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Crise tucana vai além de São Paulo e expõe isolamento de Serra

O ex-governador José Serra até se insinuou — mas, a três semanas da convenção nacional do PSDB, nenhum tucano se apresentou para disputar com o deputado federal Sérgio Guerra (PE) a presidência do partido. Guerra caminha, assim, para reeleição em chapa única no dia 28 de maio.

Nem assim o tucanato vai se livrar de velhas disputas internas nem porá um ponto final em problemas e litígios que se espalham por vários estados — como São Paulo, Paraná e Paraíba. O choque central é a briga permanente entre Minas Gerais e São Paulo pela vaga de candidato do partido à Presidência da República — em que se confrontam Serra e o senador mineiro Aécio Neves.

Mas há a disputa de poder entre o próprio Serra e o governador tucano Geraldo Alckmin (SP). E isso vai se arrastar independentemente do talento de Guerra para negociar a partilha de poder na nova direção. O desafio maior do tucanato hoje é acomodar Serra na estrutura partidária.

Ainda que a tarefa seja cumprida, restarão os litígios nos estados, agora agravados pelo clima de insegurança que o novo PSD semeou Brasil afora. No Paraná, por exemplo, Sérgio Guerra e o governador Beto Richa (PSDB) tiveram trabalho para segurar o deputado federal Fernando Franceschini, que fez seguidas ameaças de aderir ao novo partido nos últimos dias.

Richa também está desafiado a cumprir o compromisso com seu antigo vice-prefeito que assumiu a administração de Curitiba, Luciano Ducci, do PSB, e ao mesmo tempo segurar no PSDB o ex-deputado Gustavo Fruet. É que Ducci apoiou a eleição de Richa e agora conta com o aliado para se reeleger. Fruet por sua vez, avisou a vários interlocutores que não abre mão de disputar a prefeitura e lidera as pesquisas de intenção de voto.

Na Paraíba, a briga é entre o senador Cícero Lucena e o ex-governador Cássio Cunha Lima, que deve assumir uma vaga no Senado na semana que vem. Cícero até hoje não se conforma por ter sido forçado a engolir uma aliança com o PSB do governador eleito Ricardo Coutinho, a quem se refere como inimigo pessoal. Como o vice-governador tucano Romulo Gouveia foi fisgado pelo no PSD, ele tenta aproveitar a deserção para romper a aliança que Cunha Lima sustenta.

Isolamento

Nenhuma questão, entretanto, soa mais delicada para os tucanos do que o futuro de Serra. O objetivo de Guerra não é ceder a Serra posições de comando que reforcem um projeto presidencial. Nem tampouco vai deixá-lo sem poder a ponto de produzir outra crise, sugerindo a aposentadoria do ex-presidenciável que saiu da eleição de 2010 com quase 44 milhões de votos.

Mas, inegavelmente, a crise que enfraqueceu o PSDB paulista expôs o processo de isolamento político a Serra que vem sendo submetido. Até a eleição de 2010, era ele quem concentrava o maior cacife de poder do tucanato no estado. Desde a vitória da Dilma Rousseff, porém, Serra vem perdendo espaço na sigla.

Foi assim na briga interna do DEM, em que seus aliados perderam o controle do partido, hoje nas mãos de articuladores mais próximos do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O segundo golpe veio em seguida, quando seu maior parceiro em São Paulo, o prefeito da capital, Gilberto Kassab, dá sinais de que pode deixar o campo de oposição ao Planalto e levar o PSD para perto de Dilma e dos petistas.

Um tucano que acompanhou de perto a crise paulista diz que Serra tem consciência de que o novo partido de Kassab, o PSD, reduz a força da oposição. Nos bastidores, porém, integrantes tucanos de grupos adversários a Serra acusam o ex-governador de não ter agido para conter a sangria que Kassab promove no PSDB. Para quem imaginou que o PSD ainda pudesse ser uma boia para acolher Serra mais adiante, expoentes da nova legenda afirmam que o tucano não cabe na sigla.

Além disso, o próprio Aécio começa a se movimentar em busca de pontes com Kassab. O temor de que Aécio tomasse a presidência do PSDB para fortalecer seu projeto presidencial em 2014 levou Serra a cometer o erro de empurrar Sérgio Guerra para a reeleição. Quando ensaiou tirar Guerra de cena, já era tarde. Àquela altura, o deputado contava com o apoio de Aécio e de Alckmin.

Companheiros de Serra avaliam que ele também errou quando rechaçou de público a ideia de assumir o comando do Instituto Teotônio Vilela. Aecistas trataram de reservar o ITV ao ex-senador Tasso Jereissati (CE). Já a escolha do deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) para liderar a bancada tucana na Câmara teve o dedo de Alckmin. E, ato contínuo, Aécio empatou o jogo “Minas x São Paulo” ao indicar o deputado Paulo Abi Ackel (PSDB-MG) líder da minoria.

Na montagem do governo Alckmin, o grupo serrista teve menos espaço do que gostaria. Três de seus mais próximos colaboradores acabaram na Prefeitura. Mauro Ricardo, ex-secretário da Fazenda, assumiu a secretaria de Finanças de Kassab. O ex-secretário de Planejamento Francisco Luna está no Conselho da São Paulo Obras. Ao ex-governador Alberto Goldman, o prefeito reservou uma vaga no Conselho de Administração da São Paulo Urbanismo.

A sorte dos serristas não mudou na montagem do diretório do PSDB paulistano. Vereadores tucanos ligados a Serra e Kassab foram escanteados na primeira composição do diretório e seis deles deixaram o partido. O ex-deputado Walter Feldman, outro expoente tucano ligado a Serra, que o ajudara a fundar o PSDB, também decidiu abandonar a legenda.

Da Redação, com informações do O Estado de S.Paulo