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Obras de Tereza Costa Rêgo passam a integrar acervo de museu

A população do Estado de Pernambuco ganha, hoje, uma das obras mais importantes da artista plástica Tereza Costa Rêgo. A série Sete luas de sangue foi comprada pelo governo do Estado, por meio da Cepe, e passa a integrar o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (MAC), em Olinda.

Para comemorar a aquisição, o museu restaurou as telas – que apresentavam pequenos desgastes – e inaugura uma exposição, nesta quinta (30), às 19h. O evento é um marco isolado da política curatorial de Pernambuco, que há muito não dispõe de recursos para ampliar a coleção dos vários museus locais.

Sete luas de sangue mereceu essa deferência por tratar-se de uma obra que, para além dos seus valores estéticos, percorre episódios marcantes da história brasileira. Em sete pinturas de grandes dimensões, a artista plástica retrata passagens violentas da formação do Estado brasileiro, iniciando com o massacre dos índios, na chegada dos portugueses, e estendendo-se até a chegada de Fernando Collor de Mello à presidência da República.

Além do tamanho dos painéis, outra marca das telas é a presença das cores quentes e vibrantes, com a combinação de vários tons de vermelhos e amarelos. Todas as imagens remetem também aos muralistas mexicanos, uma influência declarada da artista.

Realizadas há mais de uma década, as cenas já foram vistas várias vezes em Pernambuco – no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, no Museu do Estado, no MAC – e em outros Estados, como Rio de Janeiro e São Paulo. Durante todo este tempo, Tereza guardou as telas consigo por acreditar que elas fazem parte de uma obra una, desejando vendê-las apenas em conjunto.

Ela reconhece, entretanto, que seu ateliê não dispõe das condições adequadas para abrigar o acervo. “É doído a gente se desfazer de pinturas que gosta muito, mas sei que o museu tem mais recursos para guardá-las corretamente e preservá-las”, destaca a artista.

Os sete momentos históricos representados na série são: o massacre dos índios, a Batalha dos Guararapes, a luta de Zumbi dos Palmares, a Guerra de Canudos, o cangaço, a luta pela terra (dos índios ao MST) e a formação da República, ilustrada no impressionante tríptico A pátria nua.
 
Todas elas são como um manifesto da artista contra a opressão política. Para realizá-las, ela afirma que dedicou bastante tempo a pesquisas sobre o País. Filiada ao Partido Comunista do Brasil, Tereza foi exilada, morou no Chile, na França e passou parte da vida usando a identidade clandestina de Joana. Esse lado combativo, entretanto, demorou a vir à tona em sua obra, que durante um bom tempo desdobrou-se em feminilidade, exibindo mulheres sedutoras e voluptuosas, fixando-se na vida privada.

“Quando eu voltei ao Brasil, precisava respirar, me abrasileirar novamente, voltar a viver como todo mundo, me reencontrar com minha cidade. Por isso, expressei a sexualidade. O tempo tem seu ritmo e, depois de um tempo, senti o desejo de mostrar meu posicionamento político, porque eu nunca deixei de lado as minhas convicções”, ressalta Tereza.

Dando prosseguimento ao lado político de seu trabalho, agora, ela está envolvida com a pintura de um imenso painel (12 metros de largura por três de altura) sobre as mulheres de Tejucupapo – acredita-se que, no processo de expulsão dos holandeses do território pernambucano, um grupo de mulheres teria vencido uma batalha contra soldados inimigos famintos, que tentavam roubar comida.
 
“Não há nenhum documento ou relato oral coerente que comprove a existência dessas mulheres. Pedi ajuda a José Luiz da Mota Menezes (historiador), porque, como mulher e nordestina, fico muito feliz em contar esse acontecimento”, revela a artista, que também é formada em história.

Comunista de carteirinha, ex-exilada e com inclinações feministas, Tereza se confessa ainda muito contente com o atual momento político da presidência do País. “Estamos vivendo uma época em que a mulher está à frente da política nacional. E Dilma se comporta com muita dignidade. Estou muito orgulhosa”, comemora.

Fonte: Jornal do Commercio