Publicado 09/05/2011 16:17 | Editado 04/03/2020 16:11
Sabe aqueles dias de festa em que chega alguém sem ser convidado e estraga os prazeres? É mais ou menos isso que acontece neste dia das mães, com o reaparecimento, após algum tempo sem nos incomodar, de uma velha e desagradável conhecida: a inflação.
A notícia econômica da semana foi a constatação de que, nos últimos doze meses, a inflação superou o teto da meta, que é de 4,5% ao ano, com margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Para os economistas monetaristas ortodoxos, o regime de metas é a panaceia, sendo o único alvo a ser atingido, pois com seu êxito todos os demais fundamentos econômicos se acomodariam naturalmente. Por isso, há uma sensação próxima ao pânico de que as coisas teriam saído de controle.
Não compartilho com a ideia de que e o regime de metas de inflação seja a cura para todos os males, tampouco que a este venha a ser o mais grave dos problemas econômicos de hoje no Brasil. Como abordei na coluna da semana passada, estou mais preocupado com o real valorizado.
Todo processo inflacionário estaria mais para uma “febre” em um organismo econômico do que para a doença propriamente dita. As enfermidades atuais que causam a inflação são: o aumento geral dos custos básicos (como petróleo, energia e outros insumos) e o aquecimento da demanda, ambos em escala mundial, repercutindo na elevação geral dos preços. O problema é que, assim como na nossa saúde, às vezes é necessário combater a febre, pois esta pode causar mais malefícios do que a própria doença.
A face nefasta do “dragão” é que sua voracidade recai de forma muito mais pesada sobre os pobres, que não têm como defender a corrosão do poder aquisitivo. Outro problema é a “memória inflacionária”, que pode ressuscitar a inflação inercial, mecanismo pelo qual os preços são majorados preventivamente, para se antecipar a aumentos de custos, provocando assim uma espiral de elevação geral da inflação.
Voltando à comparação com a medicina, neste momento meu maior temor não é a febre, mas os remédios. Para combater a inflação o receituário é sempre amargo: elevação de juros, arrocho salarial, contenção de gastos do governo. Os efeitos colaterais são piores ainda, como recessão, perda de empregos e uma ainda maior apreciação da moeda local. Neste dilema entre o inseto e o inseticida, a equipe econômica tem que ter cuidado, pois a dose errada pode matar o paciente.
Fonte: www.correaneto.com.br