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Na tribuna do Senado, Inácio lembra os cem anos de Werneck Sodré

Em contundente pronunciamento, Inácio Arruda (PCdoB-CE) homenageou nesta terça-feira (26), na tribuna do Senado, o pensador Nelson Werneck Sodré (1911-1999), que completaria cem anos nesta quarta (27).

No discurso, o senador se referiu a Werneck como “militar nacionalista, ligado depois ao Partido Comunista”, “grande intelectual e historiador marxista”, “esse grande personagem da vida política, econômica e social do Brasil”. Segundo Inácio, Werneck foi “um homem que buscou vasculhar nosso país”.

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Confira abaixo a íntegra do pronunciamento de Inácio, que teve apartes de senadores de vários partidos. 

Sr. Presidente, primeiro, quero fazer uma saudação especial à passagem, amanhã, do centenário de nascimento de um grande lutador pela liberdade e pelo socialismo, de um grande intelectual e historiador marxista, o General Nelson Werneck Sodré.

Para comemorar a data, um grupo de historiadores e intelectuais começou um movimento sediado, simbolicamente, na cidade paulista de Itu, considerada o berço da nossa República. Nessa cidade, Nelson está sepultado. Foi no Quartel do Regimento de Artilharia, o Regimento Deodoro, em Itu, para onde foi, no início da década de 1930, como aspirante a oficial, que ele teve seus primeiros postos no Exército. Foi também em Itu que conheceu Yolanda Frugoli, com quem se casou.

Werneck se destacou como militar nacionalista, ligado depois ao Partido Comunista. Intelectual e historiador, foi um dos fundadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), na década de 1950. Foi desligado das funções de instrutor de história militar da Escola de Comando e Estado Maior do Exército devido às suas posições nacionalistas, à participação na campanha "O Petróleo é Nosso" e à publicação de um artigo, sob pseudônimo, em que se opunha à participação do Brasil na Guerra da Coreia. Seu último posto na ativa foi a promoção a coronel, em 1961. Assim, passou para reserva no posto de general de brigada.

Nelson é um dos pioneiros da historiografia marxista no Brasil. Muitos de nós tivemos oportunidade de ter nossa curiosidade aguçada por obras como História da Literatura Brasileira. Esse livro não é apenas a resenha e a valorização dos nossos grandes autores, mas também uma busca de entender a produção artística do nosso País, levando-se em conta a situação econômica vivida nos vários períodos da nossa formação. Aprofundou a visão marxista do nosso passado com Formação da Sociedade Brasileira. É de 1945 a primeira edição de um guia fundamental para os estudiosos, o livro O Que se Deve Ler para Conhecer o Brasil, que mereceu sucessivas reedições, revistas e atualizadas.

Faço este registro, Sr. Presidente, e peço que V. Exª acolha na íntegra o pronunciamento em homenagem a esse grande personagem da vida política, econômica e social do Brasil. Um homem que buscou vasculhar nosso País, conhecer nossa realidade. E ligo-o diretamente aos acontecimentos atuais do nosso mundo, do que está a ocorrer com as guerras patrocinadas pelas chamadas nações mais desenvolvidas, conhecidas como guerras humanitárias, para levar a civilização a alguns pontos do planeta. São tidas como humanitárias e defendidas como algo que faz parte dos direitos humanos.

Associo os acontecimentos atuais ao general que homenageamos pela passagem do seu centenário no dia de amanhã. Ele foi o nacionalista que defendeu que nosso País tinha que ter seu próprio projeto, que nosso País tinha que se colocar de cabeça erguida, de pé. E precisou um metalúrgico chegar para começar a colocar o País efetivamente de pé, a fazer um programa de distribuição de riqueza mais adequado, ainda muito longe da necessidade, mas, pela primeira vez, foi realizado o crescimento com a distribuição da riqueza.

E ligo este pronunciamento de homenagem ao centenário de Nelson Werneck a uma entrevista concedida pelo ex-Secretário Adjunto do Tesouro dos Estados Unidos da América, Paul Robert Craig, em entrevista à Press TV, no Panamá. Ele fala sobre os verdadeiros objetivos dos Estados Unidos na Líbia e por que Barack Obama precisa derrubar Kadafi, quando nenhum outro presidente dos Estados Unidos o fez.

É interessante a gente examinar esse tema, porque vai virando senso comum: “Vamos derrubar o presidente da Síria, vamos derrubar o presidente da Líbia, vamos derrubar o presidente do Irã”. Vamos derrubar, principalmente, aqueles que interessam aos americanos que caiam, porque realizam um governo que, por alguma razão, cria obstáculos para o domínio completo, especialmente naquela área do Mediterrâneo.

Vejam a pergunta da Press TV:

“A Rússia criticou a Otan por ir muito além do mandato da ONU. Uma outra notícia fala de um artigo de opinião que terá sido escrito por Obama, Cameron e Sarkozi, que disseram que deixar Kadafi no poder seria uma traição irresponsável ao povo líbio.

Sabemos que mandato não exige mudança de regime, e a administração Obama diz que não estão lá para mudar o regime, mas as coisas parecem agora um pouco diferentes, não é verdade?"

Então, responde Robert Craig:

“Pois parecem. Antes de mais nada, note-se que os protestos na Líbia são diferentes dos do Egito, do Iêmen, do Bahrein, ou da Tunísia, e a diferença é que aqui se trata de uma rebelião armada.

Há mais diferenças: outra é que estes protestos têm origem no leste da Líbia, onde há petróleo, não na capital. E temos ouvido desde o início relatos fidedignos de acordo com os quais a CIA está envolvida nos protestos, e tem havido um grande número de relatos da imprensa segundo os quais a CIA enviou para a Líbia os seus agentes líbios para comandar rebelião.

Na minha opinião [dele, do norte-americano; o homem é ex-secretário adjunto do Tesouro, então, deve ser uma figura importante, porque cuidar do Tesouro dos Estados Unidos não é coisa pequena], trata-se de afastar a China do Mediterrâneo. A China tem grandes investimentos em energia e em construção na Líbia. Os chineses apontam para a África como uma futura fonte de energia.

Os EUA estão a combater isso organizando o Comando Africano dos EUA (Usac), a que Kadafi recusou juntar-se. Essa é a segunda razão por que os americanos querem mandar Kadafi embora.

E a terceira razão é que a Líbia controla parte da costa mediterrânea, e não está em mãos norte-americanas."

Pergunta da Press TV:

"Quem são os revolucionários? Os EUA dizem que não sabem com quem estão a lidar, mas considerando que a CIA está no terreno, em contato com os revolucionários, quem são as pessoas que vão governar a Líbia em uma eventual era pós-Kadafi?"

Responde Robert Craig:

"O fato de a Líbia ser ou não governada por revolucionários depende da CIA ganhar; ainda não sabemos. Como você disse anteriormente, a resolução da ONU impõe restrições sobre o que as forças europeias e norte-americanas podem alcançar na Líbia. Eles podem impor uma zona de exclusão aérea, mas não deveriam estar lá, lutando ao lado dos rebeldes.

Mas é claro que a CIA está a fazer isso. Então, estão a violar a resolução da ONU. Se a Otan, que agora representa a ‘comunidade internacional’, conseguir derrubar Kadafi, o próximo alvo será a Síria, que já foi diabolizada [pela mídia ocidental, controlada por eles.]

Porque é que a Síria é um alvo? Porque os russos têm uma grande base naval na Síria. E esta dá à marinha russa uma presença no Mediterrâneo; os EUA e a Otan não querem isso. Se forem bem sucedidos contra Kadafi, a Síria virá a seguir.

Já estão a responsabilizar o Irã pelo que se passa na Síria e na Líbia. O Irão é um alvo fundamental, porque é um Estado independente que não é um fantoche dos colonialistas ocidentais."

São as palavras do norte-americano até agora.

Pergunta a Press TV:

“Em relação à agenda expancionista do Ocidente
, quando o mandato da ONU na Líbia foi debatido no Conselho de Segurança da ONU, a Rússia não o vetou. Certamente que a Rússia deve ter a atenção à política expansionista dos EUA, França e Grã-Bretanha."

Responde Robert Craig:

"Sim, têm de perceber isso, e o mesmo se aplica à China. É uma ameaça maior para a China, porque ela tem 50 grandes projetos de investimento no leste da Líbia. Então a questão é por que é que a Rússia e a China se abstêm em vez de vetar e bloquear? Não sabemos a resposta.

Possivelmente, estarão a pensar deixar os americanos avançar até o limite, ou talvez não tenham tido a intenção de confrontar os EUA com uma tomada de posição militar ou diplomática e ter uma avalanche de propaganda ocidental contra eles. Não sabemos as razões, mas sabemos que se abstiveram porque não concordavam com a política e continuam a criticá-la."

Vem a Press TV em uma próxima pergunta:
 
"Uma parcela considerável dos ativos de Kadafi nos EUA foi congelada, assim como em alguns outros países. Sabemos também que os revolucionários da Líbia criaram um banco central, que iniciaram a produção limitada de petróleo e que estão a negociar com empresas dos Estados Unidos e doutros países do Ocidente. Temos que colocar aqui uma questão, nunca vimos uma coisa assim acontecer no meio de uma revolução. Não acha estranho?"

Responde Robert Craig:

"Sim, é muito estranho e muito sugestivo. Torna a colocar na ordem do dia os relatórios segundo os quais a CIA está na origem da designada revolta e dos protestos e de que está a fomentá-los e a controlá-los de uma maneira que exclui a China dos seus investimentos em petróleo líbio.

Na minha a opinião, o que está acontecendo é comparável ao que os EUA e a Grã-Bretanha fizeram ao Japão nos anos 1930. Quando impediram o acesso do Japão ao petróleo, à borracha, aos minerais; foi essa a origem [ou uma das origens, digo eu] da 2ª Guerra Mundial no Pacifico. E agora norte-americanos e britânicos estão a fazer a mesma coisa à China. A diferença é que a China tem armas nucleares e também tem uma economia mais forte que os norte-americanos. E assim, estes estão a correr um risco muito elevado, não apenas consigo próprios, mas com o resto do mundo. O mundo inteiro está em jogo com a ganância norte-americana, a arrogância norte-americana; o impulso para a hegemonia norte-americana no mundo está a levá-lo para uma [grande] guerra mundial.”

E quero, Sr. Presidente, pedir também a V. Exª, porque a entrevista continua e é uma entrevista com um norte-americano que foi chefe adjunto do Tesouro dos Estados Unidos. Por isso, dei relevância a esse texto muito significativo sobre aonde essas intervenções americanas no Oriente Médio podem levar.

Mais à frente, Robert Craig dá opinião sobre a posição norte-americana na Europa e diz que, até hoje, a Europa continua ocupada pelas forças norte-americanas. Esses países que levantam a voz, parecendo ter alguma autonomia, como Alemanha, Inglaterra, Espanha, todos têm bases militares norte-americanas, e alguns têm várias bases militares norte-americanas cuidando da segurança – entre aspas – da Europa. Esses países, praticamente, têm os seus exércitos controlados pelas forças norte-americanas.

E o que Robert Graig anuncia é a possibilidade concreta de que a agressividade, o tom belicoso permanente, de guerra permanente, praticado pelos Estados Unidos pode envolver o mundo inteiro em um conflito mais largo. É uma ameaça objetiva à paz mundial. E quero conclamar os lutadores da paz. Não é fácil. É em meio a um conflito. Decide-se depor chefes de Estados, de governos, indica-se como deve ser feito pelo mundo afora.

Peço, então, a V. Exª que acolha o conjunto da entrevista oferecida à Press TV, panamenha, pelo ex-chefe do Tesouro dos Estados Unidos, Paul Robert Graig, que fala sobre os verdadeiros interesses dos Estados Unidos na Líbia e no Mediterrâneo.

É muito importante, é muito significativo que possamos ter essas coisas bem clareadas. Talvez não seja possível para a maioria do povo, porque a maioria do povo acompanha os conflitos por órgãos de comunicação que, normalmente, ou estão censurados, ou estão a anunciar aquilo que interessa para o grande império norte-americano.

Então, Sr. Presidente, é significativo porque o Brasil é um país com grande potencial de crescimento, um potencial de desenvolvimento extraordinário. Nós podemos alcançar a posição destacada, do ponto de vista econômico, de ser a quinta ou a quarta maior potência econômica do mundo. E isso, evidentemente, coloca os interesses do Brasil também em risco. Esse tipo de política confronta os interesses do nosso País.

É muito importante a opinião dos americanos sobre esse conflito. E aqui nós temos a opinião exatamente de um ex-dirigente do governo dos Estados Unidos, que dá uma opinião muito clara sobre esses interesses. Mais objetivamente, Sr. Presidente, os americanos não escondem os seus interesses. Estão absolutamente abertos, claros, dizendo o que querem. Quem esconde os interesses dos norte-americanos são outros. E deveríamos perguntar: qual é o interesse de não deixar claras essas opiniões? Aqui é a opinião de um norte-americano. É o Sr. Robert Craig que está falando. Ele sabe de dentro, conhece de dentro as ações da empresa de inteligência norte-americana.

Um esclarecimento apenas: eu não preciso fazer defesa do Kadafi porque, lá, ele está fazendo a defesa dele diretamente. Não está com necessidade da nossa defesa.
Apenas estou lendo aqui uma entrevista de um norte-americano, ex-subchefe adjunto do Tesouro norte-americano, para ficar bem claro. Quer dizer, é um americano dando a opinião do que estão fazendo e mostrando a diferença: por que não houve o mesmo tratamento no Egito? Por que não há no Iêmen? Por que não há no Bahrein? Por que não há na Arábia Saudita, onde se mata à vontade e se faz o que quer? Por quê? É ele que está perguntando, está perguntando e respondendo.

Encerro, Sr. Presidente, pedindo que V. Exª acolha a entrevista oferecida à Press TV do Panamá pelo Sr. Paul Robert Craig, ex-secretário adjunto do Tesouro dos Estados Unidos, porque é ilustrativa, diz o que se quer atingir, quer dizer, por que aquelas peças estão sendo mexidas e onde se quer chegar.

Quer-se asfixiar a possibilidade de crescimento e de acesso a fontes de energia de outras nações que não estão diretamente envolvidas no conflito, mas que são atingidas. E, por esse meio, atinge-se a China, atinge-se a Rússia e se atinge também o Brasil, porque o Brasil é parte do encontro chamado Brics, que é Brasil, Rússia, Índia, China e, agora, África do Sul. Quer dizer, por meios transversos, também somos atingidos de alguma forma.

Não quero, Sr. Presidente, abusar – e já abusei bastante – da paciência de V. Exª. Fui além do tempo, mas peço para V. Exª acolher esta entrevista de Paul Robert Craig e também essa homenagem singela, que se junta, que fazemos a uma figura absolutamente ilustre, um general brasileiro, um homem avançado, progressista, General Nelson Werneck Sodré.

Um abraço, muito obrigado.