Centro da Capital será reduto art déco

Bairros da região central de SP podem se transformar em reduto de patrimônio em art déco. Compresp listou 18 imóveis em dois bairros que estão em processo de tombamento.

O centro da capital paulista pode virar, em breve, reduto de prédios em estilo art déco tombados pelo patrimônio municipal. No último mês de março, o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) deu início ao processo de tombamento de 18 edificações entre os bairros de Santa Cecília e República. Todos os imóveis ficam próximos à famosa avenida São João e representam o estilo, que valoriza os traços como triângulos, cilindros e esferas em suas composições.

Segundo a integrante do Conpresp e professora de arquitetura e urbanismo da Universidade Mackenzie Nadia Somekh, o tombamento dessas construções é importante porque elas representam um momento histórico da cidade, o início do século 20, quando começaram a aparecer os primeiros arranha-céus.

– No eixo da [avenida] São João existiam vários edifícios ecléticos, porque ali foi uma área de expansão. No início do século 20, São Paulo queria imitar a avenida Central [atual Rio Branco] do Rio de Janeiro, que queria imitar Paris [na França].

Nadia afirma que tornar os imóveis patrimônio histórico é apenas o primeiro passo para mantê-los conservados.

– Nós [conselheiros] estamos preocupados em formas de possibilitar a recuperação dos prédios, e não somente no tombamento. Pensamos em elementos como a isenção de IPTU, a lei das fachadas a devolução de impostos e também a perspectiva de habitação popular.

A quantidade de edifícios e obras arquitetônicas em art déco não são especificadas pela prefeitura. o órgão municipal também não tem data para concluir a análise e, consequentemente, o decreto de tombamento.

História

Surgidos durante o desenvolvimento econômico de São Paulo no século 20, os prédios em estilo art déco (abreviação do termo francês para art decoratifis) dominam parte do centro antigo da cidade. O estilo se mistura à própria identidade da capital paulista – o viaduto do Chá, em frente à atual sede da prefeitura, é um exemplo disso.

A professora de história da arquitetura da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) Maria Lucia Bressan Pinheiro diz que, na cidade, a vertente de estilo predominante nos imóveis é a que tende para o "traço" medieval, de acabamentos com inspiração europeia.

– Como exemplos, temos o antigo prédio de Esporte e Turismo, antiga sede do Banco de São Paulo, que é muito vertical tem o coroamento e é meio acastelado. Na rua 15 de Novembro, vemos vários prédios, principalmente de bancos, que seguem essa linha medieval. Mas é sempre uma estilização, não é nada [de fato] da Idade Média.

Em São Paulo, além do centro, o estilo pode ser encontrado, ainda nos dias de hoje, em bairros das zonas leste e oeste. Entretanto, as edificações não entraram na lista do Conpresp.

– O art déco é encontrado em lugares onde houve a concentração de expansão econômica. Na zona oeste, ainda é possível ver conjuntos de pequenas casas neste estilo.

No Brasil, a art déco foi difundida primeiramente no Rio de Janeiro, quando era capital do país. Outra cidade que também foi influenciada pelo estilo foi Salvador (BA). O Elevador Lacerda, um dos principais pontos turísticos baianos, é o exemplo mais famoso do estilo na cidade.

Fonte: R7