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Portugal:setor público marca greve para 6 de maio contra governo

A classe trabalhadora reage com indignação à capitulação do governo português à cúpula da União Europeia e ao Fundo Monetário Nacional, que acena com mais arrocho e recessão.
A Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (Frente Comum), associada à Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), convocou uma greve geral do setor para o próximo dia 6 de maio.

Os servidores vão “exigir uma mudança de rumo político para o país, que garanta a defesa dos serviços públicos e dos trabalhadores”.

Considerando que o PS e PSD (os dois partidos que governam o país) se preparam “para dar continuidade à destruição da Administração Pública e à imposição de mais sacrifícios aos trabalhadores”, e tendo em conta o “conteúdo do PEC IV [Plano de Estabilização e Crescimento, que cortou salários e pensões]” e as “propostas [de austeridade] do PSD”, a federação decidiu convocar esta greve, conforme se lê no comunicado da Frente Comum. As medidas que se avizinham, “associadas à ‘ajuda’ da União Europeia e do FMI", completam a lista das razões que levam os sindicalistas a convocar o protesto.

A greve anunciada nesta sexta-feira (8) já tinha sido aprovada pelos órgãos da Frente Comum antes da demissão do primeiro-ministro José Sócrates e do pedido de intervenção externa (do FMI e cúpula da União Europeia). Porém, o dirigente Paulo Taborda realça que o momento continua a ser oportuno. "Aquilo que aí vem é mais do mesmo: redução de salários e de pensões, confisco dos subsídios de férias e de Natal, aumento de impostos", exemplifica.

Serviços de qualidade

“Os trabalhadores devem dizer aos partidos políticos que não querem mais esta política de direita e que não estão dispostos a aceitar mais medidas deste género, que nos conduziram à situação em que estamos. Não é com o aumento de impostos e com a redução dos salários que vamos estimular a economia", justificou Paulo Taborda.

A greve pretende ainda exigir serviços públicos de qualidade, contestar a precariedade, a mobilidade, os despedimentos, o congelamento salarial, o aumento dos impostos, exigir carreiras dignificadas e a revogação do Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública (Siadap).

Retrocesso

A greve abrange todos as áreas do setor público, mas não houve qualquer contato com os sindicatos da UGT (central de orientação social-democrata, ligada ao governo) para uma ação conjunta.

A orientação neoliberal em Portugal é caracterizada pelo desmantelamento da administração e dos serviços públicos, com a imposição de sérios prejuízos aos trabalhadores de uma forma geral e aos servidores em particular. Tal política, que lembra a do governo FHC no Brasil, foi radicalizada nos últimos anos em função da crise da dívida externa.

O quadro tende a piorar com a entrada em cena do FMI. “Queremos o FMI fora de Portugal”, assinala a Frente Comum. “Depois de mais de 10 anos de um violento ataque aos serviços públicos e aos seus trabalhadores é precisamente neste período pré-eleitoral que devemos deixar claro que não queremos que esta política continue e que queremos mudar de rumo. Como de fato demonstraram a Greve Geral de 24 de novembro e as grandes manifestações que realizamos, de que a de 19 de março é um exemplo, os trabalhadores e o povo estão saturados desta política”.

As coisas têm que mudar

Os sindicalistas dizem que a “ajuda” externa do FMI e da União Europeia não é necessária e sustentam que existem outros caminhos para enfrentar a crise. Afirmam que Grécia e Irlanda já tiveram a “ajuda do FMI” e estão pior, com graves recessões e sem perspectivas de futuro.

“A Islândia, com uma situação ainda pior que estes dois, pois a sua banca faliu, não pediu a ajuda do FMI e está a resolver os seus problemas de forma soberana, sem ceder à chantagem dos agiotas do dinheiro e sem hipotecar o futuro do seu povo! Por isso, a greve de dia 6 de maio deve ser feita por todas e por todos para que sirva de aviso de que as coisas têm que mudar nas eleições do dia 5 de Junho!”, complementam.

Da Redação, com informações da Frente Comum (www.fnstp.pt)