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Ângelo Alves: Bloco de Elástico

“Esquerda de confiança” era o lema que se podia ler no cenário de fundo verde da 7ª Convenção do Bloco de Esquerda que, à parte da eleição da sua Mesa Nacional foi, no essencial, marcada pela discussão da estratégia eleitoral e pelo lançamento do discurso de campanha do BE e das ideias centrais do seu programa eleitoral.

Por Ângelo Alves*

Mas, apesar dos titânicos esforços do núcleo dirigente para minimizar danos em período pré-eleitoral, esta Convenção não conseguiu esconder as profundas contradições, indefinições e conflitos que caracterizam a sua vida interna e o seu posicionamento político, e que põem a nu as suas incongruências, o seu oportunismo e crescente falta de credibilidade.

No meio das altercações entre a Ruptura/FER e a corrente social-democrata, a convenção do BE lembrou-nos a fase da adolescência. Desde logo pela ziguezagueante hesitação de Louçã sobre o que é o seu “governo de esquerda” afirmando na sexta-feira que este incluía o PS, mas sem Sócrates! e no domingo voltando com meia palavra atrás, não deixando contudo de atirar com a “riquíssima” fórmula de que o tal “governo de esquerda” é um governo que “recusa a bancarrota”, defende o emprego e uma “economia de decência”. Um adolescente indeciso dos seus primeiros amores não faria melhor.

Ao ouvir os principais dirigentes do BE lembramo-nos de um jogo muito popular entre os adolescentes: o jogo das palavras proibidas. E nesta Convenção elas foram: balanço crítico; Manuel Alegre; ataque à Líbia, ajuda à Grécia, Moção de Censura…

Mas compreendemos que assim tenha de ser num partido onde um dos seus deputados europeus diz que é um mero “eleitor” desse partido; onde uma das suas destacadas dirigentes afirma com grande entusiasmo que o Bloco não tem uma ideologia; ou ainda onde um dos seus deputados e destacado dirigente assina um manifesto para a criação de um “movimento social mundial”, “pela regulação democrática e solidária do capitalismo”.

Foi só pena não vermos Daniel Oliveira e Joana Amaral Dias a jogar ao elástico… o jogo mais indicado para um partido que estica e encolhe a “esquerda grande” à medida das conveniências e das tricas internas e que encolhe cada vez mais a “confiança” que teima em pôr à direita da palavra “esquerda”.

*Membro da Comissão Política e do Comitê Central do PCP
Fonte: jornal “Avante!”