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Rolf Hecker: por que é tão importante ler o Marx original

A Fundação Maurício Grabois recebeu nesta segunda-feira (21) a visita de Rolf Hecker, professor, presidente da Associação de apoio à edição Mega — abreviação alemã da Marx Engels Gesamtausgabe — e da revista "Contribuições para a pesquisa sobre Marx e Engels – Nova série", membro da Sociedade Leibniz de Ciências de Berlim e da Associação Helle Panke.

Após ser recepcionado com uma breve conversa com o presidente dafFundação, Adalberto Monteiro, e os diretores Augusto Buonicore, Nereide Saviani, Fábio Palácio, Sérgio Barroso e Leocir Costa Rosa, Rolf Hecker fez uma breve exposição sobre o trabalho de resgate dos originais da obra de Karl Marx e Friedrich Engels com a presença de dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Adalberto Monteiro disse ao professor que a finalidade da Fundação Maurício Grabois é disseminar o marxismo no Brasil e participar do esforço intelectual pelo seu desenvolvimento e enriquecimento. Essa primeira parceria com o projeto da Mega, por intermédio de Rolf Hecker, disse, é apenas o início de um conjunto de iniciativas que virão. O professor agradeceu o apoio da Grabois — uma das entidades que participam das atividades de Rolf Hecker no Brasil — à sua viagem de trabalho, que tem como programação palestras na Unicamp, na USP e na Universidade Federal de Minas Gerais. Rolf Hecker disse que também tem expectativa positiva com a relação entre as entidades para parcerias futuras.

Intelectual alemão, autor e colaborador de várias publicações que tratam da produção teórica e política de Marx e Engels, Rolf Hecker está no Brasil para participar de encontros e debates sobre as obrras dos fundadores do marxismo. No colóquio o professor explicou que a Mega é um esforço que envolve pesquisadores de diversos países e que já tem quase cem anos. Ele conheceu várias fases e teve inúmeras sedes. O objetivo do atual projeto é a publicação dos 114 volumes que compõe a obra conhecida dos dois pensadores alemães. Segundo ele, cerca de 50% dos trabalhos estão realizados.

Produção do Marx jornalista

Rolf Hecker indicou que muitos manuscritos de Marx têm diferenças em relação ao que foi publicado. Ele citou o terceiro volume de O Capital, que reúne textos editados por Engels, como exemplo. Segundo o professor, é importante divulgar os textos como eles foram escritos para que se possa ler corretamente o que Marx produziu. O professor explicou também que a produção jornalística do grande pensador alemão quando ele trabalhou no New York Tribune, o maior jornal do mundo na época, entre 1851 e 1862, compreende 465 artigos, dos quais 206 eram editoriais.

Segundo ele, o New York Tribune tinha uma tiragem de 145 mil exemplares, ultrapassando o Times, de Londres. E os artigos de Marx, disse, se olhados com o ponto de vista de hoje, são instrumentos para a interpretação da realidade atual. Para Rolf Hecker, a produção marxista daquele época eram mais que jornalismo — para escrever seus artigos Marx preparava estudos profundos sobre diferentes aspectos da Europa e do mundo. Engels fazia com que publicações de diferentes localidades chegassem em suas mãos, que eram recortadas e cuidadosamente organizadas.Rolf Hecker disse também que Marx era obrigado a escrever em inglês porque era seu trabalho.

O professor informou que outro trabalho de peso que está sendo preparado são as obras do pensador alemão sobre ciências naturais, ainda inéditas. Segundo Rolf Hecker, Marx estudava em minúcias detalhes como camadas de pedras solidificadas para estudar fenômenos naturais e reuniu importantes produções em trabalho que chamou de “cadernos geológicos”. Ele citou também o trabalho de Engels Dialética da Natureza como exemplo de um estudo inconcluso, que por motivos diversos foi publicado como algo acabado. Existem, disse, publicações de textos em ordem cronológica e com textos agrupados por temas. A forma mais correta de divulgação desse trabalho, afirmou o professor, ainda é tema de debate dentro do projeto.

Instituto Rosa Luxemburg

Rolf Hecker finalizou o colóquio respondendo perguntas e detalhando o projeto da Mega, que está em sua fase 2. Segundo ele, houve ao menos três importantes tentativas de reunir as obras de Marx e Engels. A primeira foi a preparação da Mega nos anos 1920, sob os cuidados de David Borisovich Riazanov. Prevista para quarenta volumes, esta edição permaneceu incompleta. A segunda tentativa de peso foi a edição da MEW, ou Marx-Engels Werke na Alemanha Oriental, a partir dos anos 1950. Finamente, a partir dos anos 1970 houve a tentativa de editar uma nova Gesamtausgabe (a Mega-2), que deveria atingir 170 volumes. Com as mudanças no Leste Europeu, a edição patrocinada inicialmente pelos Institutos de Marxismo-Leninismo da URSS e da Alemanha Oriental foi interrompida e, posteriormente, retomada em novo formato.

Durante a palestra do professor Rolf Hecker foi apresentado o livreto Marx como pensador, uma reunião de artigos de sua autoria, com apresentação de Augusto Buonicore, publicado pela editora Anita Garibaldi. No item em que fala sobre a história da edição das obras de Marx, Rolf Hecker diz que a historiadora Galina Golowina dirige a classificação e catalogação da correspondência do Instituto Marx-Engels de Moscou — depois Instituto Marx-Engels-Lênin — com os correspondentes estrangeiros dos anos 1929 e 1930. “Dessa maneira, milhares de folhas de material de arquivo estão disponíveis para consulta”, escreve ele. O livro e a palestra foram traduzidos pelo professor e pesquisador Luciano Cavini Martorano.

Adalberto Monteiro, e o diretor de comunicação e publicações, Fábio Palácio, acompanhados de Rolf Hecker, também se reuniram com as diretoras do Instituto Rosa Luxemburg, Kathrin Buhl e Isabel Loureiro. Segundo Adalberto Monteiro, a visita com o professor, que tem vínculos com o instituto, resultou em uma produtiva troca de ideias sobre projetos de publicação das obras de Marx e Engels no Brasil. Além da Mega-2, outras possibilidades de parcerias foram debatidas, afirmou o presidente da Fundação Maurício Grabois.

Fonte: Portal Fundação Maurício Grabois