Silvio Barreira – O dia de Obama no Brasil

 .

Durante todo o sábado passado, a capital do País esteve coberta por nuvens escuras que ameaçavam a todo instante invadir as ruas, as praças, os bosques e os prédios públicos com suas águas. No dia 19 de março de 2011, o presidente dos Estados Unidos acompanhado de sua esposa e de suas filhas, Malia e Sasha, esteve aqui em Brasília.

Barack Obama subiu a rampa do Planalto para encontrar a presidente Dilma e, minutos depois, de uma das salas do Palácio, autorizou por telefone o bombardeamento da Líbia. No mesmo dia, mas agora na calmaria da noite, relendo o discurso proferido pelo médico e psicanalista Valton de Miranda Leitão, por ocasião da solenidade em que recebeu o título de Doutor Honores Causa da Universidade Federal do Ceará (UFC), reencontrei uma verdade Freudiana. Estava lá, “quando o homem primitivo, em vez de jogar uma lança sobre seu adversário, atira-lhe um xingamento, ele cria a civilização”.

O dia da visita do presidente dos Estados Unidos foi um dia louco, onde a malícia e a engenharia do acaso conseguiram reunir nuvens carregadas com taças de champanhe, ordem de bombardeamento com discursos de crianças, promessas de casamento com assinatura de divórcio. Foi um dia em que a vida fez questão de mostrar todas as suas cores, desde as mais claras e alegres até as mais tristes e escuras.

Não sei você, mas eu sou a favor da paz, e acredito como Freud acreditou que chegamos a ela através da palavra. Já disseram, só não lembro quem, que o sinônimo de palavra é pacto. Ela é a única arma que pode ser utilizada para afastar o animal-homem de sua agressividade e a única ferramenta que o homem civilizado possui para enfrentar a tarefa de construir a democracia.

Não resta a menor dúvida de que avançamos muito na construção de nossa civilização, mas o dia 20 de março último lembra mais uma vez que somos uma espécie que saiu há bem pouco tempo de dentro da floresta. Além de ser contra a violência, sou radicalmente contra a interferência estrangeira nos assuntos e conflitos de outros povos, principalmente quando essa atitude tem como combustível a vontade de expandir o poderio econômico do invasor.

A operação americana “Odisseia ao amanhecer” (nome poético que batizou a ofensiva militar contra Muammar Kaddafi) foi respaldada pela Resolução N 1973 da Organização das Nações Unidas (ONU) que defende uma “proteção aos civis líbios” por parte da comunidade internacional.

O nosso governo vem há muito tempo pleiteando uma vaga no Conselho das Nações Unidas e durante a visita de Obama a nossa presidente justificou essa vontade política afirmando: “temos pleiteado a ampliação do Conselho de Segurança da ONU. Aqui não nos move o interesse de ocupação burocrática da representação. O que nos move é a certeza de que um mundo multilateral produzirá benefícios para a paz e harmonia entre os povos.’”

Presidente Dilma Rousseff, eu não acredito nas “boas intenções” da ONU, mas sinceramente sinto que suas palavras, mais do que substituir antigas lanças, sensibilizaram o coração de Malia e de Sasha, mesmo diante da indiferença de um Barack Obama.

Silvio Barreira é Arquiteto, poeta e compositor

Fonte: Jornal O Povo

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do Portal Vermelho