirmou que nomeou afilhados políticos, conseguiu avião para viagens, pagou por programas de TV e pediu ajuda a empresários.

A entrevista, segundo advogados de Arruda, foi feita em setembro, antes do primeiro turno da eleição de 2010, à revista Veja, da Editora Abril, responsável pelo site. Procurada, a direção de Veja não quis responder à afirmação dos advogados.

Em 2009, o ex-governador foi filmado recebendo R$ 50 mil do delator do caso, Durval Barbosa. De acordo com Arruda, pessoas que se beneficiaram “largamente” durante seu mandato foram “desleais” com ele após a divulgação da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), que desmontou o esquema de corrupção. Arruda renunciou ao cargo para não ter o mandato cassado e depois passou dois meses preso na PF em Brasília

“As empresas e os lobistas ajudam nas campanhas para terem retorno, por meio de facilidades na obtenção de contratos com o governo ou outros negócios vantajosos. Ninguém se elege pela força de suas ideias, mas pelo tamanho do bolso”, afirmou Arruda, numa confissão de culpa.

“Como governador, tinha um excelente relacionamento com os grandes empresários. Usei essa influência para ajudar meu partido”, agregou. “Pedia ajuda a esses empresários. Dizia: 'Olha, você sabe que eu nunca pedi propina, mas preciso de tal favor para o partido’. Eles sempre ajudaram”, diz Arruda, ressaltando que um dos beneficiados foi o novo presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Tucanos na mira

O PSDB igualmente recebeu doações do mensalão do DEM. “A ajuda também foi nacional. Ajudei o PSDB sempre que o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, me pediu. E também por meio de Eduardo Jorge, com quem tenho boas relações. Fazia de coração, com a melhor das intenções”, afirmou o ex-governador. Na eleição presidencial de 2010, quando o tucano José Serra formou chapa com o ex-deputado Índio da Costa (DEM-RJ).

O presidente nacional do PSDB nega qualquer ajuda. “Estive com Arruda algumas vezes, sempre tivemos relações cordiais, mas nunca recebi qualquer forma de ajuda financeira dele para campanhas do PSDB”, disse Guerra (PE). Já o secretário-geral tucano, Eduardo Jorge, confirmou que pediu ajuda de Arruda no início de seu governo no Distrito Federal para saldar dívidas do partido.

Segundo Jorge, a ajuda teria sido feita por "um empresário amigo" a partir da interferência de Arruda e que a doação foi oficialmente declarada à Justiça eleitoral. O tucano, porém, se negou a informar qual o valor nem identificou o doador. “Mesmo se soubesse, não diria.”

Arruda – que renunciou ao cargo para não ter o mandato cassado e depois passou dois meses preso na Polícia Federal em Brasília – disse na entrevista que fez todos os repasses para o DEM, com o aval do então presidente Rodrigo Maia (RJ). Ele citou dez políticos que lhe pediram recursos, como o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), os ex-senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Sergio Guerra (PSDB-PE) e os deputados Ronaldo Caiado (DEM-GO) e ACM Neto (DEM-BA).

“Eu era o único governador do DEM. Recebia pedidos de todos os estados. E atendi os pequenos favores aos financiamentos de campanha. Ajudei todos”, enfatiza o ex-governador. Os acusados negaram que a origem dos recursos era ilegal e ameaçam processar Arruda. Segundo o ex-governador, somente o presidente do DEM pode responder se esse dinheiro foi declarado.

Os bastidores

Na entrevista, Arruda cita reunião na casa de Marco Maciel, na presença do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e do ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause. O objetivo era discutir ajuda à reeleição do ex-senador. “Krause explicou que, para fazer a pré-campanha de Marco Maciel, era preciso R$ 150 mil por mês. Eu e Kassab, portanto, nos comprometemos a conseguir, cada um, R$ 75 mil por mês”, revelou Arruda. Maciel não se elegeu.

Arruda deu detalhes da outras ajudas: “Em 2008, o senador Agripino veio à minha casa pedir R$ 150 mil para a campanha da sua candidata à prefeitura de Natal, Micarla de Sousa (PV). Eu ajudei. O senador Demóstenes me procurou certa vez, pedindo que eu contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas”. A mágoa do ex-governador é explícita: “Os senadores Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por exemplo, não hesitaram em me esculhambar”.

Agripino negou que tenha pedido ajuda de Arruda nas últimas eleições municipais. “Ele cita Micarla e diz que ela, inclusive foi à casa dele agradecer. Que ela seja ouvida. É uma coisa checável. Micarla não tem mais ligações políticas comigo, não faz parte da minha aliança. Ouça-se a prefeita”, diz Agripino.

Demóstenes reagiu com virulência. “É um bandido, um delinquente, um vagabundo”. O senador afirmou que vai processar Arruda. “Nunca tive um encontro reservado com esse vagabundo. Ele vai ter que provar o que disse. É um jogo de porco que ele quer para levar todo mundo para o chiqueiro.”

Da bajulação à deslealdade

Lideranças dos “demos” na Câmara também foram denunciadas por Arruda. “O deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um empresário do setor de transportes, que queria conseguir linhas em Brasília”, afirmou Arruda. Caiado agora ameaça: “Se Arruda continuar a criar factóides e a mentir, não apresentar provas, vai receber mais processos. O lugar de Arruda é na Papuda”.

O deputado, no entanto, admitiu ter se encontrado com Arruda e cerca de 20 empresários do setor de transportes, mas negou que a reunião tenha sido realizada a seu benefício. “Ele queria se apoderar dessas linhas para fazer um projeto político-eleitoral e invadir as áreas do estado de Goiás”, defendeu-se.

Rodrigo Maia é mais um alvejado. “Consegui recursos para a candidata à prefeita dele e do Cesar Maia no Rio, em 2008. Também obtive doações para a candidatura de ACM Neto à prefeitura de Salvador”, diz o ex-governador.

“Nunca estive com Arruda para tratar da campanha de Salvador. Não recebi, nem diretamente, nem indiretamente, por meio do partido, qualquer recurso”, afirma ACM Neto. Maia admite que Arruda era influente e ajudou o DEM, mas negou que os recursos eram ilegais e que o ex-governador tenha ajudado na campanha do Rio. “Está tudo registrado na contabilidade do partido”, diz.

O ex-governador dispara contra os citados: “Assim que veio a público o meu caso, as mesmas pessoas que me bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me enxovalhando. Não quiseram nem me ouvir. Pessoas que se beneficiaram largamente do meu mandato. Grande parte dos que receberam ajuda minha comportaram-se como vestais paridas. Foram desleais comigo”.

Da Redação, com agências