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Lungaretti espinafra a cobertura da mídia sobre o caso Battisti

O jornalista e ex-preso político Celso Lungaretti integrou o grupo que, em 2009, visitou o italiano Cesare Battisti na penitenciária da Papuda em Brasília. Seu objetivo era ouvir a versão pessoal de Battisti — que foi condenado na Itália por quatro homicídios e aguarda decisão da Justiça brasileira.

Em entrevista a Luiz Gustavo Pacete, do Portal Imprensa, Lungaretti lembra que, quando visitou Battisti, presenciou um perfil do escritor muito diferente do que a imprensa retrata. A experiência o motivou ainda mais a defender uma campanha pela libertação de Battisti, em oposição à grande mídia.

Segundo Lungaretti, a primeira impressão do presídio em que está o italiano foi pouco opressiva. "Abracei Battisti sem que nenhum segurança se preocupasse com a possibilidade de lhe passar algum contrabando. Decididamente, não o consideram perigoso", ironiza.

O jornalista, de 58 anos, critica a forma como o italiano é retratado na imprensa brasileira: "Já passei pelos porões e prisões da ditadura, sei de uma série de fotos do Cesare, feitas por um profissional. Muitas o tornarão simpático aos leitores e outras não", afirma sobre a manipulação de imagens que pode ser feita na prisão. Lungaretti passou por torturas em unidades do Destacamento de Operações de Informações (DOI) e Centro de Operações de Defesa Interna de SP e RJ quando foi preso político.

Leia abaixo a entrevista.

Portal Imprensa: Muitos de seus artigos criticam a cobertura da imprensa sobre o caso Battisti…
Celso Lungaretti: A próxima decisão sobre o caso está por vir, acredito que depois da semana santa. E vejo agora que na reta final parece que a imprensa pretensiosa não vê mais chance de interferir no caso. Ela parece ter tirado seu time de campo após ter conduzido uma ação orquestrada por parte de alguns jornais e revistas quando o então ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou o refúgio.

Portal Imprensa: Mas você acredita que a imprensa manipulou fatos?
Lungaretti: Ela simplesmente escolheu com que deveria falar. Por exemplo, o Alberto Torregiani, filho de uma suposta vitima de Battisti, tinha admitido para a Agência Ansa Itália que o Cesare não estava no dia do tiroteio em que seu pai foi morto. Mas como o assunto retornou à crista da onda, ele voltou a falar de forma oportunista e declarar acusações contra Battisti.

Portal Imprensa: Houve pretensões políticas da imprensa?
Lungaretti: Muito do que aconteceu na véspera das eleições foi com o objetivo de desgastar o PT e a candidata Dilma [Rousseff]. Foi algo óbvio para produzir uma situação eleitoral em que Estadão, Folha e Veja estavam engajados contra a candidata de Lula.

Portal Imprensa: E a imprensa italiana, como tem se posicionado?
Lungaretti: Na imprensa italiana, nem de longe o caso tem a proporção que a imprensa brasileira faz crer. Existem sim manifestações de bolsões direitistas isoladas. Segundo o que me informaram, o cidadão comum italiano está se lixando pra isso. Houve um ou outro, mas o tema não teve o vulto que teve por aqui e nem está acalorando o debate na opinião pública.

Portal Imprensa: Por que você tem lutado em favor da libertação de Battisti?
Lungaretti: Nosso objetivo é aproveitar a oportunidade de defender a verdade porque estamos na véspera da decisão. O Cesare Battisti vai ter uma vida depois disso. É preciso esclarecer que ele nunca foi terrorista, nem os documentos italianos atestavam isso. Terrorista é quem joga bomba no trem. O que ele fez nunca foi terrorismo.