Sem categoria

Novo plano de austeridade leva Grécia a greve geral

Os serviços públicos estão paralisados na Grécia nesta quarta-feira (11), com centenas de milhares de funcionários públicos, portuários, professores e equipes de hospitais de braços cruzados para protestar contra as novas medidas de austeridades do governo grego.

- Reprodução

Por todo o país, escritórios de governos locais e da administração central estão fechados, hospitais e serviços de ambulância operam em serviço de emergência e escolas e universidades estão paralisadas por todo o dia. Os serviços de transporte também têm problemas, com a suspensão na operação de balsas e trens. O transporte público no entorno da Atenas opera com frota reduzida e os voos eram afetados por uma paralisação de quatro horas dos controladores de voos.

Imprensa também parou

Jornalistas também estão parados, não há nenhum programa noticioso no rádio e na televisão. Eles protestam contra a onda de demissões, redução de salários e fechamento de veículos de imprensa.

A greve é a segunda convocada neste ano pelas duas maiores centrais sindicais do país. Ela ocorre dias antes de o governo apresentar ao Parlamento novas medidas no total de 29 bilhões de euros, prevendo cortes no orçamento e aumentos de impostos para redução do déficit público nos próximos cinco anos.

A greve ocorre em um ambiente de extrema tensão pelos crescentes comentários de que o país terá que recorrer a um novo pacote de ajuda externa que pode chegar a 76 milhões de euros até 2015.

"Essas políticas neoliberais e bárbaras, que levam os trabalhadores e a sociedade à pobreza para o benefício dos credores e banqueiros, estão nos levando de volta ao século passado", afirmou a central sindical do setor público ADEDY em comunicado. "Elas não podem ser aprovadas!"

Herança maldita

Em maio do ano passado, a Grécia escapou por pouco de um default com a ajuda de um pacote de 110 bilhões de euros da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca, Atenas se comprometeu com medidas para reduzir seu déficit e reformar sua economia. Desde então, o país cortou seu déficit em cerca de um terço, ou 10,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, enquanto as novas medidas – que devem ser apresentadas na segunda-feira – pretendem reduzir o déficit para abaixo de 1% do PIB até 2015.
Uma equipe de analistas da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) está em Atenas para inspecionar as medidas de economia iniciadas pelo governo grego e decidir o pagamento dos 15 bilhões de euros do quinto lance do empréstimo.

Por este motivo, as medidas incluem um corte de 15,6 bilhões de euros em gastos e outros 10 bilhões de euros em novos impostos. A maior parte do corte de gastos viria da redução dos salários no setor público, de cortes nos gastos de operação em empresas estatais e na
redução dos gastos com defesa e saúde.

Para Héléni Boubouna, de 42 anos, militante de esquerda que trabalha no setor privado, a ajuda concedida pela UE e pelo FMI levou o país a "um colapso". "Dos 110 bilhões de euros, nada foi investido nas necessidades do povo. A nós só restou pagar os juros da dívida", acusou. "Não à dilapidação", traziam algumas faixas carregadas pelos manifestantes, criticando o programa de privatizações que prevê a abertura do capital dos grandes grupos estatais (eletricidade e água, entre outros) para reduzir a dívida que já bateu os 340 bilhões de euros e deve representar cerca de 152% do PIB no final do ano. "Se fosse para o benefício do Estado, estaríamos dispostos a estas concessões, mas tudo será vendido para reembolsar nossos credores", lamentou Tassoula Carabina, 48 anos, funcionária do grupo elétrico DEI-PPC.

Os trabalhadores do setor público, como professores, funcionários locais do governo e trabalhadores de estatais, arcam com o maior custo nessas reformas até agora. Em alguns casos, já sofreram com cortes de até 25% de seus vencimentos, além de perder benefícios.
As medidas tomadas até agora também pesaram bastante na já enfraquecida economia grega, agora entrando no terceiro ano de recessão, após encolher 4,5% no ano passado – resultado pior que o esperado – e com apenas uma expectativa de recuperação modesta em 2011.

Pesquisa

Surpreendentemente, agências informam que pesquisa recente mostra que o governo Socialista tem apoio de boa parte da população para essas reformas, ainda que uma segunda pesquisa tenha mostrado que muitos gregos pensam que Atenas deve renegociar os termos do pacote de ajuda recebido.

O jornal Ethnos publicou pesquisa neste mês segundo a qual 67,7% dos gregos pensam que o governo deve prosseguir com as reformas econômicas. Já 63,7% concordam com a necessidade de privatizações e outras medidas para conseguir dinheiro para o orçamento. Em outra questão, 59,7% afirmaram apoiar o fim da estabilidade para os funcionários públicos.

Porém outra pesquisa, da emissora de televisão privada Mega, mostrou nesta semana que 60,3% dos gregos querem uma renegociação no socorro financeiro ao país. Para 26% dos consultados nessa sondagem, a Grécia deve desistir dessa ajuda e abandonar o euro como sua moeda.

Da redação, com agências